Antevisão — Vuelta a España
21 etapas, muitos topos, muitas tapas. La Vuelta vai botar lume.

Introdução
Está calor perto de uma gelataria em Belém. A multidão derrete de suor e entusiasmo. Lá ao fundo, um carreiro de formigas amontoa-se por uma caixa de pastéis originais e um macchiato típico da capital. Bem perto de uma rampa improvisada, três centenas de amantes encontram-se. Apaixonados, gritam durante horas por todos os que passam. Olham para o relógio impacientes, contam o tempo ao minuto. Há sorrisos, punhos no ar e bandeiras portuguesas demasiado grandes para o efeito. Sobe à rampa um ciclista vestido de branco e todos param para ver. Fazem-se as últimas rezas e benzeduras pelo nosso homem de branco. Grita-se tudo o que vai na alma pelo nosso homem de branco. Acendem-se isqueiros no ar pelo nosso homem de branco. Uma sirene toca cinco vezes. Solta-se o fogo preso. O homem de branco desce a rampa. E lá vai ele, é desta, vamos embora.
Estamos em 2024, em Lisboa; e o João Almeida acaba de partir para a sua grande hipótese de ganhar uma Volta a Espanha.
Todos sabemos como acaba esta história; sabemos hoje o que nenhum de nós sabia naquele dia solarengo de Lisboa. Num agosto nada querido, João Almeida já partiu em lume brando. Estava em baixo, "as sensações não eram as melhores", frase em que já aprendemos a não confiar. Oito dias em esforço. E ao nono dia, não partiu. No final da corrida, nas contas que ficam para a História, escreve-se mais uma vitória para Primož Roglič, um pódio inesperado para Ben O'Connor e, até hoje, o maior "e se?" na história do ciclismo nacional.
Nos últimos anos, tem sido sempre difícil pôr grandes expectativas numa Grande Volta. Há boas razões para isso: a principal é uma questão de fossos. Temos uma distância cada vez maior de qualidade entre as grandes e as médias equipas nos comboios que trazem para estas corridas. Mesmo não tendo a qualidade do Tour, é bastante evidente a vantagem que Visma e UAE Emirates trazem para esta Vuelta nos seus comboios de montanha, mesmo quando comparadas com outras equipas acima da média, como são a Red Bull ou a Bahrain. Afinal, numa corrida de 21 dias, a profundidade do plantel faz muita diferença. Nota-se aqui e notou-se nas anteriores. Este ano, Visma e UAE estão 1-1 em Grandes Voltas: Simon Yates leva o Giro, Pogi leva o Tour. Na Vuelta, joga-se o desempate.
Este ano, olhar para o resultado final do Tour de France 2025 é, ao mesmo tempo, a pior e a melhor coisa que podemos fazer para entender esta Vuelta.
A pior: a diferença entre o 1.º e o 2.º classificados parece dizer-nos que Vingegaard é batível, que é possível colocar quase 4 minutos e meio no dinamarquês. Que basta um mau dia no contrarrelógio e uns soluços na montanha para termos um vencedor não-chamado Jonas.
A melhor: a diferença entre o 2.º e o 3.º (Lipowitz, a 7 minutos) é abismal. E se calhar não há mesmo ninguém ao nível de Jonas e Tadej quando a estrada inclina. E vai ficar tudo resolvido na primeira montanha, sem grande margem para histórias.
Mas é um erro de amador ver ciclismo através de números. Se tudo fosse previsível, se tudo estivesse decidido à partida, ninguém no seu perfeito juízo passaria 21 dias colado a um ecrã ou à berma da estrada para ver pessoas a pedalar. A beleza do desporto está em acreditar no improvável e sonhar com o impossível.
Desta vez, longe da Lisboa talismã que lhe daria toda a sorte do mundo, João Almeida persegue de novo o sonho de vencer uma Grande Volta. Já o viu mais longe: esta época, já venceu três gerais World Tour seguidas e "botou lume" em Vingegaard na Volta ao Algarve (sim, eu sei o resultado final mas não encaixa nesta narrativa). A desistência no Tour traz mistério, mas também esperança no inédito. Num Almeida melhor que nunca, mais capaz, mais leve, mais rápido. O nosso homem de branco está de volta e não o será por muito mais tempo. Será o nosso homem de vermelho, aquele por quem gritaremos à frente do ecrã, abraçaremos o vizinho de berma da estrada e, enquanto houverem verões, contaremos esta história aos netos.
Se não é para sonhar, nem vale a pena ver. Esta é uma Vuelta feita de suor e sonho. Vamos a ela.
Um lume de cada vez.

O percurso
O vencedor da Vuelta vai ter mais 21 dias de corrida nas pernas, com dois dias de descanso: um após a etapa 9 e outro após a 15.
A abrir em Itália, com França e Pirinéus na primeira semana, Astúrias na segunda, Galiza e centro na terceira até chegar a Madrid. Este ano, claramente numa homenagem à Volta a Portugal, a corrida não desce abaixo da capital espanhola. Deve ser onde as autarquias têm mais dinheiro para pagar ou assim. Seja como for, este percurso vai dar fiesta.

Etapa 1 — Como já vem sendo tradição, a Vuelta parte de um país vizinho. Este ano, a honra coube à Itália, com uma etapa que vai de Torino a Novara. Etapa a abrir com um falso plano (gracias!), uma contagem de 3.ª categoria só para dar a montanha a alguém da fuga. De resto, tudo bem plano até à meta. O primeiro camisola roja vai sair da sprintalhada.
Montadito da sorte falso plano diz: Sandes de sprint com Mads Pedersen.

Etapa 2 — Começa bem. Todas as camisolas a mudar de dono com esta subida a Limone Piemonte. É uma etapa boa para uma triagem na GC. Não espero grandes diferenças entre os favoritos, mas quem vier com objetivos de KOM ou caça-etapas, pode começar a descair já aqui. Pode dar fuga, mas acho que as equipas de GC vão querer ganhar logo uma. Para a UAE, tá no limão.
Montadito da sorte falso plano: Pasta al Ayuso. David Gaudu só chega à hora de jantar.

Etapa 3 — O início tem tantos Canaveses que parece Marco. Depois uma 2.ª categoria que ainda põe respeito, umas lombas divertidas e uma chegada inclinada para quem tem tanto punch como sprint.
Montadito da sorte falso plano: Caneca de Pedersen.

Etapa 4 — Saímos de Itália para Esp... o quê, acaba em França? O mais certo é dar sprint, mas os 80km iniciais têm montanha suficiente para dar esperança à fuga de conseguir uma vantagem interessante. E com um TTT no dia seguinte... Acendam uma vela pelos rapazes da fuga. Eu espero que seja nesta.
Montadito da sorte falso plano: Salada de sprint à moda de Mads.

Etapa 5 (TTT)— Chegamos a Espanha com uma daquelas coisas que só podia acontecer na Vuelta: um contrarrelógio por equipas na etapa 5. As equipas de topo trouxeram os seus melhores para garantir que esta etapa não faz mossa nas contas da Geral. Visma vs. UAE: começa aqui.
Montadito da sorte falso plano: Nachos e azeitonas à Visma.

Etapa 6 — Ontem, a aldeia adormeceu; hoje, o pelotão acorda. É a primeira etapa a doer; a primeira onde os favoritos à GC se mostrarão; e também será a primeira da novela UAE entre Almeida e Ayuso. Imperdível.
Montadito da sorte falso plano: Fortunato na brasa. Na GC, sandes de bota lume e pulled pork espanhol.

Etapa 7 — É disto que o meu pueblo gosta. A etapa com mais metros de subida em toda a Vuelta (4483) e o teste mesmo a sério para os favoritos. A subir quase desde o início, vai dar espaço para uma fuga com vontade. Mas esta é de quem vem para ganhar.
Montadito da sorte falso plano: Salada de GC, temperada com azeite e Vingegaard.

Etapa 8 — Dia de descanso do pessoal. Depois do que eles passaram ontem, uma tábua de engomar. Sprint compacto.
Montadito da sorte falso plano: Jarrito de Jasper Philipsen.

Etapa 9 — A versão espanhola da chegada à Torre. (Saudades de quando havia sempre um esquiador no pelotão). Etapa ideal para dormir uma siesta até aos últimos 20km. A partir daí, sobem até ao topo de uma estação de esqui, com média de 5%. Já imagino os ataques a meio da subida e um sprint à deux dos montanhistas.
Montadito da sorte falso plano: VP-P com molho BBQ. É o Paret-Peintre, malta.

Etapa 10 — Depois do dia de descanso, nova etapa até uma estância de esqui; desta vez até Belagua: 9.4km a 6.3%. Foi aqui que, em 2023, Remco Evenepoel protagonizou uma vitória em fuga extraordinária depois de um flop no dia anterior. Vai servir de inspiração para muito boa gente. De resto, a não ser que alguém fure nas pernas, mais um dia para os favoritos chegarem em conchinha.
Montadito da sorte falso plano: Barritas de Eddie Dunbar. Almeida ganha uns segundos. Ben O'Connor é procurado pela Interpol.

Etapa 11 — Mini-clássica em Bilbao, cheia de paredóns para romper as pernas do que se prevê que seja uma fuga enorme e cheia de estrelas. Atenção: muito boa gente vem com esta apontada.
Montadito da sorte falso plano: Toda a gente quer um prato de Pidcock? Pede antes um balde de Buitrago.

Etapa 12 — Duas montanhas bem simpáticas numa etapa que só agrada a fugitivos. Quando o Almeida (líder, claro) chegar, já a fuga está nos chuveiros.
Montadito da sorte falso plano: Torresmos de Tulett.

Etapa 13 — ANGLIRUUUUUUU! A etapa começa em Cabezón mas, no final, toda a GC vai ficar com um cabeção. Chegada ao mítico L'Angliru, onde vencem todos os grandes: Primož Roglič, Alberto Contador, Kenny Elissonde... É o Olimpo dos montanhistas e, em 2025, não será diferente. 12.3km com pendente média de 10%? Doem-me as pernas só de ler.
Montadito da sorte falso plano: Asinhas de Jonas com picante.

Etapa 14 — No meio das outras, a etapa 14 passa despercebida, mas está no top-3 de etapas com mais metros de subida em toda a Vuelta. Ao mesmo tempo, é a 2.ª etapa mais curta da Vuelta – tirando os TT e a seguir ao final em Madrid. Ou seja, é curto e grosso. Os comboios de montanha vão trabalhar muito neste dia.
Montadito da sorte falso plano: Pico de Gall, com Almeidada no ponto.

Etapa 15 — Entramos na Galiza. Subida a partir do quilómetro zero até A Garganta, dá para recolher uns pontos para a montanha. Dia construído para a fuga: aliás, foi isso que aconteceu em 2021, numa etapa quase igual a esta. Magnus Cort foi o vencedor, com Rui Oliveira a fazer 2.º.
Montadito da sorte falso plano: Fuga quatro molhos: Movistar, INEOS, Lotto e Caja Rural.

Etapa 16 — Depois do 2.º dia de descanso, uma etapa rompe-pernas. A cada monte passado, aumenta a dificuldade. Quando a corrida aqui terminou em 2021 (sim, mais um copy paste da organização), Roglič não conseguiu descolar Adam Yates e Enric Mas. O vencedor do dia foi um Clément Champoussin vindo da fuga. Mais do mesmo ou o Herville vai fazer estragos?
Montadito da sorte falso plano: Língua de Landismo.

Etapa 17 — É no Alto de El Morredero que muitos dos sonhos para a GC vão para morrer. Subida feita a três partes: início com pendentes muito inclinadas (3.5km a 10.3%), pausa, mais 4.3km a quase 9%, relaxa, rampa final de 4km a 7.3%. Prevejo um certo dinamarquês a querer deixar a corrida fechada antes do contrarrelógio.
Montadito da sorte falso plano: Vingegaard con viño.

Etapa 18 (ITT) — Contrarrelógio individual em Valladolid chega tarde na corrida, mas mesmo a tempo de causar danos. Sendo quase todo plano, e não tendo um Remco aqui para tornar a etapa previsível, a coisa pode ser chata de ver, mas bastante divertida no resultado final.
Montadito da sorte falso plano: Ganna & Bifanna.

Etapa 19 — Em teoria, seria uma para os homens rápidos. Mas numa startlist com tão poucos sprinters puros, isto para mim tem escrito "dia de fuga" por todos os lados. Última oportunidade para os Pinazzi do pelotão inscreverem o seu nome na História.
Montadito da sorte falso plano: Orluis. Aular. Cada dia te quiero más.

Etapa 20 — A minha "etapa-rainha" desta Vuelta é esta penúltima e esperemos que, chegados aqui, ainda haja alguma coisa por decidir. Duas passagens pelo Puerto de Navacerrada: a primeira pelo lado "fácil" e a segunda pelo lado tramado. Últimos 3km com pendentes de 23%. Só se fizeram duas vezes na história da Vuelta (2010 e 2012). E a história desta edição acaba aqui.
Montadito da sorte falso plano: Bota-lume na chapa, com migalhas de Ayuso e Jonas em pó.

Etapa 21 — Champanhe e tapas até Madrid.
Montadito da sorte falso plano: Arroz de Marit.

O que esperar: como é que o João Almeida pode ganhar isto?
Estou muito entusiasmado para esta Volta a Espanha. Porquê? Porque sou humano e, em princípio, eles também. À partida, esta Vuelta parece estar mais em aberto do que as outras Grandes Voltas que contaram com um dos dois aliens do pelotão World Tour. A ausência de Tadej Pogačar – o alien entre os aliens – permite sonhar com uma corrida muito mais disputada. É que mesmo nas corridas em que não entra, o esloveno é protagonista e tema central na conversa: Vingegaard correrá diferente do que tentou no Tour contra Pogačar? Como se corre contra uma UAE que só parece funcionar quando corre para Pogi? E se aqui estivesse, ganhava? Mas só faz falta quem cá está. Comecemos pelo topo.
Depois do susto do ano passado, um daqueles que mudam vidas, Jonas Vingegaard é hoje um corredor diferente. Já o vimos neste Tour: mais aguerrido e atacante, com uma atitude bastante diferente do homem calmo e calculista que venceu dois Tours. Esta Vuelta, de subidas constantes e muita dureza na montanha, vai bem com o estilo conservador, de ritmo constante e rabo no selim, que levou Vingegaard às maiores vitórias da sua carreira.
A última vez que Jonas Vingegaard esteve na Vuelta foi em 2023. Estão a ver qual foi, não estão? Foi a corrida em que uma Visma em implosão faz 1-2-3 na Geral: em 1.º, a surpresa de Sepp Kuss. Em 2.º, Jonas. Em 3.º, um Roglic em conflito aberto com a sua equipa. Foi chato a nível da competição, mas fantástico de ver a nível do drama com pipocas. Não quero tirar mérito ao grande mito do "GC" Kuss e, por isso, escrevo apenas o seguinte: ao longo da corrida, Jonas Vingegaard foi um bom amigo. Desta vez, o drama mudou de lado.
Bora ser sinceros: grande parte do apelo para esta Vuelta é saber o que raio vai acontecer dentro da UAE Emirates. A melhor equipa do mundo parte aterra em Espanha, destinada a provar que não é uma família disfuncional sempre que o pai está em viagem de negócios. Para isso, deixaram ao comando uma dupla que dá descanso a qualquer um de que as coisas vão correr bem: um bota-lume e um incendiário.
João Almeida e Juan Ayuso são a dupla que tentará cansar a Visma e Vingegaard com ataques constantes, trabalho em equipa e passagens na frente distribuídas por igual. E todos sabemos como eles se adoram. E como Jay Vine adora trabalhar com Almeida (já o vimos este ano na Suíça). E como Soler os adora a todos. Estão a ver a receita?
Da minha parte, não espero menos que um ataque de Ayuso a Almeida, uma largada de Almeida a meio da montanha, muitas declarações à imprensa passivo-agressivas e, claro, uma sessão de pugilato no topo do L'Angliru.
Amor ou ódio, a UAE vai ter de mostrar que é uma equipa a sério e não apenas um conjunto de super-corredores estupidamente talentosos. Porque se não o fizerem, há quem venha com a lição do passado bem estudada para esta Vuelta. Se não aprendemos com os erros dos outros, estamos destinados a repeti-los. Esperemos que João & Juan tenham visto as cassetes.

Mas nem tudo é Geral, minha gente.
No que toca à corrida pelos pontos, o resultado parece ser ainda mais evidente. E certo que não há muitas oportunidades para os sprinters mostrarem as suas credenciais. E talvez por isso é que os homens mais rápidos do World Tour decidiram saltar a Vuelta no seu calendário, em detrimento de corridas mais curtas e planas. Surge um nome.
Mads Pedersen (Lidl) parte como o enorme favorito para andar de verde do início ao fim da prova. A última vez que cá veio, em 2022, limpou três etapas e esta mesma classificação. E na forma em que está, emerge no papel como candidato a fazer um passeio por Espanha. Deixo aqui as três melhores opções para destronar Mads, por ordem:
- Trocar todas as garrafas de Mads Pedersen por gaspacho sem sal;
- Suborno com vales de compras no Mercadona;
- No aeroporto de Turim, trocar o bilhete de avião de Mads Pedersen e enviá-lo para Fernão Ferro.
Nesse caso, a segunda melhor opção para a camisola verde passa por Jasper Philipsen (Alpecin), mas seria preciso que Alpecin e Lidl dessem pouca trela às fugas. A não ser que vença todas as etapas planas e ainda dispute muitos sprints intermédios, acho difícil.
Numa terceira linha, mas não de descartar, contem com Orluis Aular (Movistar), Casper van Uden (Picnic), Ethan Vernon (IPT), um eterno Bryan Coquard (Cofidis) ou, na loucura, um Filippo Ganna (INEOS) a acumular os pontos do contrarrelógio e uns top-5 simpáticos.
Para a montanha, há muitos cojones a querer disputar a camisola das bolinhas. Esta é sempre uma classificação mais em aberto e sobre a qual só há reais certezas ao fim da primeira semana, quando os trepadores começarem a descair no pelotão para ganhar margem para fugas nas semanas seguintes.
Mas podem ser todas histórias incríveis. Lorenzo Fortunato (Astana) pode vir à procura da segunda camisola de montanha da época, depois do domínio absoluto desta classificação no Giro d'Italia. Sabemos que tem pernas e atitude para isso.
Na Decathlon, tudo vai depender das ambições de Felix Gall; o que vale mais para a equipa, umas etapas e uma camisola da montanha ou a luta por um Top-5 na GC? Eu sei o que escolheria, mas a ditadura dos pontos às vezes é tramada. Na mesma equipa, eu adorava ver Léo Bisiaux a lançar-se para esta tarefa, mas talvez seja demasiado cedo.
Mais fora da caixa, mas também meninos para se meterem em muitas fugas quando perceberem que não dá para mais, ponho na mesa os nomes de Eddie Dunbar (Jayco), Esteban Chaves (EF) ou Matthew Riccitello (IPT). Na Groupama-FDJ, esta pode ser uma tarefa para Guillaume Martin ou, se acreditam em milagres, podem sempre apostar numa ressurreição de David Gaudu. Era giro.

Para a Juventude, a coisa parece estar mais decidida. Juan Ayuso, por inacreditável que pareça porque já estamos fartos de o ver e bem que já se podia reformar, ainda entra nas contas da camisola branca.
No caso indesejável do espanhol andar de roja, então teremos na segunda linha jovens como Antonio Tiberi (Bahrain), Giulio Pellizzari (Red Bull) ou Pablo Castrillo (Movistar) prontos para vestir a camisola ao longo da corrida.

Favoritos
João Almeida — Não leram os montaditos da sorte? É Almeidada do início ao fim, meus caros. Esta época, o João esteve imparável até ao Tour. A partir daí, treino intensivo para a Vuelta. Chega com ganas de vingar o ano passado. E nós com ganas de o ver ganhar.
Jonas Vingegaard — Fanatismos à parte, é o grande favorito. Procura aqui a sua primeira GC na Volta a Espanha, depois de um 2.º lugar em 2023 (a vitória de Sepp Kuss) com mais asteriscos que certezas. Nesta lista de saída, ainda não encontrou quem estivesse à altura dele na alta montanha. Quando a estrada inclinar, sigam o comboio amarelo.
Juan Ayuso — Vem para estragar a festa. Motivado para provar que o Giro foi apenas um azar de percurso, Ayuso quer a vitória nesta Vuelta. E não tenhamos grandes ilusões: vai tentar tudo para a ter. Um poço de talento ou uma fonte de problemas? Logo se vê na estrada. É o "vai ou racha" do espanhol no reino da UAE.
A não perder de vista
Giulio Ciccone — A vitória na San Sebastián deu um novo ímpeto ao homem da Lidl. Feitio difícil, feroz nas montanhas e a rezar para que os TT não façam muitos estragos. Pode parecer estranho, mas uma vitória na Vuelta seria a sua primeira GC da carreira. Os anti-heróis estão na moda, pá.
Antonio Tiberi — Porque não? A Bahrain está habituada a correr na pista de fora e Tiberi já começa a ser o underdog favorito dos italianos. Vindo de um 2.º à Geral na Volta a Polónia, as pernas estão lá e o percurso não é terrível para ele. Candidato a um Top-5.
Giulio Pellizzari — A Red Bull - BORA continua na sua tática de enviar vários proto-líderes e eles que se amanhem. Entre Jai Hindley e Pellizzari, eu vou com o jovem talento italiano. Tem aqui uma boa hipótese de subir nos galões da equipa, antes que Lipowitz fique com toda a fama e o projeto "Remco 2026" fique com o proveito.
Thomas Pidcock — O britânico diz que vem para a Geral e nós só podemos acreditar nele por enquanto. Não lhe dou grandes hipóteses mas, à medida que Pid vai ajustando os seus objetivos, vai ser um corredor muito divertido de acompanhar ao longo das três semanas.
Egan Bernal — É a Grande Volta que lhe falta na carreira e é o próprio que admite: ainda sonha em vencê-la e está a trabalhar para isso. Será que as pernas acompanham a ambição?
Ben O'Connor — É mesmo para não o perder de vista, que o homem deve ficar escondido lá para trás.
Apostas falso plano
André Dias — Depois de ler isto tudo, preciso mesmo de dizer? Harold Tejada, pois claro.
Fábio Babau — Jonas vai-se Vingegaard da UAE.
Henrique Augusto — O Lume vai ser botado de forma nunca antes vista.
O Primož do Roglič — João, o padeiro de A-dos-Francos.
Miguel Branco — Jai Hindley. Quem sabe nunca esquece.
Miguel Pratas — Quem tem Kuss tem medo.
Rogério Almeida — Temos a padeira para o Ayuso, mas o Vingegaard já trabalhou no bacalhau. Desculpem mas eu adoro bacalhau.