Antevisão — Trofeo Alfredo Binda - Comune di Cittiglio
Quem quiser ganhar o primeiro Monumento feminino do ano não bai ter a Binda fácil.

Introdução
Toquem as trombetas. Este é o primeiro Monumento da época Women's World Tour (pelo menos enquanto não for criado o Gran Premio Miguel Branco). Será também, para muitas, um aquecimento para o estoiro de corrida que será a Milano - Sanremo deste ano.
Vamos a um momento de história: quem foi Alfredo Binda? Foi apenas um cinco vezes vencedor da Volta a Itália, tricampeão mundial e um classicómano de excelência. No fundo, um Ciccone que de facto vence qualquer coisa (dizem que o mau feitio era o mesmo).
Binda não era conhecido pelo spettacolo; subia bem, pedalava forte e ainda ia ao sprint no final. Nesta corrida do pelotão feminino, quem quiser ganhar vai ter de fazer exatamente o mesmo. É o destino.

O percurso
Esta é uma daquelas clássicas que põe as "lombas" em Lombardia. São 152 km que começam junto à costa italiana e depois se metem às voltas lá para umas subidas que eles encontraram.
Há uma diferença para o ano passado: as ciclistas dão mais uma volta ao circuito — total de seis — o que vai endurecer a corrida e favorecer quem se dá melhor nas subidas. Tal como Binda gostaria.

A corrida é um rompe-pernas constante que tem tudo para aquecer nas últimas duas voltas, sobretudo no paredão que é Casale (800m em média de 6.9%) e no esforço constante de Orino (2.5km em média de 4.8%). Será aqui que as favoritas para uma chegada a solo tentarão descolar e que as restantes terão simplesmente de lidar com isso.


No final, uma reta para o sprint, só para o caso da corrida não estar arrumada antes.
O que esperar?
Eu sei lá, menina. A loucura do mercado de transferências no pelotão feminino, com todo o drama que lhe veio associado, já mostrou que este ano as equipas estão mais competitivas, as startlists estão mais fortes e os resultados (ainda) mais imprevisíveis.
É um percurso em circuito numa corrida do WWT, o que significa que o pelotão não vai poder adormecer para a fuga. Depois da vitória distante na Omloop, muitas ciclistas virão com vontade de estragar a festa às favoritas e ganhar um lugar ao sol da Lombardia.
Nos últimos anos, houve duas tendências: chegadas ao sprint em pelotão reduzido (só deu Balsamo); um ataque a solo que saca uma vitória (Shirin van Anrooij em 2023, uma masterclass de Longo Borghini em 2021). Há uma forte possibilidade que o 1.º cenário se repita, tendo em conta que as equipas parecem vir construídas para endurecer o pelotão nas subidas, fechar espaços às atacantes e deixar o resultado decidir-se mesmo na linha de meta.
Mas contra estes factos, tenho abaixo um forte argumento: a ciclista que se segue não estava cá. Attenzione, prego.
Favoritos
Demi Vollering — Desde o Tour do ano passado que Vollering está num outro Tour em nome próprio. Ficou a quatro segundos da amarela e agora parece que os tenta recuperar em cada prova: mudou de equipa, mudou de tática (o que uma equipa 100% centrada nela faz...) e trouxe as pernas fortes. Este ano, já venceu a Strade Bianche, a Comunitat Valenciana e só não levou a Omloop porque o pelotão adormeceu a meio. Para mim, é a melhor ciclista da atualidade. E se uma ciclista com motivação é forte, nunca subestimem o poder da vingança.
Elisa Balsamo — Vencedora em 2024 e 2022, segunda em 2023. Vem acompanhada de uma Lidl pronta a deixar tudo nas subidas pela sua líder: tem Spratt, tem Markus, e foi exatamente para isto que foram buscar Fisher-Black. Se há chegada rápida, há Balsamo.
Elisa Longo Borghini — Mudou-se este ano para a UAE precisamente para isto. Faz tudo bem: sobe muito, limpa clássicas e vai aos sprints. Adoeceu na Strade Bianche mas, se tiver recuperado, é obrigatória. Chegada em grupo muito reduzido? Cuidado com ela.
A não perder de vista
Anna van den Breggen — Mais um capítulo na saga "mestre vs. aprendiz" com Vollering. Se havia dúvidas desde o regresso da reforma, não demorou muito a desfazê-las: duas corridas, dois pódios. Está a subir bem e já geriu melhor o esforço na Strade. Na escola onde as outras andam, já ela foi professora. Um ataque no timing certo e a lição fica dada. Vamos lá, vai ser desta.
Soraya Paladin — A Canyon tem este hábito irritante de levar equipas que dão para meia dúzia de líderes. Para esta prova, dão rédea solta a Cecilie Ludwig e devem pôr o jovem comboio de montanha (Bradbury, Bauernfeind, Niedermaier!) ao serviço de Paladin. Últimas quatro edições, quatro top-5. Está tudo no apelido: se a corrida servir, ela vai dar molho.
Puck Pieterse — A máquina do ciclocrosse já mostrou que está a andar bem e quer fazer melhor que o pódio do ano passado. Se a corrida for muito atacada, tem as condições ideais para mais um belo resultado. Se acredito? Não. Se quero acreditar? Muito.
Marianne Vos / Pauline Ferrand-Prévot — As apostas da Visma. Uma vem do ciclocrosse; a outra vem da reforma. Uma venceu a Amstel do ano passado; a outra já fez pódio na Strade deste ano. As duas estão aqui por estatuto e para eu não parecer incompetente. E se as abelhas picam?
Liv AlUla Jayco — O ciclismo é um desporto de equipa e a Jayco é inteiramente sobre isso. Parecem um recrutador no LinkedIn: são jovens, dinâmicas e focadas em objetivos. Muita atenção para Smulders, Maví Garcia (um clássico) e Trinca Colonel, que é montanhista mas está a andar muito. Fiquem de olho.
Apostas falso plano
André Dias — Para as outras fica curto, por isso ganha Longo.
Fábio Babau — Demi Lovering.
Henrique Augusto — Anna van der Breggen para isto ficar ainda mais quentinho.
O Primož do Roglič — Demi Vollering, está em modo Pogačar.
Miguel Branco — Marianne Vos. Uma rainha é sempre uma rainha.
Miguel Pratas — Elisa.
Nuno Gomes — Puck. Cx rullz, motherfu***rs.
Rogério Almeida — Esta vai para a Suíça... Desculpa Rüegg, é onde vive a Demi.