Antevisão — Paris-Nice
Pogačar vs Vingegaard. Aproveitem que só há mais em Julho.
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Introdução
É já este domingo que começa a 80ª edição da mítica Paris-Nice, também conhecida por La course au soleil. O duelo Pogačar vs Vingegaard é o cabeça de cartaz deste ano, não fossem eles os dois melhores voltistas da atualidade — são os dois primeiros classificados das duas últimas edições do Tour e começaram a temporada em grande forma: o esloveno venceu categoricamente a Jaén Paraíso Interior e conquistou de forma autoritária a Volta à Andaluzia com 3 vitórias em 5 etapas, enquanto o dinamarquês arrasou a concorrência em O Gran Camiño com 3 vitórias nas 3 etapas.
Esta corrida teve a sua primeira edição em 1933 é uma das provas por etapas com mais prestígio. Alguns dos melhores ciclistas da história conquistaram esta competição por mais do que uma vez: Jacques Anquetil venceu por cinco vezes, entre 1957 e 1966; Eddy Merckx venceu consecutivamente, entre 1969 e 1971; Miguel Induráin em 1989 e 1990; e Alberto Contador em 2007 e 2010. O grande recordista de vitórias nesta prova é Sean Kelly, que venceu consecutivamente durante 7 (!) temporadas, entre 1982 e 1988.
O percurso
Etapa 1 — A primeira etapa consiste num percurso de duas voltas, sem grandes dificuldades, num circuito nos arredores de Paris. Há um murito a 20km da meta (Côte de Milon-la-Chapelle: 500m @ 10.5%) mas não deverá evitar uma chegada ao sprint, pelo menos para a maioria dos sprinters.
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Etapa 2 — Mais uma etapa propícia a uma chegada em sprint. Será que teremos abanicos? Por favor.
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Etapa 3 (TTT) — Chegou o dia da palhaçada. Um contrarrelógio por equipas, em que o tempo da equipa na etapa é o tempo do primeiro corredor a passar a meta e cada corredor fica com o seu próprio tempo. Isto vai dar azo a tácticas muito estranhas, espero. Quiçá alguns "ataques" kamikaze. Tendo em conta a capacidade das equipas dos dois principais candidatos — incrível o bloco da Jumbo-Visma, com roladores de altíssimo nível como Foss, Dennis, Laporte e Affini — o expectável é Vingegaard ganhar algum tempo a Pogačar. Quão longe da meta irá o esloveno arriscar?
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Etapa 4 — Dia de GC: primeira chance para Pogačar recuperar tempo a Vingegaard.
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Etapa 5 — 212 quilómetros propícios a uma boa sesta com chegada ao sprint. A probabilidade de fuga bem sucedida é baixa mas...
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Etapa 6 — Fuga ou sprint reduzido? Etapa de sobe e desce com algumas subidas curtas, sendo a última delas, a mais dura, a cerca de 30 quilómetros da meta (Côte de La Colle-sur-Loup: 2km @ 9.9%). Os últimos 500 metros da etapa têm uma pendente média a rondar os 7%. Não vejo ninguem capaz de bater Magnus Cort aqui.
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Etapa 7 — Na primeira metade da etapa há a subida à Côte de Tourette-du-Château: são 18 quilómetros a 4.5% que já vão servir para moer as pernas e perceber quem está em dia não. A 15 quilómetros da meta surge, finalmente, uma montanha a sério: a Col de la Couillole, que tem 7.3% de pendente média. Não se espera outra coisa senão mais um duelo Pogačar vs Vingegaard.
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Etapa 8 — É disto que o meu povo gosta! Adoramos estas diabólicas etapas curtas. Já assistimos a outros duelos Pogačar vs Vingegaard em etapas desta índole nas últimas duas edições do Tour, e ambas culminaram com vitórias do esloveno, embora ambas terminassem com chegadas em alto: 129.7 quilómetros percorridos entre Pau e Luz Ardiden, com passagem pelo Col du Tourmalet, na etapa 18 do Tour 2021; e outros 129.7 quilómetros, entre Saint-Gaudens e Peyragudes, com três 1ªs categorias, na etapa 17 do Tour 2022.
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O que esperar
Esta corrida é o duelo Pogačar vs Vingegaard, o resto é paisagem. O dinamarquês deverá conseguir uma boa margem no contrarrelógio por equipas e acredito que ambos dominem e cheguem juntos ou sem grandes diferenças nas duas etapas com chegada em alto — etapas 4 e 7. Será na última etapa, em Nice, que tudo se decidirá. Marquem no calendário. Domingo, dia 12 de Março, é dia de tarde desportiva sem direito a sesta.
Só se algo realmente muito estranho se passar é que alguém se poderá intrometer na luta pelos dois primeiros lugares. Mas o pódio está ao alcance de alguns: Daniel Martínez, que venceu no Algarve quererá dar mais uma prova de capacidade e consistência. A liderança da INEOS no Tour está em jogo; Simon Yates, 2º classificado em 2018 e 2022, dá-se bem nesta competição em que já venceu quatro etapas (2017, 2018, 2019 e 2022). Deu show na edição passada e só não conquistou a prova devido a Wout van Aert; David Gaudu deverá sair prejudicado no TTT mas tem mais do que oportunidades ao seu jeito para recuperar tempo. Será o líder da FDJ no Tour; Neilson Powless está a andar muitíssimo mas ainda não está ao nível dos nomes supracitados na alta montanha. Ainda asssim acho que o top-5 está ao alcance; Mattias Skjelmose, Matteo Jorgenson, Mauro Schmid e Kévin Vauquelin, são jovens muito promissores, entre os 21 e 23 anos de idade, e têm aqui uma boa oportunidade para se mostrarem a este nível.
Com 3 potenciais etapas ao sprint e com um vasto leque de velocistas, a luta pela camisola dos pontos deverá ser bem disputada. Alguns deles correm com a pressão de terem que mostrar serviço para serem convocados para o Tour. Tim Merlier já conquistou três etapas em 2023 e parece estar, neste momento, na pole position, à frente de Jakobsen; Sam Bennett ganhou em San Juan mas no UAE Tour não picou o ponto, apesar de ter sido um dos mais consistentes; Arnaud Démare, a jogar em casa, terá de fazer muito melhor do que no UAE Tour — um top 10 é muito curto; Mads Pedersen, que deverá fazer Giro-Tour, quererá testar-se frente a alguns dos melhores sprinters do mundo; Alexander Kristoff já ganhou este ano, na Volta ao Algarve, e esteve muito bem na Omloop. Nas etapas com alguma dureza terá a sua oportunidade; Kaden Groves, um dos melhores sprinters da nova geração, terá aqui uma chance ao mais alto nível para se mostrar na nova equipa. O jovem australiano está escalado para ir ao Giro; Olaj Kooij, o futuro melhor sprinter do mundo, ao contrário do que sucedeu no UAE Tour, tem aqui um bloco fortíssimo à sua disposição — bem o merece — e não espero menos do que um triunfo; O nosso protegido Arnaud De Lie faz aqui a sua estreia em provas por etapas no WT. Conta com um comboio muito interessante e vai envergonhar os sprinters mais experientes; Não percam de vista os jovens Hugo Page e Jonathan Milan, de 21 e 22 anos, respetivamente, podem surpreender.
Favoritos
Tadej Pogačar — O bi-campeão do Tirreno-Adriatico decidiu mudar o calendário e participar no Paris-Nice pela primeira vez. Para desafiar Vingegaard? O TTT não o favorece, mas a ultima etapa em Nice... Vai dar show.
Jonas Vingegaard — Terá aqui o primeiro duelo — talvez o único — com Pogačar antes do Tour. Arrasou em Espanha mas o nível era outro. Conta com um bloco fantástico para o TTT da 3ª etapa e vai dar espetáculo nas etapas 4 e 7. Vamos ver como se defende em Nice.
Candidatos ao pódio
Simon Yates — É capaz do melhor e do pior. Começou bem a temporada no Tour Down Under — vitória em etapa e 2º na GC — e esta é uma prova que conhece bem. Se estiver em semana sim é o candidato mais forte ao último lugar do pódio.
David Gaudu — A forma é boa — 2º na Faun-Ardèche Classic e 4º na Faun Drôme Classic. Terá de minimizar perdas no TTT para sonhar com o pódio.
Daniel Martínez — Um corredor inconsistente mas que, quando está bem, é um dos melhores. Já venceu a Volta ao Algarve este ano, um pódio aqui seria mais um forte argumento para receber a liderança da INEOS no Tour.
Apostas falso plano
Henrique Augusto — O vencedor do Tour 2023.
Lourenço Graça — Jonas Vingegaard. Mostra quem manda.
Miguel Branco — Tadej Vingegaard. Esse grande corredor da UAE Visma.
Miguel Pratas — A mesma aposta do Henrique, ou seja, Tadej Pogačar.
Ricardo Pereira — Jack Haig.