Antevisão — Ronde van Vlaanderen - Tour des Flandres
Todos contra a Alpecin. Mathieu, sigura-os.
Introdução
Não sei quanto a vós, mas esta é a minha corrida preferida do calendário de ciclismo. A sua extensão, dureza, paisagens e importância histórica tornam-na, para mim, o monumento dos monumentos. E não há edições dececionantes. Há sempre emoção, surpresas no top-10, ataques dos outsiders a 100 quilómetros da meta. É aqui que se constroem as lendas do ciclismo flandriano, local tão especial e tão apaixonado pela modalidade.
Há quem esteja desmoralizado, legitimamente, com esta edição, derivado dos infortúnios recente que nos roubaram mais uma épica batalha entre Mathieu van der Poel e Wout van Aert. Apesar de ser uma pena, não penso ser motivo para passar a achar que a corrida não será interessante. Vão ser todos contra um, há muito não se via um favorito tão favorito como é Mathieu van der Poel, e isso pode abrir novas possibilidades na corrida. Além disso, em provas como esta, o favoritismo é, ou pode ser, um pau de dois bicos. Mas sobre isso falaremos mais à frente.
Conseguirá Van der Poel imitar Sagan e levantar os braços envergando a camisola arco-íris? Façam o almoço da Páscoa cedo ou inventem uma boa desculpa para faltar, porque isto promete.
O percurso
Não há grandes alterações em relação ao que tem sido o percurso nos últimos anos. 270 quilómetros de extensão (andará perto das seis hora e meia de corrida) que se prevê virem a ser percorridos sob a neblina cinzenta tradicional desta região, mas sem chuva.
Vamos considerar 150 quilómetros de aquecimento até ao Kapelleberg, onde se inicia uma sequência de 100 quilómetros demoniacos de sobe e desce, sem períodos de descanso.
Importa destacar que as duas passagens pela combinação Oude Kwaremont e Paterberg, a primeira mais longa e a segunda mais explosiva, deverão ser o palco dos momentos decisivos da prova. A primeira passagem acontece a 55 quilómetros da meta, a segunda e última a cerca de 15.
Depois é plano até à meta. Se as diferenças já tiverem sido feitas, são quilómetros de consagração. Caso contrário, são quilómetros de perseguição ou preparação do sprint.
O que esperar
Uma união de todas as equipas contra a Alpecin, se querem ter hipóteses de vencer ao invés de se contentarem com a luta pelo pódio. Se deixam MvdP chegar ao segundo Oude Kwaremont relativamente fresco e perto da frente da corrida, it's game over. Acredito que, com a concorrência presente MvdP consegue, em condições normais, colocar dois minutos na concorrência nos últimos 50 quilómetros.
Posto isto, a corrida terá que ser aberta muito cedo, a mais de 100 quilómetros da meta e, idealmente, com algumas das equipas atacantes já com elementos secundários na fuga do dia (que acredito demorará a constituir-se), para colocar a Alpecin à prova, na esperança de que falhem e que o seu líder tenha que se expor muito cedo. A equipa não é incrível, Søren Kragh Andersen tem estado instável, Axel Laurance é novo nestas andanças e Silvan Dillier/Xandro Meurisse/Gianni Vermeersch não dão assim tantas garantias. À semelhança do que aconteceu no ano passado, pode formar-se um grupo forte com as segundas linhas (caso a Alpecin não tivesse tido ajuda da Visma/UAE, podiam bem ter vencido) e aí, ou MvdP segue desde logo e pode encontrar-se num grupo de 15/20 unidades em desvantagem numérica e com a responsabilidade de ser ele a responder a tudo, ou confia na equipa e pode chegar à fase decisiva muito longe da frente.
Neste grupo de "segundas linhas" incluo a Quick-Step, com Alaphilippe e Asgreen, a Ineos, com Sheffield, Tarling e Ben Turner, a Lidl com Milan e Skujiņš, a Visma com Benoot e Van Baarle, a UAE com Politt, Wellens, Hirschi e Morgado, a Uno-X com Kristoff, Tiller e Abrahamsen e depois alguns lonely warriors como Trentin, Campenaerts, Lazkano, Naesen, Girmay e Fred Wright. Os nomes que faltam aqui e que serão referidos mais abaixo, são aqueles aos quais acredito que o próprio MvdP vá responder, seja a que distância for.
É preciso usar a força dos números e unirem-se contra o campeão do mundo, porque se assim não for, naqueles últimos 50 quilómetros, deixará todos para trás e vencerá a sua terceira Ronde.
Favoritos
Mathieu van der Poel — Tentei acima criar cenários para que possa não vencer, mas é realmente preciso ser criativo. Isto é um monumento, é uma prova muito peculiar e nunca se sabe o que pode acontecer, mas tudo indica que esta não foge ao neerlandês.
A não perder de vista
Matteo Jorgenson — Depois da sangria a que o super bloco da Visma foi sujeito recentemente, sobra o americano para liderar a equipa. Tem mostrado muita capacidade, venceu a Dwars esta semana e parece que o motor quase não tem fim. Será marcado por MvdP e isso dificulta as coisas, pois no mano a mano falta-lhe explosividade, no entanto acredito que está na primeira fila de candidatos caso o principal favorito tenha dificuldades.
Mads Pedersen — É incerta a condição em que chega aqui depois da queda de quarta-feira, a sua equipa sofreu um rude golpe com a baixa de Jasper Stuyven e o próprio diz que não vai estar na discussão. No entanto, eu nunca descarto os grandes campeões de atingirem grandes feitos. Adora estas corridas longas e duras e foi o único que, este ano, já bateu MvdP, na Gent.
Stefan Küng — Anda sempre lá mas nunca ganha. Esta pode ser uma corrida ainda mais partida que o habitual e no meio da anarquia, pode com um ataque no timing certo, sair a sorte grande ao diesel suíço, que já bem merece um grande resultado.
Matej Mohorič — Diz que tem contas a ajustar com esta prova e é outro que pode beneficiar de uma corrida louca e partida desde muito cedo. Não me admirava vê-lo fazer par com Küng. E com dois motores destes juntos, cuidado.
Alberto Bettiol — É um meme andante. Auto intitula-se o "último dos ciclistas românticos". Tem cãibras depois de atacar. Mas a verdade é que tem a ousadia de se mandar para a frente, gosta das grandes corridas, já venceu aqui uma vez e tem-se mostrado em boa forma.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Mathieu van der Poel. Não há competição para ele.
Henrique Augusto — Quando MvdP está presente, a minha aposta é feita by default.
Lourenço Graça — Mathieu of the ro(a)nde.
Miguel Branco — Matteo Trentin. A vitória de uma carreira.
Miguel Pratas — Matej. O único que pode derrotar Mathieu.
Ricardo Pereira — Madouas.