Antevisão — Volta Ciclista a Catalunya

Após vitória de dois eslovenos, será a vez de um catalão? O último foi Joaquim "Purito" Rodríguez, em 2014.

Antevisão — Volta Ciclista a Catalunya
Volta Ciclista a Catalunya

Introdução

E o ciclismo continua agora por terras catalãs. Vamos ter a 104.ª edição desta prova, que teve a sua primeira edição em 1911. É a prova por etapas de uma semana mais antiga e a terceira prova por etapas, contando com as grandes voltas, sendo ainda mais antiga que a Volta a Espanha. Alguns ciclistas vêm aqui afinar as pernas para as clássicas e para o Tour de France, enquanto outros continuam o trabalho de preparação para o Giro.

O ano passado, tivemos um domínio avassalador do Pogačar que, vencendo quatro etapas, ganhou a camisola dos pontos, da montanha e a geral. Só não ganhou a camisola da juventude, porque a idade também passa por ele. Este ano ele não marca presença para defender o título, mas a UAE envia o corredor da casa. O catalão Ayuso certamente quer ganhar a prova, vem de vencer a Tirreno-Adriático e, correndo em casa, tem motivação extra. Ele tem uma vantagem em relação ao Pogačar do ano passado, ainda pode ganhar a camisola da juventude. Traz consigo uma boa equipa para atacar a corrida e uma co-liderança com Adam Yates, que esteve muito bem esta semana na vitória de Del Toro, ajudando o mexicano e trabalhando para o ataque — trabalhou mais metros para Del Toro num dia do que para o Ayuso em sete.

Mas nem só de UAE se faz a prova, e vamos ter o regresso de Roglič, um mês após o Algarve — a sua última corrida. Tem uma equipa dedicada a ele e quer voltar a vencer esta competição, após tê-la conquistado em 2023. A Visma vem com um contingente forte, com várias balas para disparar na montanha, trazendo Simon Yates, Wilco Kelderman e Sepp Kuss. Vamos também contar com a presença de Richard Carapaz, Enric Mas, Tao Geoghegan Hart, Lennert Van Eetvelt e Mikel Landa — segundo classificado no ano passado. Na INEOS, temos Geraint Thomas e o regresso de Egan Bernal após uma queda e fratura da clavícula — fez terceiro na última edição —, e temos o vencedor da juventude do ano passado Lenny Martinez.

Pelos nomes presentes e o traçado da prova, teremos espetáculo garantido com muita montanha — e mesmo os poucos sprints terão subidas pelo meio

Vitória de Valverde em 2018 — o último espanhol a ganhar. (foto: elconfidencial)

O percurso

Etapa 1 — Uma etapa para possível sprint, e com este tipo de sprint, vemos o porquê de não termos puros sprinters nesta prova. Será um constante sobe e desce até à meta, mas possivelmente veremos um sprint em pelotão compacto. Quem disputar o mesmo terá de ser um sprinter com bom punch.

Sant Feliu de Guíxols - Sant Feliu de Guíxols (178.6km)

Etapa 2 — Mais um sprint. Aparentemente mais fácil que o da primeira etapa, a organização este ano está generosa.

Banyoles - Figueres (177.3km)

Etapa 3 — Primeira de três chegadas em alto. Uma etapa dura com 4796 de desnível positivo acumulado. A etapa rainha da prova.

Viladecans The Style Outlets - La Molina (218.6km)

Teremos a passagem pelo Coll de la Creueta (20,3 km @ 5,1%) e vamos finalizar em La Molina (12,2 km @ 4,4%), com o início do Coll de la Creueta ao quilómetro 160 e logo enlaçado com La Molina. A última vez que terminou aqui com um final igual foi em 2023, com vitória de Remco sobre Roglič.

Coll de la Creueta (20,3 km @ 5,1%)
La Molina (12,2 km @ 4,4%)

Etapa 4 — Segunda chegada em alto, e mais uma etapa para a luta pela geral. Após um constante sobe e desce, chegam a um final duro Montserrat Mil·lenari ( 8.8 km @ 6.5 % ), uma subida constante onde as pendentes não variam muito.

Sant Vicenç de Castellet - Montserrat Mil·lenari (188.7km)

Etapa 5 — Terceira etapa para sprinters. Os mais duros dos homens rápidos que tenham aguentado até aqui terão mais uma hipótese de lutar pela vitória. Não podem deixar fugir para a fuga.

Paüls - Amposta (172km)

Etapa 6 — Mais uma etapa para a luta pela geral e para vencer uma fuga. Etapa dura, com 3854 metros de desnível acumulado. Parece que começa com um enormíssimo falso plano do quilómetro 20 até ao quilómetro 63. Após o meio da etapa, vamos ter a passagem pela categoria especial situada no Coll de Pradell (15 km @ 6,8%) e depois pelo Collada de Sant Isidre (8,7 km @ 8,7%). Vai terminar em alto, com uma subida constante ao Santuari de Queralt (5,9 km @ 7,5%). O ano passado, Pogačar venceu aqui, com Bernal e Landa a fechar o pódio.

Berga - Queralt (159km)

Etapa 7 — Tradicional circuito em Barcelona, por norma muito atacado pela geral ou puncheurs a tentarem vencer a etapa. Não costuma resultar em grandes diferenças, mas costuma dar muito espetáculo.

Barcelona - Barcelona (88km)

O que esperar

Uma grande luta e uma espécie de "mini Giro", temos muitos dos candidatos a uma boa classificação geral no Giro aqui. Antevejo uma grande luta pela geral entre Ayuso e Roglič, mas espero uma UAE muito mais dominadora da prova. Tentarão defender o título, mas também um Ayuso que quer cada vez mais que o seu espaço de líder não seja questionado. Traz um bom bloco para trabalho de montanha. Roglič tem com ele uma equipa competente, mas parece pecar por escassez de bloco de montanha. Pellizzari, o italiano de 21 anos, parece que vai ser o braço direito na montanha. Sim, o miúdo é bom, mas pode ser curto para ajudar. E sabemos que o Roglič é um ciclista conservador e, pelo menos mais um Pellizzari não era mau.

Mas não são só estes dois que vão estar a lutar pela vitória. Landa e Mas acredito que vão estar a um bom nível e a tentar tudo para, pelo menos fazerem pódio. Na luta pelo top 5 também devem estar os irmãos Yates. Adam, pelo seu trabalho para Ayuso — ou a falta dele — deve acabar numa posição de luta pelo top-5. Simon, por sua vez, na última etapa de luta pela geral da Tirreno, esteve melhor, vem em crescendo e a preparar o Giro, e tem consigo Kelderman, que também vai ao Giro, e Sepp Kuss.

Mas a luta pelo top 5 vai ser dura e, esperemos, bonita de ver, porque temos ainda Carapaz, Geoghegan Hart, Gall, O'Connor, Martinez, Van Eetvelt e, coloco aqui Bernal, porque desejo que ande bem e que o Henrique acabe a crónica.

Com aparente possibilidade para três sprints, ainda temos a presença de alguns sprinters. Kaden Groves é talvez o nome mais sonante e vem de fazer 5.º na Milano-Sanremo. Vai ter como concorrência o miúdo da Visma Matthew Brennan, que vem de três vitórias seguidas, Andrea Vendrame, que também venceu na Tirreno-Adriático, Marijn van den Berg, Pavel Bittner, Stanisław Aniołkowski, a dupla da Israel, Vernon e Strong, e Ethan Hayter — não sei em que moldes se vai encontrar, mas parece estar sempre tudo bem para ele, até ele não aparecer. Uma nota também para a presença de Nick Schultz na Israel, apesar de ter dois sprinters, ele venceu a primeira etapa no ano passado.

Favoritos

Juan Ayuso — Vem em grande forma e quer continuar a mostrar que merece a confiança total da equipa para lutar pelo primeiro lugar do Giro.

Primož Roglič — Com o avançar da idade está a ficar um ciclista que escolhe as suas batalhas e onde vai estar em forma. Mas acredito que quer provar aqui que ainda é o melhor atrás de Pogačar e Vingegaard.

Mikel Landa — O basco é um excelente trepador, e neste tipo de prova que tem de aparecer — é onde tem a oportunidade de liderar.

A não perder de vista

Simon Yates — Tem de começar a mostrar forma e lutar pelos objetivos dele. Se não, a sua mudança de equipa começa a ser resumida a gregário de Vingegaard no Tour.

Lenny Martinez — O miúdo esteve bem em Nice, tendo ganho uma etapa numa chegada em alto. Estava a lutar pela geral até se ter perdido nos ventos.

Lennert Van Eetvelt — Tem um futuro enorme, mas o presente é agora. E os adversários são estes. É muito ambicioso e lutador, lutará certamente pelo top-3 ou até mesmo pela vitória. Tem uma boa ponta final para o sprint em chegadas em alto.

Apostas falso plano

André Dias — Ayuso ganha, mas não vai ser Giro.

Fábio Babau — Lennert Van Eetvelt. O sonho começa agora.

Henrique Augusto — Não ganha o Ayuso, ganha o outro.

O Primož do Roglič — Depois do treino em altitude... Roglič.

Miguel Branco — Ayuso. E para o ano ataca no Capo Berta.

Miguel Pratas — 1-2 Yates & Yates .

Nuno Gomes — Haoyu Su.

Rogério Almeida — Vitória da casa, Ayuso.