Antevisão — Tour de Romandie
Vá, despachem-se que a gente quer o Giro.
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Introdução
Quatro línguas oficiais, 26 cantões, chocolates e relógios dos bons. A isto acrescenta-se ainda a famosa neutralidade suíça. O World Tour move-se agora para terras da Romândia, uma das zonas francófonas do país, onde desde 1947 decorre a prova por etapas da região.
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A Volta à Romândia foi criada pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial para celebrar os 50 anos da Union Cycliste Suisse, uma de duas federações de ciclismo que a Suíça tinha — esta era a federação francesa, havia também a alemã: Schweizerischer Radfahrer Bund. A prova foi ganhando a sua importância devido ao seu traçado particular, que combinava contrarrelógio e subidas alpinas. Melhor: decorria antes da Volta a Itália, por isso foi sendo utilizada a caminho da primeira grande volta da temporada e estabeleceu-se como essencial no calendário do ciclismo internacional. Bartali, Merckx, Hinault, Zakarin, alguns dos nomes maiores da modalidade venceram aqui. Em 1996, as duas federações fundiram-se, aparecendo a Swiss Cycling. Mas nem por isso a Romândia desapareceu ou fez uma fusão com a Volta a Suíça.
A edição de 2023 tem um percurso algo estranho, que parece ficar a caminho de ser alguma coisa sem conseguir chegar a sê-la. Talvez por isso, e pela severa proximidade com o Giro d'Italia, a startlist não seja propriamente uma horta de talento. Rui Costa, que tem quatro pódios nesta prova (2012, 2013, 2014 e 2019), é o líder da Intermarché e da armada lusa, que conta ainda com Nélson Oliveira como fiel escudeiro de Matteo Jorgenson e Fernando Gaviria na Movistar. Assim como com Ivo Oliveira, que também terá como principal missão a proteção dos líderes mas que, sendo o único homem rápido da equipa, poderá tentar a sua sorte. Mas o maior factor de interesse desta corrida é o regresso de Juan Ayuso à competição depois de uma lesão que o afastou dos primeiros meses de estrada — a sua última aparição foi na Vuelta de 2022.
O percurso
Prólogo — É o chamado pontapé de saída. Só para ver quem sai como líder. E como é sempre bonito ver uma imagem de uma etapa plana no Pro Cycling Stats. Faz-me lembrar o Alentejo e as suas planícies cheias de oliveiras. Que melancolia. Que desejo de férias.
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Etapa 1 — E agora os penhascos do Alto Minho e as suas cascatas naturais. Bom, agora a sério, não podiam colocar as duas segundas categorias consecutivas mais perto da meta? Cavendish não passa. Gaviria talvez passe. O que quer que aconteça, parece um bocado improvável ver alguém a querer acelerar a mais de 100 quilómetros da meta. Portanto, diria que dá sprint. Se as equipas dos poucos sprinters tiverem forças para isso. Se não, pode dar fuga.
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Etapa 2 — Ora, aqui já deve dar para brincar qualquer coisa. Não é propriamente muito duro, mas as subidinhas curtas perto da meta já devem dar para mexer qualquer coisa e ver os homens da geral a disputar a coisa entre si. No entanto, gente como Hayter, Cort ou Hermans pode ter outras ideias. Poucas diferenças, julgo.
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Etapa 3 (ITT) — Isto pode ser engraçado. Um contrarrelógio à Volta à Romândia: tudo menos plano. E que vai acima dos mil metros de altitude. Ainda que a inclinação não seja muito elevada, vai criar dificuldades. Ao mesmo tempo: vai beneficiar os não-especialistas.
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Etapa 4 — A edição 2023 vale por esta etapa. Quando aqui chegaram em 2021, venceu Woods. O leque de trepadores não é propriamente o mais talentoso, mas vejamos do que são capazes nomes como os irmãos Yates, Bardet, Jorgenson, Izagirre, etc.
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Olhem bem: nos últimos oito quilómetros, o mais baixo que temos de pendente média por quilómetro é 7.1%. Agora pensem. Thyon 2000 não parece o nome de uma nova vassoura do Harry Potter?
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Etapa 5 — Esta é uma daquelas etapas que eu não consigo entender. Depois de uma subida épica no dia anterior, temos uma coisa confusa, que nem é assumidamente para os sprinters, nem é para geral. Portanto: ou as equipas dos sprinters, que por esta altura já devem ter as pernas cansadas, fazem pela vida, ou é mais uma oportunidade para a fuga.
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O que esperar
A espera real é pelo Giro. Entretanto, por terras helvéticas, fazemos uma espera activa. É a vida possível, queridos leitores. O primeiro ponto é: quanto tempo vão perder alguns dos principais favoritos no prólogo? Nomeadamente, Higuita (se é que ainda é favorito a alguma geral de corridas por etapas), Bardet, Woods e Adam Yates. Os outros, Simon Yates, Izagirre, Jorgenson, Mäder e Caruso, devem aguentar-se bem.
A partir daí, é perceber que diferenças existem no contrarrelógio da terceira etapa, que sendo tão acidentado, pode não ferir tanto aqueles que têm mais dificuldades contra o cronómetro. O resto da história conta-se na Thyon 2000, um paredão que vai fazer diferenças a sério e que vai decidir naturalmente a geral — para aqueles que ainda não tiverem ficado pelo caminho.
As três etapas que sobram (a primeira, a segunda e a última), devem ficar para a luta entre a fuga, os poucos sprinters presentes (Cavendish, Gaviria, Nizzolo, Vernon, Viviani, Dainese) e os homens rápidos como Hayter, Cort, Hermans, Menten e Kamp. Alguns dos sprinters puros terão alguma dificuldade em passar as subidas da primeira e segunda etapas, mas tudo vai depender da forma como as tiradas vão ser feitas. Se os blocos da EF-Education Easy Post, INEOS-Grenadiers e da Alpecin-Deceuninck (principalmente estes três) quiserem fazer descolar os principais sprinters, estes poderão ter muito poucas oportunidades. A INEOS, não tendo propriamente um candidato à geral, pode tentar levar Hayter a vitórias em etapas.
Nota final: esperem suíços nas fugas.
Notal final II: espreitem Bernal e Ayuso para ver como estão os miúdos.
Favoritos
Simon Yates — No papel, é, possivelmente, o favorito número um. Mas a teoria e a realidade nem sempre é um binómio que se adequa ao britânico. Vem aqui preparar o Tour, portanto ainda tem tempo para afinar o pico de forma.
Adam Yates — Tirando o UAE Tour, a época não está propriamente a ser feliz na nova equipa. Tem aqui uma oportunidade de virar a página e de vencer uma prova por etapas antes de se voltar para a preparação para o Tour onde vai estar ao serviço de Pogačar. No entanto, não tem estado muito bem no contrarrelógio e isso pode ser um problema — embora a subida de Thyon 2000 tenha quilometragem suficiente para recuperar algum tempo perdido até então.
A não perder de vista
Ion Izagirre — A forma é boa, anda bem contra o relógio, mas nunca esqueçam: não estamos em Espanha.
Romain Bardet — Parece estar bem, vejamos se o prólogo e o contrarrelógio não o vão prejudicar. Um dos trepadores mais fortes em prova.
Gino Mäder — É suíço, foi segundo em 2022 depois de uma cronoescalada impressionante na última etapa. Vai ao Giro, portanto a forma deve estar no sítio. Mas nunca fiando.
Matteo Jorgenson — É uma das maiores surpresas da temporada, fechando em oitavo no Paris-Nice e vencendo a Volta ao Omã — já para não falar do quarto lugar na E3 e no nono lugar da Volta a Flandres. Cuidado.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Simon Yates. Dos melhores, em provas que antecedem grandes provas.
Henrique Augusto — Gino Mäder. Factor casa e tal.
Lourenço Graça — Yates. Um deles.
Miguel Branco — Simon Yates. Não é que tenha muita fé nele, mas também não estou a ver mais ninguém muito forte.
Miguel Pratas — Neste momento só há um corredor capaz de bater os irmãos Yates: Jefferson Alexander Cepeda.
Ricardo Pereira — Magnus Cort. No meio de tantos pinos parece-me ser a escolha menos arriscada.