Antevisão — Paris 2024 Olympic Games ME - IRR

Na Cidade da Luz, quem irá sair de capacete dourado?

Antevisão — Paris 2024 Olympic Games ME - IRR
Paris 2024

Introdução

Os Jogos Olímpicos são o pináculo do desporto mundial e como tal esta é uma prova onde muito está em jogo. São poucas as oportunidades que cada ciclista tem ao longo da carreira para alcançar a glória olímpica, aumentando a tensão em volta desta corrida e a euforia de quem a levar de vencida.

Quem vence as olimpíadas tem direito a andar os quatro anos seguintes de capacete dourado. Não sei se consideram isso um privilégio ou não, mas é uma curiosidade engraçada. O último a ter essa honra foi o equatoriano Richard Carapaz, colocando a sua nação em festa pela 2.º medalha de ouro da sua história, através de um ousado ataque de longe que pagou dividendos, e onde bateu dois dos maiores ciclistas desta geração, Wout van Aert e Tadej Pogačar. Se o primeiro vai voltar a tentar e é um dos favoritos, o segundo 'tá de birra e foi de férias com a namorada, porque está "cansado".

Ao equatoriano tinham precedido o belga Greg van Avermaet, o cazaque Alexandre Vinokourov, o espanho Samuel Sanchéz e o italiano Paolo Bettini.

Este último venceu na frente de Sérgio Paulinho em 2004, quando de forma surpreendente chegou à medalha de prata, o melhor resultado da história da nossa comitiva, este ano composta por um Nélson Oliveira vindo de um grande crono e por um Rui Costa que se deverá querer despedir da aventura olímpica com um bom resultado.

A luta pelo ouro vai ser gira, espera-se uma corrida anárquica e a batalha entre favoritos vs outsiders promete ser intensa.

Nota final para um facto que descobri a pesquisar para este post: Eddy Merckx nunca venceu esta prova!

A última vez que Portugal esteve entre os grandes na competição olímpica. (foto: Público)

O percurso

Traçado acidentado e muita quilometragem. O clássico neste tipo de provas. A corrida será feita sempre em volta da capital francesa anfitriã desta edição dos Jogos Olímpicos e depois de uns 215 quilómetros iniciais sempre a subir a descer, onde se deve começar a fragmentar a corrida, entramos no decisivo circuito final. No circuito destaca-se a subida ao Cote de la Butte Montmatre (3x 1.1km @ 5.6%) que conta com um final em empedrado e é ultrapassada pela última vez a 10 quilómetros do final. Destaque ainda para dois pequenos topos (800m @ 5.2% e 600m @ 5.3%) que serão ultrapassados por duas vezes cada um a caminho da subida final.

Nota para o facto de ao contrário da chuva e do mau tempo que tem marcado esta edição dos jogos, está previsto para sábado calor, pouco vento e céu limpo, pelo que não deverá ter demasiado impacto na corrida.

Paris - Paris (275km)

O que esperar

Anarquia total. Esta corrida é diferente de todas as outras logo pelo facto de o número de participantes por seleção ser muito limitado — apenas 89 —, a juntar à distância — cerca de 272 quilómetros — e ao facto de não haver rádio. A melhor táctica? Seguir na frente da corrida.

Apenas cinco seleções têm quatro elementos — Bélgica, Dinamarca, Eslovénia, França e Inglaterra —, todas as restantes têm três ou menos. Nos mundiais, por exemplo, há conjuntos com nove elementos. Se há uma seleção favorita, é a Bélgica: Wout van Aert, Remco Evenepoel, Jasper Stuyven e Tiesj Benoot são especialistas neste tipo de provas. Mathieu van der Poel, nome incontornável desta startlist, será escudado por Dylan Van Baarle e Daan Hoole. Outra seleção que tem de mostrar credenciais é a seleção da casa: Alaphilippe, Laporte, Madouas e Vauquelin são os ciclistas franceses em prova.

A Dinamarca, de Mads Pedersen, a Inglaterra, de Thomas Pidcock, ou a Espanha de Aranburu & Lazkano são outros blocos de peso. Muita atenção aos americanos, Brandon McNulty & Matteo Jorgenson podem dinamitar a corrida e depois só os apanham para lá da meta.

No geral, as equipas com três elementos têm muita qualidade e contam com múltiplas cartas para atacar as medalhas. Mas também há blocos de dois corredores muitos interessantes como por exemplo a dupla neozelandesa Pithie & Strong ou o par suíço Küng & Hirschi. Rui Costa — que conta com Nelson Oliveira — é um exemplo de um corredor expert em analisar a corrida e seguir a roda certa, e isso é fundamental numa corrida deste tipo. Podemos sonhar com uma medalha.

Sprint reduzido é o cenário mais provável mas nunca podemos descartar um ataque a 50 quilómetros dos "monstros" ou um late attack de um Stephen Williams ou Ben Healy. Ou as medalhas ficam para a fuga do dia?

Favoritos

Mathieu van der Poel — O homem dos grandes palcos. Para mim, nestas provas é sempre o alvo a abater e aqui não será diferente. Terá de estar atento desde cedo às movimentações, sobretudo belgas, pois será muito atacado e não tem uma equipa incrível. Camisola arco-íris e capacete dourado é combinação poderosa.

Wout van Aert — Está sempre a bater na trave, ainda mais quando representa o seu país. Este é um óptimo percurso para ele, no contrarrelógio mostrou que geriu bem o seu pico de forma e tem mais uma oportunidade de finalmente alcançar o objectivo de vencer pela Bélgica. Terá que passar pela sua kryptonite.

Remco Evenepoel — Que forma e que época do menino prodígio. A carreira também dá boas indicações, um bi-campeão da Liége adapta-se a este perfil e já mostrou conseguir vencer este tipo de corridas, como provou quando se tornou campeão mundial em 2022. (Nota: É para me calar mais e mais. Mas eu só acho/achava que ele não é/era um corredor top de grandes voltas, a capacidade como classicómano não está em causa.)

A não perder de vista

Julian Alaphilippe — Eu gosto do Alaphilippe e gosto de feel good stories. Está a correr em casa e pela França tem as duas maiores vitórias da sua carreira. Era giro não era?

Oier Lazkano — O motor espanhol adora distâncias longas e corridas caóticas. Sempre muito difícil ganhar pela falta de ponta final, mas conto com ele para estar entre os melhores.

Thomas Pidcock — Dois títulos olímpicos compensavam a época menos boa do britânico? Talvez. Já impressionou bastante mas aqui a competição é diferente. Bom percurso e boa forma = bom outsider.

Alberto Bettiol — Ele parece um ciclista de topo 5 dias por ano. Será este um deles?

Michael Matthews — Tem estado muito bem nas grandes corridas da temporada. É perfeitamente capaz de passar as dificuldades e sprintar no final. O meu take é que ou lidera o 2.º grupo ou chega no 1.º mas acaba por não vencer porque enfim, ele nunca vence.

Mads Pedersen — A Dinamarca traz um bloco forte e um Mads em topo de forma é um dos poucos capazes de rivalizar com os monstros, como provou em Glasgow o ano passado. Não sabemos se esse Mads irá estar presente já que a preparação não é a melhor mas o dinamarquês nunca é de descartar.

Biniam Girmay — Poderá história seguir-se a história? Foi incrível no Tour, com três etapas e a verde, por isso deve chegar em boa forma. Se conseguir resistir no primeiro grupo será provavelmente o homem com melhor ponta final lá. Nota para o facto de se apresentar sem colegas de selecção, o que lhe dificulta a tarefa.

Apostas falso plano

Fábio Babau — Mathieu van der Poel. Resta saber com quantos quilómetros de avanço.

Henrique Augusto — Bettiol Andiamo ragazzi!

Lourenço Graça — Wout van Aert. Foi para isto que a tua temporada tem sido um flop.

Miguel Branco — Orluis Aular. Percurso ideal para o venezuelano.

Miguel Pratas — Remco Evenepoel mete mais um pisco na checklist.

Ricardo Pereira — Rui Costa. A primeira medalha para o tugão.