Biagem ao Cycling District
Fomos passear. Vimos campeões nacionais, conhecemos um projeto entusiasmante e comemos pregos bastante apetitosos. Not bad.
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Esta breve história começa com um contacto de uma pessoa séria a lançar um projeto sério para ver como poderíamos colaborar. Surreal.
O Diogo tem um projeto acabado de arrancar (link no fim do post) chamado Cycling District, um espaço exclusivamente dedicado ao ciclismo no Porto, algo ousado e inovador no panorama nacional. Levou o falso plano para fora de pé, dado que o core da ideia é à volta do ciclismo virtual, tema do qual nós percebemos ainda menos do que ciclismo de estrada. Depois de uma conversa onde os detalhes do projeto, explanados abaixo, nos foram apresentados, tentámos juntos perceber como nos poderíamos ser úteis mutuamente, mas a verdade é que o terreno comum não era muito, além do amor pelo ciclismo e da vontade de o fazer crescer neste país à beira-mar plantado.
Ficou então acordado que nós iríamos visitar o espaço e assistir às finais do primeiro Campeonato Nacional Virtual. Pelo meio das conversas recrutámos o Diogo para a nossa equipa da Cycling Fantasy App. Cada um tem as suas ambições, ele quer abrir uns dez espaços de ciclismo em Portugal, nós queremos fazer uns top-10 na App. Dêem a importância que quiserem a cada uma das façanhas.
Domingo, dia 19 de Janeiro, lá nos fizemos à estrada, cheios de desconhecimento, de curiosidade e de vontade de ir beber uns finos. Estava uma tempestade dos diabos, mas juntamente com o Pratas e com o Rogério, o meu carro (sim, vamos sempre no meu carro, esta malta acha que sou pai deles) superou as adversidades meteorológicas rumo ao Norte do país. Pelo caminho, quizzes de ciclismo (que nós somos mesmo geeks aborrecidos), ofensas múltiplas, diversificadas e criativas para alimentar a competitividade do falso plano com os Lingrinhas e uma revisão da matéria. A revisão da matéria consistia em ver as meias-finais, que já estavam disponíveis. Entre "ah mas como é que isso se joga?", "aquele mano deve 'tar mamado" e "olha mas é para a estrada se não não chegamos ao Porto", quando demos por nós já estávamos no nosso destino. Comer uma bucha rápida e ir então conhecer a maluquice deste jovem.
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À chegada fomos então apresentados ao espaço, dividido em quatro partes. Um mini-ginásio, uma sala de treino equipada com bicicletas estáticas (eles dizem que são muitos boas, XPTO ultimate-generation-mem, eu não percebo nada disso mas acredito neles), uma sala de competição onde se iria desenrolar o prato principal do dia e cuja foto dá capa a este texto e, para fechar, talvez a nossa favorita ou pelo menos a única que poderíamos ter capacidade para usufruir, a sala de convívio, que servirá no futuro para a malta se juntar e ver ciclismo. 'Ganda conceito, gosto, está aprovado.
Está na horinha da competição. Sem entrar em demasiado detalhe, a prova era composta por três etapas diferentes que distribuíam pontos de variadas formas e privilegiavam diferentes tipos de corredor. A primeira, os sprinters. A segunda, os trepadores. A terceira, sendo a mais longa, o endurance. A prova está disponível aqui, se quiserem espreitar, mas aviso já que em baixo vêm spoilers.
Era a prova feminina, com os comentários enriquecedores (e corrosivos, ao estilo falso plano) da Ilda Pereira, que dava o pontapé de saída para o dia de competição. Sem grande surpresa, e sem dar grandes hipóteses às adversárias, foi Ana Caramelo, a mais cotada entre as ciclistas presentes — e que ainda este ano fechou na segunda posição dos nacionais de estrada tanto na prova de contrarrelógio como na prova em linha —, a dominar e a vencer. Ainda levou 800 balas para casa, nada mau dado o contexto nacional — destaque aqui para o sempre agradável "pormenor" da igualdade dos prémios entre o setor masculino e feminino. A também já conhecida do público mais atento Beatriz Roxo, atualmente a correr na equipa espanhola da Cantabria Deporte - Rio Miera, ocupou o segundo lugar, seguida da surpresa do dia, de seu nome Vânia Santos, que não tendo tão pouco equipa pode ter aqui aberto as portas para uma oportunidade futura.
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Veio o intervalo, veio o cafézinho e chegaram reforços. O grande Nuno, recém-chegado ao falso plano mas sempre com os seus Lingrinhas no coração, veio conhecer a malta, já que sendo lá de cima ainda não tínhamos tido oportunidade de estar juntos. Simpático mas também nada de mais, se querem que vos seja sincero. Percebe disto até chatear, que o nosso vasto departamento de recrutamento não brinca em serviço e faz questão que o estimado moderador desta casa continue a ser largamente o que menos percebe da poda.
Percebe menos da poda mas farta-se de trabalhar, olhem aí para mim a rever a antevisão do Down Under entre provas. Eles só queriam cavaqueira, distraíam-me, por isso já sabem, qualquer erro que tenha passado não é da minha responsabilidade. E sim, nós revemos os textos antes de publicar e mesmo assim são o que são.
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Chegava o momento pelo qual eu mais aguardava, dado que as meias-finais masculinas tinham sido caóticas e tudo levava a crer que a corrida seria mais imprevisível e entusiasmante do que aquilo que tinha acontecido no setor feminino. Não desiludiu nem um bocadinho e dei comigo a vibrar mais do que estava à espera. Depois de duas primeiras etapas renhidas, as decisões ficavam para a última, como se gosta.
A luta era a dois, entre Carlos Cruz, que surpreendeu tudo e todos depois de apenas estar presente na final por repescagem, e Michel Machado, num percurso de quatro voltas onde haviam pontos distribuídos em cada uma delas. Apesar do foco da geral estar neste mano-a-mano, o mais forte da última etapa foi César Martingil (da equipa mais pesada do ciclismo nacional, a Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), garantido o terceiro lugar à geral. Os pontos restantes foram-se dividindo entre os dois candidatos e chegámos à última volta na situação ideal — quem passasse primeiro na meta vencia. O circuito terminava num paredón que batia os 14% e, aí, Carlos Cruz lançou o ataque final, deixando para trás o Michel Machado e sagrando-se o campeão nacional.
Nunca tinha assistido a uma corrida virtual mas achei bastante interessante. Corridas relativamente curtas, com muitos momentos de interesse/decisão devido à distribuição de pontos e, neste caso, com a sorte da incerteza até final.
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Terminada a contenda, entregues os prémios e dados os parabéns à organização pelo evento e, sobretudo, pela coragem de levantar um projeto desta dimensão e ambição num país onde isso é uma jogada de risco, estava na hora do local Nuno decidir onde íamos comer. Mas havia um problema, um problema grave. Há quem diga que um crime, até. Cheio de medo enchi-me de coragem e da minha boca saíram as tão temíveis palavras "epá, desculpem, não gosto de francesinhas". O Nuno olhou-me de lado, desprezou-me de cima a baixo, penso até que lhe passou pela cabeça agredir-me, e justamente, mas arranjou uma solução.
"Venham mais cinco" pareceu-me logo um nome apelativo. O Zeca não é para ser esquecido e tinha todo o ar de gajo que comia bem. Chegamos, sentamo-nos, fazemos a piada de que queremos uma imperial enquanto o senhor nos diz que imperial não tem e só há finos, e o Nuno escolhe por nós. Prego com Queijo da Serra, também não teve de insistir muito, olhem para esta delícia.
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Apresentações feitas, projetos futuros discutidos e ofensas trocadas, estávamos prontos para abalar. Mas não sem antes aparecer um empregado a correr e a disparar caralhadas para os seus colegas. O Porto estava a perder e percebemos aí que 1) aquele empregado tem realmente más entranhas e 2) o nosso passeio de despedida da Invicta à beira-rio ia ser não só regado por uma chuva incessante, como iria encontrar uma cidade em estado de luto.
O passeio aconteceu, apesar de tudo, e ainda nos chularam 2.5€ por cada café. Será que não perceberam que se eu não bebesse café a probabilidade de chegar inteiro a Almada era bastante diminuta? Enfim. O Rogério contou histórias das suas viagens às míticas subidas do Tour e do Giro, uma c'mon mandou-se para cima do Pratas (alcoolizada, obviamente, vocês já viram o Pratas?) e eu continuei a minha contenda de convencer estes velhacos a virem comigo a Kigali verem o Bi-Bi-campeonato do Pogačar.
O caminho de regresso foi feito ao som do drama que ia no fêcêpê, da entrevista do Morgadão ao TopCycling (parece que finalmente percebeu que isto é para limpar as clássicas e que os Ventoux desta vida são para outros) e, pasmem-se, da audição do primeiro episódio da história podcastiana do falso plano. Tenho que confessar, deu-me um quentinho saber que isto chegou a ser ainda muito pior do que é hoje. Aos três malucos que já nos seguiam e ouviam nessa altura, os meus parabéns e o meu obrigado, só aguentei dez minutos.
Finalmente chegado a casa, que se seguia um dia de trabalho e estava todo rebentado, dei por mim a pensar que o falso plano não é dado a parcerias. Tem, ou pelo menos eu gosto de acreditar que tem, uma personalidade peculiar que não é fácil de encaixar. Por isso, isto acabou por não ser uma parceria, nós não vamos começar a acompanhar todo o ciclismo virtual existente (nem a praticar, somos fortes é no sofá) e o Diogo não vai começar a escrever textos e a discutir incessantemente o Tour de Guangxi (ele é que perde, obviamente). Mas foi uma boa oportunidade para conhecermos mais uma pessoa que adora o ciclismo e que tenta fazer por ele, uma oportunidade de nos fazermos à estrada e passar horas na galhofa. Nunca poderia ser um mau plano.
O falso plano deseja ao Diogo, à sua equipa, e ao projeto Cycling District toda a sorte do mundo e convida-vos a espreitar as corridas, que foram divertidas, e a conhecer o espaço.
Vemo-nos por aí.
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