Antevisão — World Championships ME - RR
É na cinzenta cidade de Glasgow que se vai decidir quem vai andar de arco-íris o ano inteiro.
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Introdução
Este ano, os Mundiais chegam mais cedo do que o habitual mas com a mesma imprevisibilidade de sempre. Os condimentos estão reunidos para termos mais uma grande prova com super equipas e com cavaleiros solitários, todos a sonhar com a camisola arco-íris.
Recentemente, alguns corredores têm conseguido defender o seu título. Este ano Remco Evenepoel chega a Glasgow não só com essa ambição mas também com o peso de ser para muitos o maior favorito.
Não vai ter vida fácil. MvdP/WvA procuram aqui a maior vitória da carreira. Pogačar pode provar mais uma vez que não há limites para as suas ambições. Ou quem sabe, um outsider… ninguém dava nada por Mads Pedersen em 2019.
Conseguirá o prodígio belga fazer o bis?
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O percurso
É um percurso acidentado, característico deste tipo de prova que permite que os mais variados tipos de ciclistas possam sonhar. Só mesmo os puros sprinters e os puros trepadores é que vêem desde logo as suas possibilidades serem perto de zero. De resto, puncheurs, roladores, sprinters versáteis, classicómanos e até voltistas têm aqui uma chance de levarem a camisola arco-íris para a sua terra natal. E essa é uma das maiores belezas dos mundiais.
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Os 120 quilómetros iniciais levarão os ciclistas de Edimburgo até ao circuito de Glasgow e, embora contem com a mais longa dificuldade da jornada, dificilmente servirão para muito mais do que definir a fuga do dia.
Depois entramos no circuito onde as decisões irão acontecer, são 11 voltas e 11 passagens pela meta, num circuito que tem poucos metros planos e alguns muros que, embora curtos, têm bastante inclinação. Nota ainda para a dificuldade adicional que as muitas curvas citadinas irão trazer aos ciclistas.
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O que esperar
Com a startlist incrível aqui presente e com as características da mesma, não há como esperar algo que não uma corrida muitíssimo atacada. Ainda para mais havendo várias equipas com múltiplas opções e não sendo o percurso assim tão duro por natureza, obrigando os ciclistas a endurecerem-no.
Acredito num cenário parecido ao da corrida da época passada, embora talvez com um desfecho diferente. Uma fuga inofensiva a marcar as primeiras horas de corrida e depois entre os 60 e os 90 quilómetros para a meta as primeiras movimentações de homens importantes a acontecerem. A Bélgica, como equipa mais forte e tendo trunfos para jogar em todos os cenários, será a principal interessada em desde cedo partir a corrida e lançar Remco com mais dois ou três colegas para a frente. Veremos se as restantes equipas deixarão isto acontecer e se, acontecendo, se fazem representar com mais qualidade do que o que fizeram no ano passado.
A partir daí a corrida será louca e muito aberta, com as dinâmicas dos grupos que se formarem a serem decisivas para o sucesso ou não dos mesmos. Eu acho que não vão cair no mesmo erro do ano passado e que as principais decisões ficarão para mais tarde, com ataques de MvdP ou de Pogačar a partirem completamente a corrida e a reduzirem muito o grupo para 10/15 unidades que estarão luta nas últimas duas voltas. Depois pode dar sprint entre eles ou algum oportunista pode levar a sua avante, cenário que considero menos provável dado o poderio numérico que algumas seleções ainda terão na fase final da corrida.
Favoritos
Mathieu Van der Poel — O percurso assenta-lhe que nem uma luva. Desconfio que se tivesse sido o próprio a desenhá-lo não andaria longe disto. Muita quilometragem, muitas subidas mas todas curtas e muitas curvas onde pode aproveitar a sua imensa técnica em cima da bicicleta. É uma grande oportunidade para trazer de volta o título para os países baixos, que não o conquistam desde 1979, quando Jan Raas triunfou.
Remco Evenepoel — Vai dar espectáculo repetindo a fórmula dos mundiais do ano passado (e de tantas outras provas que levou de vencidas) e lançar-se cedo para a frente da corrida, até porque precisa de distanciar também a "concorrência" interna. Depois de formar o grupo, vai procurar isolar-se para poder colocar toda a potência do seu motor em ação, tentando chegar isolado à meta. Já todos sabemos o plano, difícil é pará-lo. E agora até já nem tem de chegar isolado para vencer, que a ponta final do belga tem vindo a melhorar substancialmente.
Wout van Aert — O super versátil belga tem um CV que não faz jus à sua qualidade. Pode ganhar em praticamente qualquer situação de corrida e caso não veja os seus movimentos presos pelo colega de equipa acima citado, acredito que vá estar muito ativo para não perder o corte decisivo. Depois, na meta, já sabemos que é um perigo, mas também sabemos que muitas vezes aparece alguém mais forte do que ele.
A não perder de vista
Tadej Pogačar — Se Pogačar está em prova, não se pode nunca "perder de vista". Não sabemos bem a forma em que chega depois do Tour, mas tenham cuidado com ele, sempre. Explosividade tem, ponta final também e já vai acumulando experiência e triunfos em provas de um dia.
Mads Pedersen — Dias longos são a praia do dinamarquês. Se chover e estiver frio, tanto melhor, algo que em Glasgow não seria de estranhar. Foi nesta prova que se assumiu como um ciclista de topo mundial e tem aqui uma super equipa, por isso muito cuidado com o campeão de 2019, se não o descartarem até à meta não penso que alguém seja capaz de o bater nos metros finais.
Christophe Laporte — Com a camisola francesa não tem de trabalhar para WvA, o que lhe abre muitas portas que esta época já provou saber aproveitar. Aguenta-se muito bem nas subidas curtas deste percurso, tem uma óptima ponta final e é um classicómano por natureza. Sem o Loulou a que estávamos habituados, será a principal aposta da equipa.
Jasper Philipsen — A Bélgica dava para fazer umas três seleções e em todas teriam líderes fortes e bem acompanhados. Pode ser demasiado duro para o camisola verde do Tour, mas a haver algum sprinter a chegar ao final com hipóteses de disputar a corrida é ele. Pode aproveitar os movimentos dos colegas para se deixar resguardado no pelotão e, caso a corrida não seja assim tão atacada, usar a sua ponta final demolidora.
Dylan van Baarle — Terá na seleção dos Países Baixos o papel de atacar a corrida de longe. Acredito que esteja no primeiro movimento perigoso do dia com Remco Evenepoel. Mais: é um especialista a ler a corrida e se se apanhar sozinho, é uma chatice para os restantes.
Apostas falso plano
Fábio Babau —WvA. For little Jerome.
Henrique Augusto — Anda Mathieu, é desta.
Lourenço Graça — Vai ser dia de São Tadeu. Cada um proteja o seu (orgulho).
Miguel Branco — Alex Aranburu. Depois de um trabalho lendário de Cortina.
Miguel Pratas — Estrada molhada, corrida abençoada. Mads Pedersen.
Ricardo Pereira — Mathieu van der Poel, espero eu.