Antevisão — Ronde van Vlaanderen - Tour des Flandres
Ó Rosa arreronde a saia, ó Rosa arreronde bem. Ó Rosa arreronde a saia, olha a Ronde que ela tem.
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Introdução
Finalmente, o primeiro monumento da temporada. Todos sabemos que aquela coisa em Itália que o Mathieu Van der Poel ganhou não é um monumento, é uma siesta. Por isso, siga a marinha. É a 107.ª edição da festa suprema da Flandres, que começou a sua história em 1913 pela mão de Kevin Van Wijnendaele e Leon Van den Haute, dois fundadores do jornal Sportwereld — loucos por ciclismo e pela ideia de o promover, assim como à sua publicação e à língua neerlandesa. No fundo, foi como um gesto duplo: marketing e político. Por um lado, colocar Flandres no mapa do desporto mundial, por outro, sacudir a imposição cultural que a mesma sentia pela parte francesa da Bélgica, maioritariamente residente na Valónia. É isso que nos conta um artigo muito completo e bem escrito que a revista Rouleur escreveu em 2022, através de Paul Maunder. Aqui encontramos histórias caricatas e motivos mais do que suficientes para a Ronde ser uma prova com tanto peso na modalidade.
Mergulhar nos últimos anos deste monumento tem um nome: Mathieu Van der Poel. O neerlandês venceu a prova em 2020 e 2022 e no ano entre ambos os triunfos foi batido ao sprint por Kasper Asgreen, num dos finais mais surpreendentes que o ciclismo viu recentemente. É por isso mais do seguro afiançar que grande parte do que pode ser esta corrida está relacionado com este senhor.
Relativamente ao contigente português, apenas Rui Oliveira, pela UAE Emirates, estará presente. É a sua terceira participação na Ronde — o ano passado não terminou, nas duas edições anteriores chegou inserido no top-70 da prova. Como sabemos, Rui está aqui para tentar ajudar Pogačar. É isso que tem de fazer, sobretudo na primeira metade da prova, colocando bem o seu líder e controlando, na medida do possível, o pelotão endiabrado da Volta à Flandres.
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O percurso
É o mesmo de sempre e nem por isso fica mais leve com o passar dos anos. Quase 274 quilómetros de dureza extrema: quer seja pelos 15 sectores de pavé, quer seja pelas múltiplas pequenas subidas — que na Flandres se conhecem por bergs — por onde os ciclistas vão ter de passar. Como sempre, a corrida deve começar a decidir-se a cerca de 70 quilómetros para a meta, nomeadamente com a passagem do Kanarieberg — um quilómetro a 8%, sem empedrado, mas que deve servir para os primeiros testes e para o afinar do posicionamento.
Cerca de 15 quilómetros volvidos, o pelotão tem a segunda passagem pelo sector mais famoso da prova: Oude Kwaremont. São dois quilómetros a 4.4% mas cujo pavé trata de tornar ainda mais árduos, apesar da aparente inclinação pouco pronunciada.
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Se a isto juntarmos a primeira passagem pelo Paterberg três quilómetros e meio depois… temos o caldo entornado. Esse deve ser o troço onde os principais candidatos se vão demarcar da concorrência mais numerosa. O Paterberg é também a última dificuldade da Ronde antes da chegada a Oudenaarde, sensivelmente a 14 quilómetros da meta, e propõe aos ciclistas 400 metros a 9.7% de pendente média, em empedrado, e com uma pendente máxima superior a 20%. Socorro.
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Como se não bastasse, menos de dez quilómetros após incursão inaugural pelo Paterberg os ciclistas chocam de frente com o Koppenberg: 600 metros a 9.7%.
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Resumindo, a partir do quilómetro 217, quando entram no Kwaremont pela segunda vez, acabou-se o descanso. E aí, queridos leitores, ou há pernas ou beijinhos.
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O que esperar?
O texto anterior explica bem o que esperar: loucura. Numa primeira fase, uma fuga vai instalar-se, talvez com alguns corredores de qualidade e até, quem sabe, um ou outro homem da Jumbo-Visma, da UAE Emirates e da Alpecin-Deceuninck que possam mais tarde ser úteis aos seus líderes quando a corrida começar a mexer.
O que se passou em Harelbeke — na E3 Saxo Classic — é um bom exemplo. Quando chega a altura da verdade, sabemos quem vai estar na frente. A questão é de que maneira as equipas vão ter real influência na corrida. A Pogačar interessa-lhe, o mais possível, colocar ritmos altos e acelerações nas subidas que cansem Wout van Aert e Mathieu Van der Poel e os façam chegar ao limite mais cedo. Mas será que isso vai fazer com que a Emirates tente criar uma espécie de comboio ao estilo grandes voltas para desfazer o pelotão? É muito pouco provável porque as corridas de empedrado não se correm assim.
Na melhor hipótese, soltam alguns das suas segundas linhas para deixar a dúvida no ar: ficar ou perseguir? Nesse sentido, Trentin e Wellens podem tentar uma graçola, o mesmo para homens da Jumbo como Van Hooydonck, Benoot ou Laporte, ou Kragh Andersen na Alpecin. Mas sabemos como Van der Poel corre praticamente sozinho e que Kragh Andersen, a tentar alguma coisa, é provavelmente ir com o seu líder num primeiro grupo que se destaque dos demais; tal como é isso que se espera da Jumbo: tentar estar em maioria nesse primeiro lote de favoritos que vai embora.
Dito tudo isto: ficaria muito espantando que esse cenário se prolongue durante muito tempo, uma vez que se Pogačar correr de forma agressiva, como sempre corre, o que mais lhe interessa é isolar os seus adversários e assim que ele lançar o seu turbo é muito possível que esse seja o resultado. Ajudei? Não? Desculpem, é a vida, é a Ronde.
Favoritos
Tadej Pogačar — Não deixa de ser estranho ver um vencedor do Tour andar nestas andanças, mas é isso que faz do esloveno um corredor tão especial. Vai tentar tudo para deixar Wout e Poel no lodo. E digam lá que não é um cenário que vos passe pela cabeça.
Wout van Aert — Tem a melhor equipa, ponto final. E ainda que tenha vencido a E3, não parecia estar na sua melhor forma, tendo descolado de Pogačar e Van der Poel em algumas subidas. Vamos ver se é bluff ou se os mais de 270 quilómetros evidenciam esta teoria.
Mathieu Van der Poel — Acho que todos estamos de acordo que é o principal favorito. O seu motor parece sempre diferente dos outros, parece um motor animal, que quando está no seu melhor parece impossível de ser parado. Mas numa prova como esta, certezas são algo muito perigoso.
A não perder de vista
Matej Mohorič — Tem estado muito bem nas clássicas, tendo-lhe faltado alguma força no final da E3 em virtude de ter saltado para a frente da corrida demasiado cedo. Mas sabemos como é um osso duro de roer. Em condições normais, será sempre um evidente candidato ao top-5.
Stefan Küng — Outra força da natureza. Estranhamente, no que à Ronde diz respeito, só o ano passado conseguiu um grande resultado: quinto. Tal como Mohorič sabe que o facto de não ter sprint significa que tem de arriscar mais do que os outros. Se se juntam num ataque na altura certa cuidado…
Christophe Laporte — Se continuar a andar desta maneira ainda faz hattrick.
Julian Alaphilippe — A forma é fraca. As saudades são muitas. E um dia ele vai explicar-nos que ainda tem o seu famoso motor. Será no domingo?
Tom Pidcock — É capaz de ainda estar em recuperação da queda no Tirreno-Adriatico, mas quando falamos de um talento como Pidcock nunca sabemos bem o que é estar em forma.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Tadej Pogačar. Se não for escoltado no sprint final, por Madouas e Van Baarle, atrás de Mathieu van der Poel, vence. A meu ver, para vencer, tem de dar à pata no Paterberg.
Henrique Augusto — MVDP. E fica já apostado para Roubaix também.
Lourenço Graça — WVA. Se a Jumbo não ganha um monumento a colmeia vai abaixo.
Miguel Branco — Tadej Pogačar. Para o infinito e mais além.
Miguel Pratas —O Tadeu vai mandar o MvdP e o WvA Pogacar alho no Koppenberg.
Ricardo Pereira — Sep, depois dos três estarolas irem contra uma mota.