Antevisão Etapa 1 — Tour de France

Isto não é uma ameaça, é um conselho de amigo: se vocês replicam a pasmaceira do Giro vamos ter problemas.

Antevisão Etapa 1 — Tour de France
Tour de France

Introdução

Há muito tempo que uma primeira etapa de uma prova de três semanas não era tão interessante. O País Basco faz de anfitrião das três primeiras etapas do Tour 2023 e isso é o melhor que todos podíamos pedir. Uma região do mundo que transpira ciclismo, com montanhas exigentes, paisagens lindas e comes e bebes do melhor. Nesta primeira tirada tudo parece estar fixado no Côte de Pike, última montanha do dia se não contarmos com a chegada. E como a fotografia abaixo comprova… Não parece coisa pouca. Quem vai ser o primeiro camisola amarela? Pois é.

Pouco duro, certo? (foto: Twitter Marco Bardella)

O percurso

Um pouco mais do que 180 quilómetros entre Bilbau e Bilbau. Uma clássica de sobe e desce, um desenho bem ao estilo do País Basco, com os últimos 30/40 quilómetros a prometerem espectáculo.

Bilbao - Bilbao (182km)

O Cotê de Pike, uma pequena montanha que agora se agiganta — pensemos em quantas pessoas lá estão, quantas vezes por minuto se diz agora o seu nome? — está situado a dez quilómetros da chegada. São dois quilómetros a 9.4% e já toda a gente o comparou ao Mur de Huy, célebre monte onde termina a Flèche Wallonne. E aqui repete-se a tradição: é caso para dizer Huy, Huy. O último quilómetro está acima de 13% e isso, meus estimados leitores, é muita fruta.

Pogačar: "Adeus e até amanhã"

Mas não é só o Pike. O Côte de Vivero está situado a cerca de 30 quilómetros da meta e pode muito bem ter uma a palavra a dizer na decisão da etapa. É uma subida exigente, ainda que não super dura: 7% durante quatro quilómetros não é coisa de se atirar pela janela.

Côte de Vivero (2ª cat: 4.3km @ 6.8%)

O que esperar

Ora pois bem. É uma etapa que serve o perfil de muita gente. Dá para puncheurs em boa forma, como dá para homens da geral. E isso é muita gente nesta startlist recheada de talento da Volta à França. Homens que aqui queiram a amarela, que pode seguir no seu corpo até à quinta etapa (chegada a Laruns, com montanhas mais a sério), têm de mexer cedo. Falo, obviamente, de corredores cujos intuitos para a classificação geral não são a longo prazo, classicómanos como Wout van Aert, Mathieu van der Poel, Pidcock ou Alaphillipe, mas sobretudo os dois primeiros, porque se esperarem em demasia, se aguardarem pelo Pike para tentar sair, podem ter azar. As pendentes no Pike são altíssimas e eu ficiaria pasmado se Pogačar não tentasse a sua sorte — é essa a sua forma de correr: vê problemas, ele corre para os problemas. Ora essa movimentação do esloveno pode ditar o fim da maioria das tentativas isoladas no Pike: é preciso estar em muito boa forma para conseguir seguir com Pogačar e com Vingegaard.

Daí, que o Vivero possa ser uma boa hipótese. Sair com força, dilatar vantagem e fazer com esta seja suficiente para passar o Pike e discutir a vitória. Ninguém garante que assim seja — até porque de homens como Van der Poel é preciso esperar tudo —, mas essa seria a forma mais óbvio de tais corredores atacarem a tão desejada primeira amarela do Tour.

Outra hipótese é, claro, Pogačar querer a amarela. Acho que é seguro dizer que nenhuma movimentação da classificação geral acontece antes do Pike — a não ser que um doidivanas qualquer saia no Vivero para vestir de amarelo; mas eu diria que mais vale ser prudente porque três semanas é muito tempo — e aí vamos ter disputa na geral. Van der Poel e Van Aert dificilmente seguirão a este ritmo e vejamos se mais alguém consegue seguir os dois maiores candidatos. O que espero que não aconteça é ninguém da geral mexer. Isto do ponto de vista do espectador que quer espectáculo, claro.

Favoritos

Tadej Pogačar — Eu acho que vai para ele. O Côte de Pike é muito duro para gente mais rápida e o esloveno só sabe atacar. É isso que espero. Sai no Pike e mesmo que haja gente na frente, vai ser apanhada. Se isso chega até à meta? Acho que pode perfeitamente chegar.

Mathieu van der Poel — O neerlandês é capaz de tudo e mais alguma coisa — lembram-se da sua prestação no Giro de 2022? A subir montanhas duríssimas? Pois. E apontou o seu Pike de forma para aqui. Portanto, embora ache que aquilo é demasiado duro, já não digo nada.

Wout van Aert — Já disse que vem trabalhar para o seu líder. Mas este é uma oportunidade rara. Em boa forma, acho que pode passar o Pike.

A não perder de vista

Pello Bilbao — Nada como ganhar em casa. O corredor espanhol tem ponta final, sobe bem, conhece estas estradas como poucos… Era bonito.

Tom Pidcock — Ele quer, eu sei que ele quer. Em que momento de forma está o sôtor Pidcock? É que a temporada começou cedo, houve um pico pela altura da Strade Bianche e agora? Há pernas para seguir com os melhores? Tentará a INEOS controlar os últimos 30 quilómetros para deixar o britânico na roda certa?

Mattias Skjelmose — As pendentes do Pike podem ser demasiado duras para o dinamarquês, mas a forma é boa e tem ponta final. Vai depender da situação de corrida.

Richard Carapaz — Não acredito que ele esteja assim tão mal. E sabemos que a sua explosividade é boa este tipo de terrenos.

Giulio Ciccone — Parece ter recuperado a boa forma. Adora grandes pendentes e tem sprint para disputar uma eventual vitória saída de um grupo reduzido.

Apostas falso plano

Fábio Babau — Mathieu van der Poel. Estou na lama.

Henrique Augusto — Pogačar. Hoje e sempre. Também nunca vi ninguém pedalar com os pulsos.

Lourenço Graça — Wout contar uma história. Van Aert de amarelo.

Miguel Branco — Tadej Pogačar. Embora, enfim, acho que ele podia deixar um bocadinho para os outros.

Miguel Pratas — Pogačar. Só com uma mão no guiador.

Ricardo Pereira — O bicho Mathieu van der Poel.

Sondagem falso plano