Antevisão — Milano-Sanremo

Enquanto o governo cai e a paz se vislumbra, Sanremo ergue-se sobre a sua riviera, para a tarde de ciclismo mais imprevisível do ano. É bom estar vivo.

Antevisão — Milano-Sanremo
Milano-Sanremo

Introdução

O primeiro monumento da época está aí à porta e será já este sábado que o pelotão World Tour e os seus astros irão percorrer os duzentos e oitenta e nove quilómetros de Pavia a Sanremo.

Com um percurso que no que diz respeito aos pontos principais em nada muda, acaba por ser a dinâmica da corrida que a define de ano para ano e como essa dinâmica chega sempre perto do final, este ano a organização irá fazer um upgrade na transmissão. A Milano-Sanremo Donne (WWT), irá ter a sua edição de estreia também no sábado e os amantes de ciclismo irão ter a oportunidade de assistir ao seu início e fim em alternância com a prova masculina. Tudo pelo ciclismo.

Por mais um ano consecutivo, o atual campeão do mundo Tadej Pogačar irá estar presente em prova, com o sonho de conquistar um dos dois monumentos que lhe faltam no seu palmarés. A tática do ano passado não resultou e este ano terá novamente de pensar noutra abordagem, de preferência uma que não o deixe sozinho tão cedo.

Seria fácil se o esloveno estivesse a correr sozinho, mas não é o caso. Mathieu van der Poel é o nome no topo da lista de concorrentes que irá ter pela frente e o neerlandês (toma, Henrique) está sedento de vitórias, depois de não ter alcançado qualquer uma no Tirreno Adriático. Depois de no ano passado ter jogado em prol da equipa e ter ajudado Jasper Philipsen a uma vitória surpreendente, é no entanto, pouco provável que consigam voltar a repetir a receita, ainda para mais agora com a queda do belga já dentro do quilómetro final na Danilith Nokere Koerse.

Seria fácil se o neerlandês e o belga estivessem a correr sozinhos, mas não é o caso. Se há monumento que apresenta o maior leque de possíveis vencedores, é a Milano-Sanremo. Adequa-se a praticamente todos os tipos de corredores, excepto os que não têm pernas e podemos dizer que não favorece os “puros” trepadores porque a dureza do Poggio é maioritariamente visual e eu digo isto porque, deve doer a um alien como Pogačar, ver que atacou no Poggio e o Ganna, Philipsen e Mathews não descolaram.

Difícil é restringir esta luta apenas a dois corredores, atualmente temos muitos em forma e com sede de vencer este primeiro monumento. Tom Pidcock é um desses nomes, o britânico está a ter um início de temporada de sonho na estreia pela Q36.5, mas não está sozinho, o italiano da Ineos, Filippo Ganna também tem contas a ajustar com esta prova e atualmente está na melhor dos últimos anos. Mads Pedersen, Jonathan Milan, Olav Kooij, Neilson Powless e Matej Mohorič são outros dos que poderão ter uma palavra a dizer no pós-Poggio.

A receita está lançada para aquele que se adivinha ser um sábado de Eurosport & Chill.

Em 2024, os três amigos da vida airada festejaram em Sanremo como se todos tivessem ganho. ( @milano_sanremo)

O percurso

Sem surpresas, o pelotão irá sair de Pavia em direção ao Passo del Turchino e daí irá descer e percorrer cerca de oitenta quilómetros até aos "Capos". Capo Mele, Capo Cervo e Capo Berta abrem a corrida para a Cipressa e Poggio di Sanremo, que depois terá a já habitual chegada a Sanremo.

Pavia - Sanremo (289km)

O que esperar

Se eu soubesse o que esperar provavelmente não estaria aqui, no máximo consigo interpretar as intenções de algumas equipas pela composição do seu bloco.

Não há muito por onde enganar, chegamos à Cipressa e a corrida pode perfeitamente partir com um grupo mais reduzido que irá iniciar o Poggio. Já no Poggio os ataques irão continuar, mas a realidade é que uma vez feito o Poggio, estamos no topo shawty, e do topo é sempre a descer até Sanremo.

Mathieu van der Poel vs. Tadej Pogačar é a luta que se avizinha. Por um lado, o neerlandês traz um bloco que já vem sendo habitual nestas andanças da MSR, com a presença do belga Jasper Philipsen como wildcard caso consiga passar o Poggio, ou até mesmo recolar na descida. Nunca esquecendo que Jasper Philipsen caiu na Nokere Koerse, como já havia sido supracitado. Por outro lado, temos o esloveno com um bloco que parece que de ano para ano vai ficando mais finnest. Perder a equipa na Cipressa não interessa a Pogačar, visto que não resultou no ano passado, por isso é provavél que não endureçam (tanto) a Cipressa e seja no Poggio que os comecem a lançar um a um, até chegar ao ataque final.

A Lidl-Trek entra para esta Milano-Sanremo com um dos blocos mais fortes da corrida, senão mesmo o mais forte. Mads Pedersen e Jonathan Milan estão atualmente num pico de forma e serão certamente duas cartas protegidas da equipa americana que conta ainda com Jasper Stuyven, Giulio Ciccone e Andrea Bagioli para possíveis alternativas. A meu ver se a corrida fosse como a do ano passado, Milan teria pernas para ir disputar o sprint final, mas este ano a corrida será certamente outra, no entanto, acredito num bom resultado para o Italiano na edição deste ano.

Tom Pidcock é o meu Ás no bolso, o britânico está numa forma física e num espírito mental que tornam a máquina demoníaca. Depois de ter respondido ao ataque de Pogačar na Strade Bianche, eu tenho a certeza absoluta que ele neste momento sente que é capaz de tudo. Ficaria surpreso se ele nesta altura estivesse a fazer outra coisa que não ver o vídeo da descida de Mohorič no Poggio, em repeat.

Filippo Ganna é a maior esperança da "casa", o italiano da Ineos está na melhor forma dos últimos anos, ao que esta altura da época diz respeito e recentemente mostrou no Tirreno Adriático que não é apenas um dos melhores roladores do mundo, mas também um sprinter e um GC contender. Tipo Ganna memo. Pessoalmente eu tenho achado que ele anda a ensaiar uma escapada para a vitória desde a Figueira, onde não foi feliz, mas voltou a tentar no Tirreno e agora parece que tudo começa a fazer sentido.

Bem, podia agora ir para Julian Alaphilipe, Michael Mathews, Olav Kooij, Magnus Cort, ou Van Gils, mas sinto que estou a envergar por um euromilhões que habitualmente não tenho o costume de jogar.

Os ingredientes são estes, a sopa tem tudo para ser rica em nutrientes. Com a quantidade certa de água, talvez faremos dela um creme. E já sabem, da parte da manhã é para ir ouvindo o relato e fazendo as tarefas de casa, porque mal cheguem aos "Capos" é sofazão com o telefone em modo "do not disturb".

Favoritos

Tadej Pogačar — Para uns será este ano, para o meu colega Rogério será nunca. Eu sei lá.

Mathieu van der Poel — Estou com a sensação que este rapaz vai partir a loiça toda no sábado. Não venceu no Tirreno e ainda não correu com Philipsen este ano, posso estar enganado, mas ali há gato.

Tom Pidcock — Tem mais do que condições para responder aos ataques no Poggio e posteriormente é um dos mais temíveis na descida. Certamente irá estar marcado pela concorrência caso tente, mas e se tentar e ganhar espaço? Primeiro monumento para o britânico. Eu estou muito confiante neste cenário.

Filippo Ganna — Tudo o que necessita é um par de metros de distância para criar um espaço. Se isso acontecer, atualmente, ninguém no pelotão terá pernas para a forma do italiano, que recentemente derreteu Juan Ayuso no contrarrelógio individual do Tirreno Adriático.

Mads Pedersen — Falar de forma é falar de Mads Pedersen, o dinamarquês está num momento de forma muito interessante para este tipo de esforço que se avizinha. Um dos mais rápidos na linha de meta, excepto se tiver consigo Jasper Philipsen ou Olav Kooij. Como eu creio que estes dois não irão resistir, Pedersen é a meu ver um dos cinco favoritos à vitória final.

A não perder de vista

Jonathan Milan — Uma outra carta forte da equipa da Lidl-Trek que a par do dinamarquês está — a meu ver — no melhor ponto possível da sua forma. Talvez o Poggio seja duro para o italiano, mas se o deixarem passar, depois não chorem.

Michael Matthews — Longe vão os tempos de Bling a vencer em sprint compacto e cada vez mais o australiano vai aprimorando a sua forma para atingir os picos nestas ocasiões. Tudo consequência da idade, mas ainda assim, há que ter em conta que ele passa o Poggio e vai lá andar na discussão pela vitória.

Maxim Van Gils — Não compete desde a Andaluzia, onde chegou a andar de amarelo, mas acabou por não a conseguir levar até ao final por ser ambicioso de mais. Isto não invalida que o belga não se tenha andado a preparar fora de competição para certamente estar bem nesta prova.

Matej Mohorič — Infelizmente não chegou a partir na Strade Bianche e se calhar ainda bem porque aquilo ia ser duro para ele. A par de Pidcock é uma das maiores ameaças na descida do Poggio, caso esteja nesse primeiro grupo.

Maximilian Schachmann — Atualmente está com a aura de 2020. Se as pernas ainda forem as mesmas, não se surpreendam se ele por lá andar.

Magnus Cort — Três etapas no Gran Camiño e um top-6 na Strade Bianche colocaram o dinamarquês novamente nos holofotes. O Tirreno foi para esquecer, mas ainda assim acredito que está numa excelente forma.

Apostas falso plano

André Dias — Ainda não é desta, amigo.

Fábio Babau — Tadej Pogacar. Não façamos disto uma temporada de Prison Break.

Henrique Augusto — MvdP alone again.

O Primož do Roglič — Pogačar em Mads, vai dar Pedersen.

Miguel Branco — Ganna, só porque o Sobrero não vai.

Miguel Pratas — Matej Pogačar.

Nuno Gomes — Mads, o paciente dinamarquês.

Rogério Almeida — O melhor Pedersen da starlist.

Sondagem falso plano