Sete coisas que aprendemos na primeira chegada em alto da Vuelta
O que parecia ser uma chegada em alto inofensiva revelou-se engraçada. Este foi só o primeiro assalto.
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Quem consegue seguir a locomotiva de Evenepoel?
Esta exibição não esclarece as dúvidas sobre o prodígio belga, afinal ninguém duvidava da sua incrível qualidade. As dúvidas existiam sim quanto à capacidade de se manter com os melhores todos os dias, durante três semanas, e esse capítulo ainda está por ser revelado.
Mas a verdade é que esta exibição foi demolidora. Agarrou no grupo quando ainda era comprido e reduziu-o a ritmo: num primeiro momento a cinco elementos e depois disso a apenas a dois quando Sivakov, Yates e Roglič cederam e apenas Enric Mas conseguiu seguir na sua roda. Evenepoel assumiu as despesas integrais da subida e correspondeu ao grande trabalho da Quick-Step Alpha Vinyl (chapeau ao campeão do mundo que deu uma lição de humildade e de qualidade hoje) ganhando 1:22 minutos sobre todos os favoritos à excepção de Mas e estreia-se a liderar uma grande volta.
Quem és tu e o que fizeste ao Enric Mas?
Não é a primeira vez que o espanhol aparece a um nível superior na sua grande volta do que aquilo que exibe no resto da temporada. Mas com uma startlist desta qualidade e um Tour para esquecer nada parecia indicar que se encontraria a este nível na Vuelta. Já na etapa 4 tinha surpreendido ao fazer pódio numa chegada que não assentava nas suas características e hoje foi o único que conseguiu seguir um endiabrado Evenepoel. É verdade que sem nunca passar pela frente — nas suas palavras por pura incapacidade — mas a esperança da Movistar na luta pela manutenção no World Tour respondeu presente quando foi chamado e começa a construir uma vantagem que lhe pode permitir sonhar com um pódio mesmo com o longo contrarrelógio que tem pela frente. E, já agora, se pelo caminho conseguir limpar um pouco a face da sofrível época que a equipa espanhola está a realizar, tanto melhor.
Quando o mundo virtual e a realidade se encontram
Já sabíamos que Jay Vine tinha muita qualidade enquanto trepador, desde que foi encontrado no Zwift e se dedicou à estrada tem feito questão de o demonstrar. Mas hoje foi o dia da sua afirmação, a primeira vitória da sua carreira e logo em grande estilo.
Atacou junto com dois corredores no início da subida final quando o ritmo da Quick-Step Alpha Vinyl era confortável, deixou-os para trás e nunca mais ninguém o viu, resistindo por muitos quilómetros com apenas 20 segundos de avanço para Evenepoel que o perseguia.Sai do grupo dos favoritos na subida final e deixa trepadores de créditos firmados como Roglič e Yates a mais de minuto e meio.
Que maneira de se estrear a vencer e de se apresentar aos mais distraídos.
Já devíamos ter aprendido que a idade não passa de um número
19 anos. E então? Juan Ayuso brilha de forma incontestável entre os grandes, ataca-os com a irreverência própria da juventude e as pernas próprias de um talento geracional.
Um miúdo que se estreia em grandes voltas e se vê na roda do tricampeão poderia dar-se por satisfeito, mas Ayuso achava que tinha mais no tanque, atacou e ganhou mais de 40 segundos ao grupo do esloveno e restantes favoritos, só perdendo para os homens acima referidos. Havia dúvidas sobre a sua capacidade na alta montanha, parecem desfeitas. Agora restam as dúvidas sobre se já estará pronto para aguentar as três semanas a um nível semelhante a este. Comprou com esta exibição o direito a fazer a sua corrida sem se preocupar com João Almeida, pelo menos até ter o seu dia mau, se o tiver. Estando ou não já pronto para estas lutas, os fãs espanhóis podem estar descansados, porque a hora desta força da natureza espanhola chegará rapidamente. E perdurará por muitos anos.
Não é o super Roglic de terça-feira, mas o tricampeão está vivo
Não eram necessárias mais demonstrações da coragem e da resiliência do esloveno, mas hoje fez questão de evidenciar mais uma vez as suas qualidades. Percebendo que não tinha pernas para seguir com Remco e Mas, deixou-se ficar, não se escondeu, deu o peito ao vento, rebocou o grupo inteiro e minimizou as perdas — de tal modo que algo que chegou a parecer dar ares de um desastre, não se confirmou. Está neste momento a um minuto na geral para Evenepoel.
Não está tão bem como se pode ter pensado depois da vitória de anteontem, mas Roglič foi Roglič e está na luta. A tendência será para apurar a forma à medida que a corrida vá avançando e mais para a frente terá as suas oportunidades de reaver o tempo perdido hoje.
Há menos um galo para o poleiro e Carapaz sairá da Ineos sem o sucesso desejado
Tínhamos dito que os INEOS-Grenadiers antes de lutarem com os adversários tinham de lutar pelo seu lugar na apertada hierarquia interna. Carapaz partia à frente pelo currículo mas debilitado pela já anunciada saída no fim da época. Deu más indicações na terça-feira e hoje confirmou-as, perdendo 1:20 minutos para os seus colegas de equipa Sivakov, Carlitos e Tao. A luta dentro da INEOS-Grenadiers continuará: tem três cartas no top 10 e o campeão olímpico será remetido a um papel de trabalho, que se realizar com brio ficar-lhe-á muito bem.
Temos tudo para ter uma corrida emocionante até final
Um líder inexperiente, um campeoníssimo à procura do póquer, um homem que carrega as esperanças de uma nação sedenta às costas e três blocos com múltiplas flechas apontadas à liderança.
Estão reunidos os ingredientes para uma luta aberta e imprevisível pela roja até final.
Remco aguentará? Roglič fará mais um comeback histórico? É desta que Mas voltará a fazer nuestros hermanos sorrir? Ou conseguirão UAE-Emirates, Bora-Hansgrohe e INEOS-Grenadiers fazer uso dos números para atacar a corrida e pôr os favoritos atualmente melhor classificados em cheque?
Esta prova conta com oito chegadas em alto, esta foi só a primeira e já tivemos o espectáculo que se viu, abrindo ainda mais o apetite para o que aí vem.
Como sempre, a Vuelta não desilude.
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