Antevisão — Volta ao Algarve em Bicicleta
A INEOS não quer brincar com os outros meninos. É botar lume que isso passa.
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Introdução
Remco Evenepoel, Tadej Pogačar, Primož Roglič, Geraint Thomas, Michal Kwiatkowski, Tony Martin, Richie Porte. Tudo nomes de peso e que além da indiscutível qualidade têm em comum terem saído de terras algarvias com a vitória na última década. Este cartão de visita mostra bem o sucesso que a prova tem tido a afirmar-se como uma das preferidas para as principais estrelas mundiais começarem a preparar a sua época rumo aos grandes objetivos. Este ano até teve direito a aperitivo, e de qualidade, com a clássica da Figueira (onde o falso plano esteve presente) que provou ter potencial para se tornar a curto prazo numa paragem obrigatória a caminho do Algarve. A algarvia tem um gosto ainda mais especial pois dois dos três ciclistas portugueses que competem por vitórias de nível internacional (Andaluzia, Ruben? A sério?) estão presentes e já deixaram bem claro que vêm com ambição e com o objetivo de, empurrados pelos muitos portugueses na estrada, nos darem (mais) uma alegria.
O percurso
Etapa 1 — Apesar de não ser uma etapa completamente plana, a história diz-nos que acaba ao sprint. Jakobsen ganhou as últimas três vezes que aqui terminaram etapas e não vejo razão para achar que não vai repetir o feito.
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Etapa 2 — Primeiro de dois importantes dias de montanha da prova. Como sempre o Alto da Fóia é precedido da subida à Picota e apesar de não costumar fazer grandes diferenças, decide desde logo qual o lote de ciclistas que irá a disputar a geral final. Quando há vento costuma decidir-se ao sprint pois a exposição a que os ciclistas estão sujeitos acaba por inibir os mais aventureiros.
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Etapa 3 — Mais uma para o Jakobsen que desta vez a concorrência decidiu nem vir. Desculpa Kristoff, adoro-te, mas vais ganhar um sprint puro ao Jakobsen? Também me parecia...
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Etapa 4 — Não há Volta ao Algarve sem a parede mais famosa de Portugal. São 2.5km a quase 10% e como se não bastasse, nos últimos anos até passam lá duas vezes, para verem bem as vistas. É aqui que os trepadores têm que ganhar tempo aos contrarrelogistas se querem sonhar com a vitória final. É a subida mais dura e que mais espetáculo nos tem trazido. Tenho tanto gosto e respeito por ela, que nem vou fazer trocadilhos musicais com o seu nome.
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Etapa 5 — Outra das características habituais da prova algarvia é providenciar um teste contra o cronómetro numa extensão já considerável para esta altura da época. Este ano volta a ser colocado no final e coroará o grande vencedor desta edição. 25 quilómetros planos na cidade de Lagoa, perfeito para os especialistas colocarem toda a sua potência na estrada.
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O que esperar
O perfil da prova faz lembrar aquele tipo de pessoas que quando vão ao seu restaurante favorito pedem sempre a mesma coisa. Porque sabem que é bom, muito bom. Dois sprints, uma subida longa, uma chegada explosiva e um contrarrelógio tem sido a receita do sucesso da organização e em equipa que ganha não se mexe. Por isso espero duas etapas que, caso não aconteça um adormecimento do pelotão, acabarão ao sprint. Na Fóia acredito num grupo de 10/15 ciclistas a chegarem dentro da margem dos dez segundos. A partir daqui as previsões ficam mais difíceis, e as etapas mais emocionantes.
A emoção a sério estará guardada para os últimos dois dias. Até porque para alguém poder fazer frente à INEOS terá de ser ousado. A equipa britânica tem os melhores contrarrelogistas em prova e de longe, mas de muito longe, o melhor bloco em prova. Temo que isso possa tirar alguma emoção à corrida se decidirem controlar a(s) etapa(s) de forma conservadora para que se façam o mínimo de diferenças possíveis e levar a decisão somente para o dia final, mas a INEOS de hoje dá-me esperança de que não o façam e que tentem não só ganhar, mas fazê-lo com estilo.
Será na BORA - hansgrohe, com Higuita e Hindley, e na UAE-Emirates, com João Almeida, que poderão estar as maiores dores de cabeça para os britânicos. Estes dois blocos terão que, quem sabe aliados, tentar fazer algo fora do comum para levarem a melhor. E deixar o conservadorismo em casa.
Favoritos
Thymen Arensmann — Mostrou muito melhores pernas em Valência do que os resultados indicam e tem aqui um percurso à sua medida, onde o esforço individual lhe poderá dar vantagem sobre os adversários e, sobretudo, sobre os colegas.
Daniel Martínez — O homem que fechou no pódio da edição da época passada vem com intenções, e condições, de melhorar essa prestação. Defende-se bem no contrarrelógio, tem boa ponta final, um equipaço e um lugar a defender dentro da hierarquia.
João Almeida — O João de 2022 não tem muitas hipóteses aqui. A capacidade em subidas explosivas e no contrarrelógio parecem ter dado um passo atrás em detrimento do rendimento na alta montanha. Mas o português tem dado a entender que virá mais forte este ano e, inspirado por pela primeira vez liderar a equipa no seu país, é o maior candidato a contrariar a INEOS. Vamos João.
A não perder de vista
Sergio Higuita/Jai Hindley — Eu não faço ideia nem vejo como e onde eles podem ir buscar o tempo que perderão no último dia. Terão de atacar de longe e trabalhar em equipa. Se há ciclistas que podem chegar à derradeira etapa de amarelo são estes dois, com especial foco no colombiano. E depois é esperar que a camisola de líder dê asas.
Tobias Foss — É bem mais provável ele ganhar aqui do que era ganhar o campeonato do mundo de contra-relógio o ano passado. Este argumento será válido para quase todas as corrida onde participar, mas apresentou-se em forma no Algarve o ano passado e é dos poucos que pode aguentar nos dias mais duros para depois ganhar tempo aos principais favoritos no último dia.
Filippo Ganna — Eu acho que para a Fóia chega bem. Depois é ver se perde mais no Malhão do que ganha no contra-relógio. Parece-me que a aposta da equipa recairá noutros homens e será remetido ao trabalho, mas o italiano já nos surpreendeu algumas vezes.
Thomas Pidcock — O prodígio britânico abre aqui a época de estrada e não me admirava nada que ganhasse a etapa rainha ao quarto dia. Não tem muitos registos de topo em esforços individuais mas com talentos destes é melhor não arriscar.
Bauke Mollema — Quanto mais velho está, melhor é na corrida contra o cronómetro. É um long shot mas olhando para a startlist não há muitos que, mesmo em dias bons, possam ter uma hipótese neste percurso. E eu acho que o neerlandês a tem.
Rui Costa — Eu já não digo nada.
Apostas falso plano
Lourenço Graça — Anda, João. Mostra quem manda.
Miguel Branco — Pippo Ganna. O melhor trepador em prova.
Miguel Pratas — Mais uma vez, um futuro vencedor de Grandes Voltas ganhará a Volta ao Algarve. Nesta startlist só há um voltista com essa capacidade: Thymen Arensman.
Ricardo Pereira — O Foss vai ganhar a geral ao Ganna no TT.
Henrique Augusto — "Todos" sabem que eu cumpro a minha função. Bota lume.