Israel - Premier Tech: uma equipa entusiasmante
A aposta na juventude é a aposta certa.
![Israel - Premier Tech: uma equipa entusiasmante](/content/images/size/w1200/2024/03/sprintcyclingagency_0758633_1_2000px.jpg)
A primeira aparição de Derek Gee foi no dia 13 de Maio de 2023. Um corredor desconhecido de uma equipa que tinha chegado a Itália sem ambições cai do céu e é o segundo a cortar a meta em Fossombrone, apenas atrás de Ben Healy.
Até ao final do Giro o canadiano iria participar em mais cinco fugas, ficando sempre no top-4 e voltando a repetir o segundo lugar por mais três ocasiões. Terminou a prova na segunda posição nas disputas pela maglia ciclamino (camisola dos pontos) e pela maglia azzurra (camisola da montanha).
Estas exibições surpreendentes deram o mote e outros jovens da equipa, como Matteo Frigo, seguiram o exemplo e animaram as fugas dessa edição com a sua destreza e resiliência. Não conseguiram qualquer triunfo mas ganharam o respeito e a atenção dos fãs de ciclismo, que passaram a olhar para esta equipa de outra forma.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/QqWCQM7RRLUuZKLZQR8BzB.jpg)
O paradigma do ciclismo mundial mudou, os jovens perderam a vergonha e a equipa soube mudar a sua estratégia, que começa finalmente a dar frutos.
2020-2021 — Israel Start-Up Nation (WT): "Burro velho não aprende línguas"
A Israel - Premier Tech, liderada pelo finlandês Kjell Carlström, antigo corredor da Amore & Vita, Liquigas e Sky, foi fundada em 2014 e chegou ao World Tour em 2020, denominada como Israel Start-Up Nation. Nesse ano a equipa apostou as fichas nos veteranos Dan Martin e André Greipel e recrutou alguns corredores da recém-extinta Katusha mas a coisa não correu propriamente bem. Com apenas dez vitórias, duas no World Tour — Alex Dowsett no Giro e Dan Martin na Vuelta —, acabaram por fechar o ano como a pior equipa WT no ranking UCI. André "The Gorilla" Greipel não conquistou qualquer triunfo.
A luta pela manutenção no World Tour pedia resultados imediatos e para isso tomaram uma medida extraordinária: contratar o tetra-campeão da Volta à França, Chris Froome, que tinha sofrido uma grave lesão no Dauphiné, em 2019. Foi uma aposta cara, muito cara, arriscada a nível desportivo mas que, no pior cenário, traria muita visibilidade à equipa. Além do ex-INEOS, foram buscar dois trintões consagradados à EF, Michael Woods e Sep Vanmarcke, e Daryl Impey, que estava há nove anos na estrutura da Mitchelton-Scott.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/froome.jpg)
Quase duplicaram o número de vitórias — 17 no total. No World Tour conquistaram três etapas e tiveram um Giro de sonho: Alessandro De Marchi envergou a camisola rosa durante dois dias e Dan Martin triunfou na Sega di Ala, à frente do João Almeida. O irlandês reformou-se no final do ano, tal como Greipel, que se despediu com duas vitórias. Desportivamente a aposta em Froomey foi um autêntico fiasco — não fez um único top-20 em 70 dias de competição.
2022 — Israel - Premier Tech (WT): "Depressa e bem, não há quem"
As aposentações de Dan Martin e André Greipel libertaram budget e a equipa foi forçada a investir assertivamente para sonhar com a permanência no WT.
Giacomo Nizzolo foi o corredor escolhido para ser a nova figura da equipa nos sprints. O italiano tinha feito uma temporada muito positiva na Qhubeka, com destaque para o triunfo no Giro e o segundo lugar na Gent-Wevelgem, além de duas vitórias em clássicas espanholas. A temporada não correu de feição e falhou o grande objetivo que era repetir o sucesso do Giro 2021. Conseguiu apenas uma vitória, na reputada Vuelta a Castilla y Leon…
Já para "substituir" Dan Martin foram buscar Jakob Fuglsang, que tinha estado nove anos na Astana, no ano anterior patrocinada pela Premier Tech. O bi-campeão de Monumentos — Liège-Bastogne-Liège em 2019 e Il Lombardia em 2020 — chegou à IPT já numa fase descendente da carreira e acabou por não conseguir impacto. O único momento de requinte foi no 1-2 com Michael Woods no Mercan'Tour Classic Alpes-Maritimes.
Simon Clarke e Hugo Houle foram outras duas contratações da equipa, que aqui acertou na mouche: estes dois iriam brilhar no maior palco do ciclismo mundial, a Volta à França. O veterano australiano conquistou uma das etapas mais aguardadas dessa edição, a etapa do pavé em Arenberg; e o canadiano foi o primeiro a cortar a meta na etapa 19, em Foix. Foi realmente uma edição de sonho para a equipa, que ainda somou mais alguns pódios em etapas, com destaque para o terceiro lugar de Chris Froome no Alpe d'Huez, naquela que foi, de longe, a melhor prestação do britânico com a camisola da Israel.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/Hugo-Houle.jpeg)
Em Agosto contrataram Dylan Teuns à Bahrain para um último forcing com o objetivo de não se afundarem ainda mais nas profundezas do ranking UCI mas nem o belga nem os colegas conseguiram o milagre da manutenção, fechando a temporada com 15 vitórias, quatro delas em provas WT.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/3500.webp)
2023 — Israel - Premier Tech (PRT): "Quem faz o que pode, a mais não é obrigado"
Relegados à categoria Pro Continental e ainda reféns do mega-contrato de Froome — que só terminará no final de 2025 —, os patrocínios diminuem e são obrigados a reduzir despesas. Isso nota-se na política de contratações, antes viradas para o sucesso a curto prazo e agora olhando para o médio/longo prazo. Têm três anos para mostrar que merecem regressar ao World Tour.
Foram buscar dois corredores atacantes que estavam tapados nas suas anteriores equipas: Stephen Williams (ex-Bahrain) e Nick Schultz (ex-Jayco). O primeiro viria a conquistar a Arctic Race of Norway e o segundo acabaria por ter uma temporada discreta. O veterano Domenico Pozzovivo estava na free agency em Março e a IPT foi buscá-lo, oferecendo um contrato até ao final do ano. Acabou por fazer uma época muito consistente mas falhando o maior objetivo da temporada: o top-10 no Giro — seria o seu oitavo. Além destes três nomes, promoveram três jovens da Israel Cycling Academy: Derek Gee, Marco Frigo e Mason Hollyman — este último tinha vencido uma etapa na Volta a Portugal em 2021.
Os dois primeiros foram protagonistas num Giro entusiasmante por parte desta equipa, que até então tinha tido uma temporada sem nenhum destaque, tirando o triunfo de Nizzolo na mítica Tro-Bro Léon. O canadiano, completamente desconhecido até à data, é a revelação da prova, com a tal prestação surpreendente referida no início deste texto. Acabaria por receber o prémio da combatividade. Já o italiano, fazia a sua estreia numa prova WT e chegaria a Roma com três top-6, incluindo um pódio na etapa 15, batido na meta por Brandon McNulty e Ben Healy. O miúdo australiano Sebastian Berwick, agora na Caja Rural, fechou pódio na etapa 12, e o jovem trepador americano Matthew Riccitello, mostrou-se na cronoescalada final, no Monte Lussari — mais tarde viria a vencer a cronoescalada do Tour de l'Avenir e envergar a camisola amarela até à última etapa onde acabaria por vacilar e sair do pódio, atrás de Del Toro, Pellizzari e Piganzoli. Em suma, foi uma Volta à Itália muito positiva apesar de não terem conquistado nenhuma vitória em etapas.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/Derek-Marco-1528x795.jpg)
O ponto alto da temporada acabaria por ser a vitória de Michael Woods no Puy de Dôme, naquela que seria a terceira vitória da equipa nas últimas duas edições. Este Tour ficou marcado pela ausência de Chris Froome na equipa selecionada — completamente justa, diga-se. Até ao final da temporada ainda conseguiriam alguns resultados interessantes com os jovens da equipa: Strong triunfa na primeira etapa na Volta ao Luxemburgo; Berwick vence a segunda etapa da Volta à Hainan e termina em segundo na geral; e o ainda estagiário Riley Sheehan surpreende e vence na já centenária Paris-Tours.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/Michael-Woods-Tour-de-France-2023-victory-stage-9-1528x795.jpg)
Apesar das escassas 12 vitórias e apenas uma delas no WT, a equipa terminou o ano como a segunda melhor equipa da categoria Pro Continental, atrás da Lotto Dstny, e à frente de quatro equipas World Tour.
2024 — Israel - Premier Tech (PRT): "Grão a grão, enche a galinha o papo"
Esta é uma nova Israel e isso nota-se claramente no mercado de transferências focado na aposta em jovens, consolidada com o recrutamento de veteranos a quem, acima de resultados imediatos, se exige tutoria para os mais novos. Em sentido contrário, deixaram sair os dois veteranos italianos Nizzolo e Pozzovivo. Sep Vanmarcke e Daryl Impey, terminaram as carreiras mas continuam na estrutura da IPT, agora como membros do staff técnico.
A maior aposta da equipa é no jovem sprinter e especialista em pista Ethan Vernon, ex-Quick Step, que triunfou por cinco vezes em 2023. O britânico já picou o ponto com as cores da IPT, logo na sua estreia. Para ajudar no comboio do britânico foram buscar o alemão Pascal Ackermann à UAE Emirates. O ex-sprinter nunca conseguiu igualar o rendimento mostrado nos seus tempos áureos, ainda na BORA, apesar de, ainda assim, ter conseguido vencer uma etapa na Volta à Itália na última temporada.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/IPT_Girona_camp_010-2048x1365.jpg)
O regresso do classicómano francês Hugo Hofstetter revela ambições para a temporada de clássicas — contem com ele para muitos top-10 e respetivos pontos UCI —, e foram buscar o britânico Jake Stewart de 24 anos, ex-Groupama, corredor completo com uma ponta final muito forte e que tanto consegue disputar sprints massivos como sprints reduzidos em provas mais durinhas. Vamos ver se conseguem lapidar este diamante que não teve um 2023 feliz.
Da Israel Premier Tech Academy promoveram três talentos: os israelitas Oded Kogut — sprinter que já soma quatro triunfos em 2024, dois no Ruanda e dois no Taiwan — e Nadav Raisberg — jovem puncheur que já acumula quilómetros com a equipa principal desde 2023 —; e Riley Pickrell, sprinter canadiano que venceu uma etapa no Tour de l'Avenir em 2023 e este ano fez pódio na primeira etapa do Tour de la Provence, atrás de Mads Pedersen e Axel Zingle.
O ano começou da melhor forma, com um Tour Down Under de sonho para o conjunto israelita, apesar do abandono precoce de Corbin Strong, o protegido da equipa a par de Stephen Williams. O neozelandes foi segundo na segunda etapa — à frente do colega britânico, que foi terceiro —, antes de ser forçado a abandonar na etapa 5, enquanto seguia em terceiro na GC. Stephen Williams continuaria a dar sequência à boa prova e assumiria a liderança após a etapa do Willunga Hill, em que foi segundo, atrás de Oscar Onley. A machadada final foi dada na última etapa, no Monte Lofty, quando conquista a etapa e confirma de forma imperial a vitória final. Uns dia depois, Corbin Strong faria quarto na Cadel Evans Great Ocean Road Race.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/blog-tdu-st6-win-hero-update.png)
O regresso à europa também não começou mal, com duas vitórias em França: Tom Asbroeck bateu Sam Bennett e Axel Zingle na última etapa do Tour de la Provence — com o colega Hugo Hofstetter a ficar em quarto; Ethan Vernon vence na primeira etapa da Volta aos Alpes Marítimos. Depois seguem-se expedições bem sucedidas por África e pela Ásia, com os triunfos de Joseph Blackmore no Volta ao Ruanda e na Volta ao Taiwan, nos quais a equipa totalizou sete vitórias em etapas. Na Danilith Nokere Koerse, a equipa conseguiu meter três corredores no top-10: Ackermann (quarto), Van Asbroeck (sexto) e Hofstetter (nono), o que são bons sinais para o que aí vem nesta temporada de clássicas primaveris.
E não foi preciso muito mais para conseguirem chegar ao terceiro triunfo no World Tour: o late attack de Nick Schultz na primeira etapa da Volta à Catalunha surpreendeu tudo e todos e nem Tadej Pogačar conseguiu apanhar o australiano. Williams fecharia o pódio nessa etapa. O britânico ainda iria dar espetáculo na última etapa, na subita ao Alt del Castell de Montjuic, terminando em quarto nessa tirada.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/schultz_catalunya-2.jpeg)
São já 14 vitórias — três no WT — e ainda não chegámos a Abril. É um crescimento exponencial deste bloco rejuvenescido que tem demonstrado uma atitude muito positiva neste início de 2024. Em termos do ranking UCI anual já estão às portas do top-10 e nas contas do triénio 2023-2025 situam-se em 16.º.
Não espero qualquer vitória nas provas mais importantes da temporada de clássicas mas a equipa tem capacidade para fazer bons resultados e somar pontos UCI em Flandres com Hofstetter e Van Asbroeck, e nas Ardenas o trio Woods, Teuns & Williams dá garantias.
No que toca às grandes voltas, os objetivos são os mesmos dos anos anteriores: caçar etapas. A expectativa para o Giro é que Ethan Vernon consiga vencer pelo menos um sprint enquanto que Woods, Frigo e Jake Stewart deverão ser os nomes mais ativos nas fugas. Para o Tour vão ser escolhidos os corredores em melhor forma pelo que dúvido que Chris Froome regresse à La Grande Boucle.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/IPT_Girona_camp_004-2048x1365.jpg)
Continuando com esta estratégia de amealhar pontos em corridas continentais, acredito que a equipa vai chegar às 30 vitórias, quiçá duplicar os 17 sucessos de 2021. O meu hot take é que vão conquistar, pelo menos, uma etapa em cada uma das três grandes voltas, uma delas com Corbin Strong, que também vai conquistar uma clássica de nível World Tour em 2024.
2024 — Israel Premier Tech Academy (CT): "É de pequenino que se torce o pepino"
A academia da IPT também conta com alguns jovens que irão dar cartas no futuro, não tenho dúvidas. O destaque é o britânico Joseph Blackmore que este ano, em representação da equipa sénior, conquistou o fabuloso Volta ao Ruanda — com duas vitórias em etapas — e o oriental Volta ao Taiwan. O diretor desportivo da equipa nestas duas corridas foi Rubén Plaza, que correu em Portugal entre 2008 e 2009, pelo Benfica e pela Liberty Seguros, vencendo duas etapas na Volta a Portugal, e que teve como ponto alto da sua carreira a temporada de 2015, quando venceu uma etapa no Tour e outra na Vuelta, ao serviço da Lampre - Merida.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/IPT_Rwanda_Blackmore_attack-2048x1365.jpg)
Moritz Kretschy, atual campeão alemão de sub-23 de estrada e de contrarrelógio, foi sexto no último mundial da categoria, em Glasgow, já estreou pela equipa principal este ano — nono na Volta ao Ruanda e 100.º na Milano-Torino. O neozelandês Kiaan Watts — já venceu este ano na New Zealand Cycle Classic — e o Floris Van Tricht — cinco vitórias em 2023, em corridas não oficiais — foram recrutados este ano. São dois corredores de 22 anos que têm inúmeros bons resultados, principalmente em clássicas de sub-23 na Bélgica. O belga é um dos únicos cinco ciclistas que têm contrato com a IPT para 2026, dado que comprova as expectativas elevadas que a equipa deposita nele. Alvaro Garcia, campeão espanhol de juniores, também foi recrutado pela academia da IPT.
Daniel Lima é o primeiro e único português a passar pela Israel. Este ano participou na Volta ao Taiwan, finalizando em 28.º, tendo sido quinto na segunda etapa, conquistada pelo colega Mason Hollyman.
![](https://www.falsoplano.pt/content/images/2024/03/IPT_Academy_camp_009-2048x1365.jpg)