Antevisão — Tour de Romandie

Na Suíça há bom chocolate e espera-se ciclismo de ataque. Tou feito um poeta. E acho que ganha o Ayuso.

Antevisão — Tour de Romandie
Tour de Romandie

Introdução

Na ressaca das Ardenas, vamos apanhar um fresquinho até às montanhas suíças, que este ano desiludem um pouco, para ser honesto convosco. Apesar de não ser a mais conceituada das provas WT, tem tido quase sempre vencedores de alto nível, como Geraint Thomas, Chris Froome, Richie Porte, Nairo Quintana, Cadel Evans e Primož Roglič. Isto mostra bem que é preciso ter boas pernas trepadoras para ganhar na Suíça e que a caminho de objetivos maiores, grandes ciclistas deixaram a sua marca por aqui. Pelo meio venceu Ilnur Zakarin também, faz parte. Não devia haver descidas.

Paisagens bonitas, startlist interessante e a alternativa também é ver a Volta à Turquia, né?

Arndt sprints to 2nd place in the finale stage of Tour de Romandie as  Caruso seals 3rd place in GC - Team Bahrain
Adam Yates todo contente a achar que ia ser co-líder no Tour. (foto: BikeRaceInfo)

O percurso

Prólogo (ITT) — Inferno fantasista. Não gosto de prólogos. Equipam-se todos para fazer dois quilómetros? Mais valia ficarem no hotel.

Etapa 1 — Duas voltas a um circuito que inclui duas "paredes". Uma curta e dura, outra mais longa e acessível. Para quem vem das Ardenas, nem vai dar pela diferença. É capaz de dar sprint suíço.

Etapa 2 — A primeira etapa de montanha também deve dar sprint suíço mas este entre trepadores.

Etapa 3 — Nem uma cronoescalada nem nada. Enfim. Ganha o Tarling.

Etapa 4 — Nem um Thyon 2000 nem nada. Enfim. A chegada a Leysin marcará as diferenças finais na classificação e definirá o vencedor. Acho difícil que vejamos ação antes da subida final, que é bastante inconstante.

Etapa 5 — Sprint entre Coquard e Dainese na etapa de consagração.

O que esperar

Tenho que confessar que não espero assim muito desta semana de corrida. O perfil não é particularmente interessante, as duas etapas de montanha não são muito duras e levam a crer que ficará tudo decidido apenas na subida final, e provavelmente, nos quilómetros finais da mesma, o que não é ótimo para o espetáculo.

O mais interessante será o confronto dos blocos fortes aqui presentes, nomeadamente da UAE, que previsivelmente assumirá o papel de equipa dominadora e a principal favorita a repetir o triunfo de 2023, dado que conta com Adam Yates, Juan Ayuso, Brandon Mcnulty e Pavel Sivakov. Provavelmente será o jovem espanhol o líder pois tem vantagem perante Yates e Sivakov nos esforços individuais e sobre Mcnulty na montanha.

Ainda assim, há blocos fortes que lhes podem fazer frente, com duplas perigosas como Hindley e Vlasov (Bora-Hansgrohe), Gaudu e Lenny Martinez (Groupama-FDJ), Bernal e Arensman (Ineos), Ciccone e Tao Geoghegan Hart (Lidl-Trek). Numa prova com tão poucos momentos para se fazer diferenças, o jogo tático coletivo pode ser decisivo para as contas finais.

Acredito que a primeira seleção acontecerá na etapa dois, reduzindo o lote de contenders a uns 15 nomes e que depois o contrarrelógio do terceiro dia servirá para decidir quem ataca e quem defende na decisiva chegada a Leysin, onde os trepadores atrasados terão que atacar de longe e onde quem estiver na liderança terá de a proteger com unhas e dentes.

Fora da luta pela GC, estão aqui presentes alguns nomes interessantes aos quais vou tomar atenção. Antes de mais a Joshua Tarling, que tem aqui a hipótese de vencer uma ou duas etapas nos seus primeiros testes a sério do ano na especialidade de contrarrelógio. Os principais concorrentes nesta vertente estarão dentro da própria equipa, com um até agora desapontante Magnus Sheffield e um Ethan Hayter que mais uma vez deverá aliar estes esforços à luta pela vitória nos sprints. Sprints esses onde terá a concorrência de nomes de segunda linha e que vêm aqui procurar uma rara vitória WT, como Bryan Coquard, Alberto Dainese, Milan Menten, Simone Consonni e Emīls Liepiņš.

Para fechar, estou curioso, como sempre e porque sou doente, para ver o que o Alaphilippe vem cá fazer. Será castigo do Uncle Pat?

Favoritos

Juan Ayuso — Depois de ganhar no Pais Basco, não me admirava nada de o ver repetir a dose. Anda muito no contrarrelógio e não vejo ninguém nesta startlist a colocá-lo sobre pressão nas montanhas.

Aleksandr Vlasov — Tem aqui uma boa hipótese de repetir a vitória obtida em 2022, contando com um bom bloco e com subidas ao seu jeito. Acho difícil alguém partir o bloco da UAE, mas a acontecer, este seria a minha primeira aposta.

A não perder de vista

Adam Yates — Venceu em 2023 mas a prova era bem mais dura, tanto nas chegadas em alto como nos contrarrelógios. Além disso, vem de um Giro d'Abruzzo onde se mostrou ainda longe do seu melhor nível. Só por isto não está na categoria acima embora seja, em teoria, o melhor trepador presente.

Alexey Lutsenko — Apresentou-se a um nível fortissimo no Giro d'Abruzzo, onde deu baile à UAE. Ele por norma faz este tipo de exibições e depois desaparece uns três meses mas pronto, nesta forma não é de descartar até porque o percurso lhe assenta bastante bem.

Ilan van Wilder — Rara e muita reivindicada oportunidade de liderar a equipa, como tal deve ter aqui um dos maiores objetivos da época e o perfil vai de acordo às suas características.

Thymen Arensman — Dos poucos nomes nesta startlist que estarão presentes no Giro, daqui a 15 dias. Isso leva-me a crer que chegará aqui já com o ponto de forma bastante avançado e com condições para continuar a boa época, tirando também partido dos contrarrelógios para poder lutar pelo pódio.

Egan Bernal/Lenny Martinez/Giulio Ciccone — Vão perder demasiado tempo nos esforços individuais para poderem lutar pela vitória mas contem com eles nos dias com chegada em alto e num top-10 final.

Apostas falso plano

Fábio Babau — Juan Ayuso, será que dá?

Henrique Augusto — Ayusada muita fácil.

Lourenço Graça — Lenny Martinez a dar seguimento à bela temporada.

Miguel Branco — Juan Ayuso. Recuperado da ideia triste de correr as Ardenas.

Miguel Pratas — 1-2 para a UAE com Ayuso e Yates. Thymen Arensman fecha o pódio.

Ricardo Pereira — Ayuso dá-se bem em terras helénicas.

Sondagem falso plano