Cycling Fantasy — Tour de France
O que é que eu posso dizer-vos? Façam o que fizerem, o mais provável é que se arrependam. É por isso que a Cycling Fantasy é um barómetro tão acertado para a vida: gostamos muito disto, mas faz-nos muito mal.
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Análise ao percurso: ver Antevisão — Tour de France.
Pequena grande nota introdutória ao nível da estratégia
Pequenos, a vida faz-se de escolhas. Um rissol de leitão ou uma bola de berlim? Inspector Max ou Rex, o Cão Polícia? José Rodrigues dos Santos ou Rodrigo Guedes de Carvalho? Aquela vez em que não tínhamos dinheiro ou tínhamos de ficar a tomar conta do cão e por isso não fomos e o nosso grupo de amigos viveu a noite das suas vidas já não volta. Fazer equipa para a Cycling Fantasy tem importância semelhante, sobretudo para a Volta a França.
Vingegaard e Pogačar são obrigatórios, ponto final — se quiserem ser alternativos, força, mas depois não venham chorar. E o percurso de 2023 dá-nos umas possíveis sete chegadas ao sprint, ou seja, problemas, porque precisamos de ter opções válidas nesse sentido e todos sabemos como são caras; e como levar sprinters em grandes voltas pode bem ser um precipício para o arrependimento. Philipsen é difícil de encaixar. Jakobsen é caro e não vai discutir todas as etapas ao sprint. Groenewegen é caro e não vai discutir todas as etapas ao sprint — o comboio é fraco, embora leve Mezgec. Wout van Aert tem mais do que fazer — trabalhar para Vingegaard e possivelmente a paternidade. Mads Pedersen é caro, muito caro. Então o quê, se calhar mais vale levar alguém para a geral? Pois, talvez. Ou levar um Mathieu Van der Poel a 1000 ou um Girmay a 800, que dão garantias de chegada em etapas algo acidentadas mas disputadas ao sprint em grupos mais reduzidos. Ou então desistir de tudo e juntar Jasper Philipsen a Vingegaard e Pogačar, rezando para que nenhum tropeção aconteça. Ou ainda: levar Vingegaard, Pogačar e uma mão cheia de caça-etapas? Sabe Deus, não é verdade?
O que é que eu posso dizer-vos? Façam o que fizerem, o mais provável é que se arrependam. É por isso que a Cycling Fantasy é um barómetro tão acertado para a vida: gostamos muito disto, mas faz-nos muito mal.
[Este texto tem inspirações na obra de Gustavo Santos.]
Shortlist falso plano
1200:
- Tadej Pogačar — Vem de lesão, é verdade. Mas Pogačar é Pogačar, ataca todas as bonificações, sprints intermédios, só não ganha o mais combativo porque talvez não desse bom resultado. O único cenário em que faz sentido não levar o esloveno é se souberem que ele vai desistir por algum infortúnio. E se souberem avisem, por favor.
- Jonas Vingegaard — Sabemos que é um corredor menos versátil e talvez menos louco que o seu concorrente directo, mas o vencedor de 2022 é um evidente candidato. Pode acabar por vencer e pontuar menos do que Pogačar mas dificilmente não rende os 1200.
- Jasper Philipsen — Aqui começam as complicações. Se o orçamento fosse infinito, ninguém ousaria deixar o melhor sprinter em prova fora da sua equipa. O problema é levar três corredores de 1200 e depois ficar com meio papo seco e uma fatia de flamengo para o resto do roster. Se acham que ele ganha cinco ou seis etapas se calhar é de levar.
- Wout van Aert — Diz-se que não vai lutar pela verde. Que tem de trabalhar para o líder. E que o facto de poder ser pai durante o Tour pode fazer com que abandone a prova. Mais um bluff da Jumbo? Se for preciso a sua esposa anda com uma almofada debaixo da camisola.
- Mads Pedersen — Não dá. Se gastar 1200 num homem rápido é em Philipsen. Embora, claro, Pedersen é sinónimo de luta pela classificação dos pontos, isso é certo.
1000:
- Mathieu Van der Poel — Possível tesouro. O neerlandês é daqueles corredores de quem podemos esperar quase tudo — claro que não vai ganhar nem fechar top-10, calma. Mas ganhar a primeira etapa não me parece impossível — ainda que tenha de ultrapassar dois quilómetros a 9.6%. Independentemente disso, se está aqui e na forma em que está é porque vem para fazer estragos. Vai vencer uma etapa na primeira semana, digo eu — e outra mais à frente. E vai lançar Philipsen em muitas etapas, ou seja, também daí podem vir pontos. É uma opção bastante apetitosa. E cara também.
- Fabio Jakobsen — A Quick-Step meteu a carne toda no assador para Jakobsen. Não digo que não mereça a oportunidade, mas já por várias vezes o sprinter neerlandês desiludiu nos maiores momentos. E já sabemos que assim que a estrada inclina meio mílimetro ele treme. Sabemos nós e todos os seus adversários. Ainda assim, claro, há pelo menos cinco etapas onde Jakobsen pode vencer. Se o fizer várias vezes…
- Mattias Skjelmose — Eu não o posso levar. Sou demasiado próximo. Mas quando ele limpar Vingegaard e Pogačar lembrem-se de mim.
800:
- Jai Hindley — O sonho da sua vida. Um tour com quase nenhum contrarrelógio e aquele que existe tem muita subida. Sei que não estamos em Itália, mas cuidadinho.
- Mikel Landa — Se este percurso fosse em Espanha... Sendo em França, tenho mais dificuldades em acreditar naquele Landa que sobe como poucos. Será possível chegar ao pódio que nunca conseguiu? (Dois quartos lugares, em 2020 e 2017). O seu Dauphiné não deu boas indicações.
- Biniam Girmay — É outro que pode ser joker. Não sei se será pouco escolhido, mas é certo que vai lutar pela verde, é o líder indiscutível da equipa e consegue disputar etapas que muitos sprinters não são.
- Dylan Groenewegen — Se for o melhor Groenewegen, cuidadinho. O problema é que temos melhores comboios e melhores lançadores do que ele tem.
- Ben O'Connor — O seu Dauphiné impressionou. E isso pode ser uma armadilha. Em teoria, o percurso é bom para ele, a equipa não é terrível e parece vir em boa forma. Mas sabemos como consegue ser irregular. Grande dúvida.
- Simon Yates — Vá lá, é o Simão, o que querem que diga? Se se desligar da geral é, logicamente, rapaz para somar vitórias e dar uns pontos valentes.
- Julian Alaphilippe — Fora de forma. Em aparente litígio com a equipa. Mas Loulou é Loulou e se arranca bem em Bilbau pode render.
- Giulio Ciccone — A Covid estragou-lhe o Giro quando vinha numa forma do cacete. Reapareceu em forma no Dauphiné, mas a presença e forma de Skjelmose podem tirar-lhe espaço.
600:
- Caleb Ewan — O australiano continua a desiludir ano após ano. Claro que é um corredor que sabe ganhar no Tour; já o fez por cinco vezes, ainda que a última tenha sido em 2020. O comboio não é mau e a 600 pode ser uma opção. Eu acho que não vou por aí, não gosto da sua irregularidade.
- Felix Gall — Se fosse mais barato… Mas a 600, ainda que esteja a subir a um nível impressionante, é capaz de ser demasiado arriscado.
- Neilson Powless — A presença de Carapaz na equipa é um factor. E isso pode ser dispendioso. Se assim não for… É um dos melhores caça-etapas presentes.
400:
- Alexey Lutsenko — Top-10 nas últimas duas edições. Coisa que pode não render assim tantos pontos, mas é obviamente uma das melhores opções a 400.
- Sam Welsford — Sprinter capaz de disputar etapas e a um preço acessível. Mas já sabem que não é de fiar. Vai na volta e não faz um top-20.
- Corbin Strong — Outra boa opção. Consegue passar dificuldades e pode sacar uns top-10.
- Maxim Van Gils — Grande temporada até ao momento. E já deu para perceber como gosta de sprintar em etapas mais atribuladas. Diria que tem tudo para ter uma primeira bela semana e uma série de oportunidades para partir em fuga nas últimas duas semanas de prova.
- Tobias Halland Johannessen — Por esta altura da sua carreira, achei que já teria um belo resultado numa grande volta. Não aconteceu e começa a parecer difícil que vá acontecer. O que não quer dizer que não seja um corredor com capacidade para andar bem na montanha e ganhar uma etapa.
- Valentin Madouas — Deixem jogar o Madouas. Ter de trabalhar para alguém que nunca vai ganhar o Tour não devia ser uma obrigação.
200
- Søren Wærenskjold — Vai ser o lançador de Kristoff e isso pode dar alguns pontos. Além disso, como a grande maioria da Uno-X, vai ter liberdade para ganhar etapas a partir da fuga. No seu caso que não tenham grande inclinação.
- Torstein Træen — É um trepador consistente, capaz de se intrometer — ou pelo menos tentar — no top-20 final. E como isto são três semanas também é menino para tentar ganhar a partir da fuga. No seu caso em etapas mais inclinadas.
- Lilian Calmejane — O ano passado o nosso colega Henrique Augusto disse que o Calmejane ia vencer uma etapa no Tour 2022 e foi gozado. Algo que não aconteceu. Só por isso, é melhor levá-lo.
- Lawson Craddock — Costuma andar na fuga a toda a hora em grandes voltas. E isso costuma originar uns top-10. Duvido que a Jayco o obrigue a trabalhar para Simon Yates e mesmo que obrigasse ele não seria grande ajuda. Mais vale mandá-lo para a frente e ver se pinga.
- Harold Tejada — Fez uma Volta à Suíça interessante, fechando no top-10 final. Sim, não é brilhante, mas vale 200.
- Nick Schultz — Tem um perfil semelhante ao Træen e está numa equipa que vem ao Tour vencer etapas.
- Pascal Eenkhoorn — A Lotto vem ao Tour com uma porrada de setas apontadas às fugas — quem diz Eenkhoorn diz Campenaerts ou Florian Vermeersch — e eu acho que este rapaz tem força e capacidade para vencer uma etapa a partir desse cenário.
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