Contra o relógio e contra o molho de tomate sem ervas
Mais um talento da Jumbo-Visma que devemos conhecer.
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Michel Hessmann, corredor alemão da Jumbo-Visma, está a ter um fantástico Tour de l’Avenir. Desculpa perfeita para o conhecermos melhor.
À data de publicação deste texto, Michel Hessmann, corredor alemão de 21 anos da Jumbo-Visma, é líder do Tour de l’Avenir. Chegou à amarela depois de um contrarrelógio por equipas que a Alemanhã venceu e que deixou alguma da concorrência a uma distância significativa: Gloag (25 segundos), Van Eetvelt (35 segundos), Lecerf (48 segundos), Leo Hayter (1:01), Cian Uijtdebroeks (1:16), Lenny Martinez (1:50). Vejamos por quanto tempo se aguenta na liderança da Volta a França do Futuro, sobretudo tendo em conta que entramos agora na zona mais dura do percurso da prova. Terá pernas para isso?
Em 2018, com 18 anos, foi quarto classificado no contrarrelógio dos campeonatos mundiais de juniores — apenas superado por Remco Evenepoel, Luke Plapp e Andrea Piccolo, mas superando nomes como Ilan Van Wilder, Kevin Vauquelin, Ben Healy ou Carlitos Rodríguez. Aliás, esses foram os mundiais inesquecíveis de Innsbruck, aqueles mundiais onde nos foi permitido testemunhar, em directo, o prodígio que já à data era Remco Evenepoel. Tudo para dizer que Michel Hessmann já lá andava.
No ano seguinte, em 2019, vence o Trophée Centre Morbihan — prova inserida na Taça das Nações de Juniores organizada pela UCI — onde às custas de um contrarrelógio individual de sete quilómetros foi capaz de superiorizar-se a corredores como Samuel Watson, Leo Hayter, Juan Ayuso, entre outros. É vice-campeão alemão de juniores em contrarrelógio e na prova de estrada — derrotado nas duas categorias por Marco Brenner. E ainda quinto classificado no contrarrelógio dos mundiais de juniores — nesse ano, em Harrogate, vencido por Antonio Tiberi.
2020, como todos sabemos, foi um ano triste para o mundo e para o ciclismo. Hessmann correu muito pouco, ainda que tenha conseguido ser sexto no contrarrelógio do Campeonato da Europa — categoria de sub-23 — que decorreram em Plouay, França, e foram vencidos por Andreas Leknessund. A tristeza foi atenuada pelo facto de ter assinado pela equipa de desenvolvimento da Jumbo-Visma, mostrando que havia quem estivesse bem atento ao seu trabalho.
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O ano passado, o corredor natural de Münster somou dois top10 nos europeus e mundiais de sub-23 em contrarrelógio, foi campeão alemão de sub-23 na categoria e voltou a ser vice-campeão de estrada — desta vez perdendo num sprint a dois para Kim Heiduk (INEOS Grenadiers).
2022 é o ano em que Michel Hessmann é promovido à equipa de elites da Jumbo-Visma, tendo-se estreado, curiosamente, na Volta ao Algarve. Para já tem sido uma temporada discreta para o alemão, revelando alguma dificuldade na adaptação ao principal escalão do ciclismo mundial, onde já correu, por exemplo, a Volta a Romândia. A sua melhor prestação foi, sem dúvida, na Volta a Polónia, onde chegou a envergar a camisola da montanha e onde terminou em quarto lugar nessa classificação.
Na sua segunda presença em Avenir tem já um sétimo lugar no prólogo, um terceiro na chegada a Chaillac, apenas a três segundo de Gloag, e agora é líder em virtude do contrarrelógio coletivo. Hessmann é, por isso, um rapaz a ter em conta nos próximos anos. Se vai algum dia ganhar uma grande volta? Provavelmente não. Tem 1,90m, 78 quilogramas, o que o torna um veículo demasiado pesado para passar as maiores dificuldades e as altitudes mais pronunciadas. O mais natural é que também não vença a Volta a França do Futuro. Mas isso não quer dizer que não estejamos na presença de um corredor que tem tudo para conquistar o seu lugar ao sol dentro do pelotão internacional. A forma como contraria o relógio, a forma como consegue aplicar potência em chegadas empinadas mas não muito longas, faz de Hessmann alguém que, se nada de mau acontecer, tem tudo para se tornar um candidato crónico a vencer provas de uma semana ou de um dia. E, talvez ainda, uma grande locomotiva que protege os seus líderes do vento.
Algo que também corre a seu favor é aquilo a que podemos chamar de evidência de uma pessoal normal, ainda que tenha estudado economia na faculdade. Em entrevista ao site da sua equipa afirma que passa mais tempo perdido no menu do Netflix à procura de uma nova boa série do que efetivamente a ver. Acrescenta ainda que no que toca a massa, se é para comê-la com um mero molho de tomate sem ervas prefere comê-la com azeite e sal. Sem ervas é que não. Se faltavam razões para gostarmos de Michel Hessmann…