Antevisão — Milano-Sanremo

Quinze dos melhores minutos de ciclismo do ano. Estrela ou outsider? Sprinter ou puncheur? Van Der Poel ou Pogačar? Sabe-se lá, é Milano-Sanremo.

Antevisão — Milano-Sanremo
Milano-Sanremo

Introdução

O primeiro monumento do ano. O início do ciclismo que tem como prémio a imortalidade. É uma corrida odiada por muitos, mas quem não se lembra de Kwiatowski, Sagan e Alaphilippe cruzarem a meta lado a lado em 2017, de Nibali surpreender meio mundo e enganar o pelotão em 2018, de Mohorič testar os limites vezes sem conta na descida em 2022 ou de Mathieu van der Poel destruir as esperanças de toda a gente na edição passada? Mesmo para trás, quando os sprinters ainda lutavam para vencer aqui, tivemos Cancellara a contrariar a regra em 2008 e tivemos grandes nomes como Zabel, Cipollini, Freire e Cavendish, os maiores da sua especialidade, a vencerem a Classicissima.

Mais vale adorá-la que odiá-la. Aceitá-la como é e desfrutar. Pode sempre calhar-nos um Ciolek, mas isso faz parte da beleza desta prova.

Monumental é apelido. Os outros nem lá ao fundo aparecem. Foi o ataque do ano? (foto: MSR website)

O percurso

Ora começa um bocado mais à frente, ora um pouco mais atrás, mas a parte que interessa é sempre a mesma. Os fanáticos ligam a televisão no acesso ao Capo Mele, as pessoas normais na Cipressa, o fã casual no Poggio. São 230 quilómetros de cicloturismo, a que se seguem trinta de aceleração e colocação nos Capos, como se realmente fosse existir alguma ação por lá. Depois: endurecimento na Cipressa, descida e dá-se inicio à mais louca luta por posição da época nos acessos ao Poggio. Ter boas pernas mas entrar no quinquagésimo lugar nesta subida é como acreditar que o Démare vai ganhar — um inglório desperdício de energia. A não ser quando… vocês sabem.

Pavia (não devia ser Milão?) - Sanremo (289km)

Chegados ao Poggio temos à nossa espera aqueles que, para mim, são dez dos melhores minutos de ciclismo do ano. Toda a gente sabe que é ali, naqueles 500 metros a 7% que neste gráfico nem se veem, que vão surgir os ataques. É força bruta, é tática, é entreolhares, é ciclismo. Em tão pouco tempo decide-se um monumento. Segue-se a vertiginosa descida rumo à Via Roma, onde um pelotão partido e enfurecido persegue os corajosos que se destacaram. Sprint em "pelotão", a dois ou vitória isolada? Sabe-se lá, é Milano-Sanremo.

O segundo falso plano mais famoso do ciclismo internacional. Como assim os sprinters não passam isto?

O que esperar

Se me permitem, vou começar já na Cipressa. Espero uma UAE a repetir a receita das edições mais recentes e a tentar super endurecer a corrida (é desta que o mito do ataque de Poga logo aqui se concretiza? Acho que não). Um grupo de quarenta ou cinquenta ciclistas lutará depois pelo posicionamento para a entrada da subida final, onde o leadout da UAE vai fazer parecer que estamos nos 500 metros finais. A partir daí, pernas para que vos quero, segue quem puder. Van der Poel estará por lá, isso é certo. Depois teremos um ou dois convidados surpresa? Eu acredito que sim.

Um Scaroni ou um Vermaeke desta vida. Quem sabe um renascido Alaphilippe. Um Søren Kragh Andersen ou um Matthews. Um Skujiņš ou um Naesen. Sabe-se lá, é Milano-Sanremo. Só fiz esta listagem aqui porque pronto, é malta que não quero perder de vista mas metê-los todos na secção abaixo ficava mal.

Dependerá da dinâmica entre os dois astros e os seus convidados o sucesso desta movimentação, mas dado que são gente que não tem por hábito abrigar-se do vento, não os vejo a hesitarem e a deixarem-se ser apanhados. Haverá algum deles a conseguir deixar o outro em dificuldades na subida ou na descida? Não descarto essa hipótese mas depois do solo do ano passado gostava de ver um sprint entre aqueles que são, provavelmente, os dois mais espetaculares e amados ciclistas desta geração.

Para fechar, a vida de sprinter não anda fácil, agora ataca-se em qualquer lado e é de tal forma que já só os versáteis se apresentam à partida. Entre estes destaco Jasper Philipsen (que pode vir a ser jogado como carta de bluff por Van der Poel), Olav Kooij, Jonathan Milan e Biniam Girmay. Deixo como outsiders Matteo Trentin, Axel Zingle e Marius Mayrhofer. Tudo ciclistas que vejo com capacidade para se manterem num segundo grupo e lutarem por lugares honrosos no top-10. Mais do que isso? Acho que esses tempos já lá vão.

Favoritos

Mathieu van der Poel — Honestamente não vejo como ele possa não ganhar. Não vai perder a roda de ninguém no Poggio e dos que podem ter capacidade de o seguir, se alguém tiver, não imagino nenhum a batê-lo ao sprint. Há uma mudança de ritmo da qual este jovem tem exclusividade no pelotão.

Tadej Pogačar — É missão impossível bater o neerlandês? Quase. E um vencedor do Tour despejar um pelotão numa subida de 3%, é impossível? Quase. Mas se há ciclista que já nos provou que nos pode deixar de queixo caído é este. E ele não vai parar de tentar até conseguir.

A não perder de vista

Mads Pedersen — O maior dos outsiders. Tem um kick que lhe pode permitir sonhar com acompanhar os ataques dos homens acima citados e tem um sprint que lhe dá boas hipóteses caso o consiga fazer. Além disso, o bloco é forte e pode fazê-lo recuperar caso perca o contacto.

Thomas Pidcock — A afirmação da estrela britânica entre os grandes tarda em chegar. Acredito que pode ser um dos convidados surpresa na luta, tem talento para o fazer e um Ganna que acredito que irá estar ao seu dispor para o colocar na posição ideal.

Matej Mohorič — Os outros são imbatíveis a subir mas este é imbatível a descer. Poderá repetir o truque? Tinha que chegar ao topo do Poggio perto o suficiente e voltar a arriscar a vida na descida para levantar os braços, como fez em 2022.

Cristophe Laporte — O mesmo perfil de Mads mas com menos explosividade. Por outro lado, tem o bónus de vestir de amarelo.

Alberto Bettiol/Maxim van Gils/Laurence Pithie/Luke Lamperti — Isto é meio batota, mas sabe-se lá, é Milano-Sanremo.

Apostas falso plano

Fábio Babau — Tadej Pogačar. Desta vez vai entrar para o topo do pódio, depois de os deixar no Poggio.

Henrique Augusto — Todos os caminhos vão dar a Mathieu van der Poel.

Lourenço Graça — O bis(cho) de MVDP.

Miguel Branco — Isaac Del Toro. Esperamos que Pogačar tenha a humildade de trabalhar para o melhor.

Miguel Pratas — Mais um Monumento para o palmarés do melhor Monumento do ciclismo: Tadej Pogačar.

Ricardo Pereira — Pogačar da Cipressa.

Sondagem falso plano