Antevisão — Tour de Romandie

Bota Luz 💡

Antevisão — Tour de Romandie

Introdução

Portugal tem tido uma tendência para ser feliz na Suiça, sobretudo naquilo que ao ciclismo diz respeito, e há esperança de se dar continuidade ás boas memórias. João Almeida chega a esta prova vindo de uma vitória impressionante no País Basco, num terreno que nem lhe assentava na perfeição, onde quebrou um jejum de vitórias à geral que durava há quase 3 anos. E agora? Agora é como o ketchup, mês amigos. As casas de apostas dão-no como favorito, não é só loucura tuga. É uma oportunidade ótima para pela primeira vez bater Remco Evenepoel (ou qualquer um dos aliens) numa geral WT e apesar do desafio não se avizinhar fácil, a condição imperfeita do belga e a forma assustadora do português permitem-nos sonhar com a vitória. E que bela seria.

É uma corrida de contrarrelógios, sobe e desde, e montanha. O João parece melhor no sobe e desce que nunca, no resto ele sempre foi bom. As contas serão então feitas entre o tempo que perde no contrarrelógio para Remco, e o tempo que lhe ganha na montanha. Isto se não aparecer nenhum outsider, sabemos o quão imprevisível é o ciclismo. E isto se o João, e a sua UAE, não se deixar apanhar adormecido num momento de corrida aleatório, como já aconteceu vezes demais, inclusivé este ano.

É tempo de se consolidar como o melhor dos outros e de provar que pode lutar com Remco. É uma prova importante para a afirmação do português na elite da elite do ciclismo. E por isso, apesar de não ser a maior das provas, está muito em jogo.

Bota Lume 🔥

Uma bonita imagem da felicidade portuguesa por terras helvéticas. (foto: CyclingNews)

O percurso

Prólogo (ITT) — Um percurso bastante técnico e que servirá para marcar as primeiras diferenças entre os homens da geral e para os especialistas neste tipo de esforços lutarem pelo 2.º lugar. Sem pressão, Ivo, a gente gosta de ti na mesma se não ganhares.

Saint — Imier — Saint - Imier (3km)

Etapa 1 — São apenas 3200 metros de desnível acumulado positivo ou, como se diz em suíço, uma etapa para sprinters. Não deve haver movimentações entre os candidatos mas queria destacar a passagem por Chaumont (3km a 12%). Ainda é longe da meta mas quando se abusa do Cha(u)mont às vezes acontecem coisas esquisitas. O quilómetro final do dia tem 7% de inclinação.

Münchenstein — Fribourg (195km)

Etapa 2 — Mais dureza mas novamente concentrada longe da meta. Abre logo com 7 quilómetros a 7%, para não virem ao engano. O vicio já está a bater e volta a dar-se um saltinho a Chaumont mas desta vez mais perto da meta (ainda assim a 50 quilómetros) que desta vez é realmente plana.

La Grande Béroche — La Grande Béroche (157km)

Etapa 3 — O dia mais suave da prova ainda assim termina com uma chegada durinha. É possível que os homens da GC se envolvam na luta pelas bonificações. Até este momento a corrida tem um aspeto previsível mas há terreno para algumas loucuras se houver malta para ai virada.

Cossonay — Cossonay (183km)

Etapa 4 — É o monstro desta corrida e onde provavelmente se decidirá a mesma. Já foi assim a última vez que a corrida aqui passou quando, em 2023, Adam Yates venceu e sentenciou a GC. A corrida poderá ser endurecida até à subida final mas tudo indica que as decisões ficarão reservadas para esse momento.

Sion — Thyon 2000 (128km)

Quando digo monstro, é monstro a sério. O Thyon 200 impõe respeito.

Ora bem, esperemos que seja aqui que o João faça a exibição da sua carreira.

Etapa 5 (ITT) — Dia final é de esforço individual. As pernas já vão doer um bocadinho e está cá o dominador da especialidade, por isso o vencedor não é difícil de adivinhar. A questão é se chega aqui ainda em condições de poder vencer a corrida. Como não podia deixar de ser, é um percurso ondulado que esta malta não adora planos, nem falsos.

Genève — Genève (17km)

O que esperar

Vamos partir a corrida em duas partes: AT e DT (antes de Thyon vs depois de Thyon). Primeiro desejo português, que nós estamos ambiciosos, é Ivo Oliveira ser o primeiro camisola amarela da prova, dando sequência à ótima forma que evidenciou no Giro d'Abruzzo. Mas tem concorrência em nomes óbvios como Küng e Bissegger, que jogando em casa vão querer brilhar, e Remco Evenepoel. Mas também de especialistas em curtas distâncias, como Johan Price-Pejtersen e Maikel Zijlaard. Curioso para ver também o novo fenómeno da Visma, Matthew Brennan, não só neste primeiro dia como em todos os dias de AT. Estas etapas serão muito imprevisíveis, tanto podem dar para "velocistas" se a corrida for muito calma, como Bittner, Menten ou Aniołkowski, como para homens mais versáteis como Vendrame e Bettiol como para fugas ou late attacks de homens secundários que não vou enumerar todos porque isso ainda mandava a energia abaixo.

Depois chegamos a Thyon 2000, e malta, sigurem-se. Estão reunidas as condições para um grande dia de ciclismo. É importante para os GC boyz chegarem aqui sem perdas de tempo para poderem disputar entre si a vitória. Os mais fracos no esforço individual do dia seguinte terão de ser mais ousados, e isso deverá ser bom para a corrida, mas a subida deverá ser dura o suficiente para colocar boas distâncias entre os ciclistas. Ou, como se diz na gíria, as pernas colocarão cada um no seu lugar. Acredito que a UAE endurecerá a prova na crença de que João Almeida seja o mais forte e consiga mostrar isso.

Segue-se o ITT. Eu diria que o João precisa de 30 segundos sobre o Remco à entrada para este dia para estar como principal favorito à vitória. Remco é diabólico neste tipo de esforços. Dos possíveis outsiders, falarei em seguida, mas acredito mesmo que a disputa será entre estes dois amigos de longa data.

No captions needed. (foto: PCM)

Favoritos

Joao Almeida — Está na hora, amigo. Para seres dos melhores tens que ganhar aos melhores, e está aqui uma ótima oportunidade para isso. Carrega, a gente empurra daqui.

Remco Evenepoel — Vem de duas super exibições, na Brabançonne e na Amstel, onde desafiou a lógica do ciclismo. Lógica essa que depois veio ao de cima com a falha na Liège, afinal os ciclistas também são humanos. Ainda assim, mostrou-se capaz e é um ciclista de uma qualidade completamente inquestionável. Será o favorito nos contrarrelógios, poderá até tentar surpreender nas primeiras etapas mais acidentadas, mas a minha dúvida recai onde sempre recaiu sobre Remco — na alta montanha. No último Tour mostrou muitas melhorias nesse sentido, mas este ainda não deverá ser esse Remco. Apesar disto, e como eu sempre digo, não se pode menosprezar um campeão desta dimensão.

A não perder de vista

Lenny Martinez — Está a andar bem, como prova o 4.º lugar na Flèche. Seixas vem a todo o vapor para lhe roubar o lugar de coqueluche dos franceses e é bom que o Lenny se despache. Será penalizados nos contrarrelógios mas é explosivo para as primeiras etapas e pode bater-se com os melhores, num dia bom, na alta montanha. A minha aposta para fechar o pódio.

Carlos Rodriguez — Gostei de o ver na Liège e é do melhor que há a subir montanhas a sério como o Thyon.

David Gaudu — Nunca se sabe, capaz do melhor e do pior. Capaz de bater Vingegaard no Paris-Nice e de ser dropado por mim no Granfondo aqui da terra.

Lennert van Eetvelt — Época assim-assim, está na hora de se chegar à frente. Uma vitória em etapa parece-me possivel, se a isso se aliar um top-5 na GC acho que o belga se podia dar por satisfeito. Notar que há dúvidas em relação à sua forma física, teve uma lesão no pé recentemente, mas eu parto sempre do principio que se estás à partida estás bem.

Aleksandr Vlasov — A concorrência na Red Bull está cada vez mais intensa, mas desta vez a liderança é totalmente dele. Está a ter uma época terrível, mas algum dia o jogo vira, não é?

Apostas falso plano

André Dias — Depois de um apagão, tudo Bota Lume.

Fábio Babau — João, mais forte que Remco. Onde é que eu já vi este filme?

Henrique Augusto — Eu aposto nele até quando não faz sentido, imaginem agora.

O Primož do Roglič — Saudades do tempo da Almeidada. Agora o João ataca, mas a luz está apagada.

Miguel Branco — Matthew Brennan. Até ganha na Thyon 2000.

Miguel Pratas — João Almeida. Se não se esquecer do carregador.

Nuno Gomes — Com Portugal às escuras, Bota Lume a brilhar.

Rogério Almeida — Thyon 2000, Remco nasceu em 2000, está escrito nas estrelas " Ganha Almeida".