Antevisão — Tour de France Femmes
Agora é que o Tour de France mais emocionante vai começar.

Introdução
Tour de France Femmes avec Zwift, a corrida mais desejada do circuito feminino, a corrida onde todas as ciclistas querem participar, também a corrida mais longa neste momento do calendário feminino, com um total de nove etapas e 1.165 quilómetros. Mas ao mesmo tempo, é das provas por etapas mais recentes e, sendo a mais nova das três grandes voltas, vai apenas para a sua quarta edição — a ASO decidiu voltar com o Tour de France Femmes para o modelo de prova por etapas em 2022.
A primeira tentativa de criar um Tour de France Féminin foi em 1955, pelas mãos do Jean Leulliot — ele tinha relançado em 1951 o Paris-Nice, uma corrida que estava parada fazia cinco anos —, na altura uma prova de cinco etapas e com 41 ciclistas, realizou-se no início do Tour de France masculino. Mas não foi um sucesso, principalmente na imprensa. A segunda tentativa e já com mais sucesso surgiu em 1984... Esperem, não vamos tornar nisso uma crónica da história do Tour feminino, pois não?
Ao longos dos anos existiram duas versões do Tour feminino, a oficial e a não oficial.
Tour feminino (oficial):
- 1955 — Tour de France Féminin;
- 1984 - 1993 — Tour de France Féminin — com alteração de nome em 1990 para Tour de la CEE Féminin;
- 2014 - 2021 — La Course by Le Tour de France;
- 2022 - 2025 — Tour de France Femmes — no primeiro ano, e depois Tour de France Femmes avec Zwift.
Tour feminino (não oficial):
- 1992 - 2009 — Tour de France Féminin — até 1998, ano em que alterou o nome para Grande Boucle Féminine Internationale, por razões legais não podia usar um nome que não lhe pertencia.
Um facto curioso desta prova: a primeira edição, em 1992 foi vencida por Leontien Zijlaard-van Moorsel, nada mais nada menos que tia do Maikel Zijlaard, atual ciclista da Tudor.
Entre 2010 e 2013 as ciclistas não tiveram Tour de France. Mas graças um grupo de ciclistas encabeçadas pela Rainha Marianne Vos e Emma Pooley, deram voz a um movimento do pelotão feminino, e criaram uma espécie de petição pública chamada "Le Tour Entier", com cerca de 100 mil assinaturas. Como consequência do seu esforço, conseguiram que a ASO criasse a La Course by Le Tour de France em 2014.

Agora um pequeno rescaldo do Tour do ano passado, que foi das provas etapas mais disputadas e dramáticas que tivemos o prazer de assistir nos últimos anos.
Começou nos Países Baixos, passou pela Bélgica e apenas durante a quinta etapa é que entra em França. Demi, que era líder da prova e era a vencedora em título, caiu a 6 quilómetros da meta dessa mesma etapa, mas ninguém esperou por ela, nem adversárias, e das colegas só mesmo a Mischa esperou e ajudou no que conseguiu. O resto das companheiras que estavam na frente, ninguém esperou, e Blanka Vas até venceu a etapa. Demi entrou sozinha a 1:47, perdendo a liderança para a Kasia Niewiadoma.
Etapas 7 e 8, etapas de montanha e luta pela geral. Na etapa 7 com chegada a Le Grand-Bornand, Demi tentou de tudo mas apenas venceu os segundos de bónus na meta. Na etapa 8 a conversa foi outra, Niewiadoma entra para a etapa em 1.° e com 1:15 sobre a Demi que estava em 7.° da geral, e a etapa foi das mais magníficas que se viu nos últimos anos, a Demi vence a etapa mas fica em 2.° na geral, a apenas quatro segundos da Niewiadoma que assim venceu. E a Rooijakkers ficou em 3.° da geral, apenas dez segundos atrás da Niewiadoma.
Para quem for subscritor da Max, deixo o link para a etapa completa. Os últimos 58 quilómetros valem a pena. Deixo-vos em baixo o resumo desta etapa épica.
O percurso
Etapa 1 — Inicio rápido (etapa curta, 78.8km) mas com algum sobe desce, e no fim as ciclista entram em um circuito, e dão um total de três voltas. Circuito esse que tem como final o Côte de Cadoudal (1.8km @ 6,1%), o mesmo do Grand Prix du Morbihan.

Etapa 2 — Um pouco à imagem da etapa 1, só que esta com mais dureza e com mais quilometragem (110.4km). Esta etapa também será finalizada em circuito, no qual as ciclistas vão dar duas voltas, e será finalizada numa rampa de 1100m a 4.7%. Este será o mesmo final da prova Tour du Finistère.

Etapa 3 — O Tour não quis facilitar as sprinters e colocou alguma dureza numa das etapas mais longa da prova (163.5km). O que pode parecer uma etapa simples, tem 1050m de desnível positivo acumulado e a entrada em Angers com um muro de 670m a 3.6% já dentro dos 10 km finais. E não estando contentes ainda colocam o final em ligeira subida.

Etapa 4 — Esta sim a mais plana das chegadas, a etapa com menos desnível acumulado mas novamente com um muro de 600m a 4%, a 3 quilómetros da meta.

Etapa 5 — Uma etapa que apesar de não ter muitas montanhas categorizadas, é feita grande parte dela em constante falso plano, e sempre ouvimos dizer "não mata mas mói". E aquele final com um sprint bonificado, junto com a subida de 3.ª categoria Le Maupuy (2.7 km @ 5.3%) já dentro dos últimos 15km, será uma etapa dura.

Etapa 6 — A primeira das quatro etapas de montanhas. Uma etapa de 123.7km, onde nos últimos 67km está concentrada a dureza da etapa. Começam a subir ao quilómetro 57 e só param no topo do Col du Beal 10.3km @ 5.6 %), que fica a 79.5km da meta, ou seja sobem 22km mas só 10km são categorizados. Após a descida ainda vão encontrar o Col du Chansert (6.4km @ 6.4 %) e ainda sobem Valcivières (4.6km @ 5.1%) que decidiram colocar um sprint intermédio mas podia perfeitamente ser uma 3.ª ou 2.ª categoria de montanha.

Etapa 7 — Podiam ignorar a descida e acabavam no topo, é apenas a minha opinião. Com os primeiros 107km mais planos que as etapas para o sprint, as ciclistas vão apanhar o Côte de Saint-Franc (3.8km @ 7%), e depois vão subir durante quase 20km onde começam com o Côte de Berland (1.2km @ 7.2 %) em que os seus primeiros 600m têm média de 10.6%. Após isto, continuam a escalar e só param no topo do Col du Granier (8.9km @ 5.3%). Depois têm uma descida com cerca de 18km até à meta.

Etapa 8 — A etapa rainha da prova, começa a subir e acaba a subir. Logo para abrir as hostilidades de uma etapa de 111.9km, as ciclistas vão diretas ao assunto e sobem ao Col de Plainpalais(13.3km @ 6.3%). Até chegar à "Madalena", as ciclistas vão ainda passar pelo Côte de Saint Georges d'Hurtières (5,1km @ 5.4%), que parece uma lomba, quando comparada com a subida final Col de la Madeleine (18.8km @ 8%).

Etapa 9 — E para coroar a vencedora do Tour as ciclistas ainda têm um dia duro pela frente. Para chegar ao fim dos 124km as ciclistas vão passar por Côte d'Arâches-la-Frasse (6.3km @ 7.1%), Col de Joux-Plane (11.6km @ 8.5%) e Col du Corbier (5.9km @ 8.3%) e os últimos 24km são em falso plano, com o final em ligeira subida.

O que esperar
Começando pelas sprinters, espero o normal da Wiebes, e sendo que ela cada vez está a subir melhor, não descarto que as quatro primeiras etapas tenham o nome dela na discussão. Quem diz a Wiebes também tem de colocar a Rainha Marianne Vos.
Na luta pela geral, é esperado um claro domínio da Vollering, pois vem com o orgulho ferido de ter perdido o Tour de Suisse Women para sua antiga colega, apesar de achar que não vai ser ela a ganhar o Col de la Madeleine.
Niewiadoma a detentora do titulo, vem fazendo uma época de menos a mais, e vai dar muita luta pela geral, apesar de achar que o Col de la Madeleine parece ser um pouco duro demais para ela. Mas ela este ano também parece que mudou a sua forma de treinar. E caso perca algum tempo na geral, tem sempre aqueles ataques de longa distância — a última etapa parece que foi feita para ela atacar.
A Longo Borghini vem de ganhar o Giro, e a Reusser de fazer segundo, as duas não vão dar de barato o Tour.
Favoritas
Demi Vollering — Perdeu o ano passado da forma que foi, este ano quer a vingança.
A não perder de vista
Elisa Longo Borghini — É italiana mas parece que está como o vinho do porto, quanto mais experiencia adquire, melhor ciclista e mais importante se torna.
Marlen Reusser — Apesar da época longa para ela, não é de baixar o braços e esta temporada já provou conseguir ganhar à Vollering.
Katarzyna Niewiadoma — Por tudo que já mostrou no passado, e por nunca deitar a toalha ao chão, vai tentar e vai inventar maneira de tentar ganhar e dar espetáculo.
Sarah Gigante — Não podia deixar de fora a melhor trepadora do Giro. Será que a Vollering a consegue acompanhar no Col de la Madeleine?
Apostas falso plano
André Dias — Eu sei que disse Demi no podcast, mas eu estou mesmo é a torcer pela Sarah Gigante.
Fábio Babau — Demi, se não cair e a equipa atacar.
Henrique Augusto — O céu é azul. O Boss passeia, a Boss domina.
O Primož do Roglič — Demi quase tudo e quase tudo foi demais.
Miguel Branco — Demi Vollering. E acho que se ela conseguir ganha por quatro segundos.
Miguel Pratas — Demi Glace de Vollering. Até apitam.
Nuno Gomes — Demi... mas com receio por causa do ciclo menstrual coincidir com LBL.
Rogério Almeida — E se não perder só no Col de la Madeleine para a Gigante?