Antevisão — Liège-Bastogne-Liège Femmes

A corrida que põe o "arde" em Ardenas.

Antevisão — Liège-Bastogne-Liège Femmes
Liège-Bastogne-Liège Femmes

Introdução

Na Bond - James - Bond das clássicas, há sempre mistério no que acontece. Desde 2017 que se corre este monumento, uma das provas mais icónicas do calendário da Primavera e que parece ter sido feita à medida de ciclistas que adoram odiar as pernas.

A vencedora do ano passado – Grace Brown – não está presente nesta edição, por motivos de reforma e Segurança Social, portanto vamos ter nova campeã. Pode é ser alguém que já tenha ganho. Mas já lá vamos.

A cidade de Liège é, segundo um belga aleatório na net, a capital mundial da waffle. E esta clássica não é muito diferente. O pelotão vai ser prensado até tostar. O resultado? Uma corrida bem apetitosa.

(Nota: Ainda não tratas o ciclismo feminino por tu e não sabes distinguir uma Demi Vollerine de uma Bodine Vollering ou de uma Elden Ring? Estamos cá.
O nosso expert Rogério Almeida escreveu este autêntico manual sobre as principais ciclistas da época.)

O pódio de 2024. A recém-pensionista Grace Brown no meio; dos lados, as agitadoras da corrida deste ano. (Foto: L-B-L Femmes).

O percurso

O marketing tem destas coisas. Faz-nos acreditar que esta corrida começa e acaba no mesmo sítio, que as máquinas de abdominais resultam ou que o abacate vai bem com tudo e vale sete euros numa tosta. Mas os falsoplanistas sabem melhor que isso.

Esta clássica mantém o nome da prova masculina mas corta-lhe 100 km. O resultado é uma partida de Bastogne e chegada em Liège, ao longo de 152.9km. Também é mesmo só para serem chatos, não podiam pôr mais 100 metros?

Percurso igual à edição anterior: um paredão de Saint-Roch a abrir (1 km a 10.7%). Pelo meio, a subida ao Côte de Stockeu (1 km a 12%) já pode fazer estragos de longe; é a mais inclinada e não é à toa que tem uma estátua do Merckx. Já no último terço da prova, serão os Côte de la Redoute (1.5 km a 9.2%) e la Roche-aux-Faucons (1.2 km a 11%) a decidir como – e quem – chega com pernas ao final.

Ou seja, é um sobe e desce constante em que o único terreno plano está na meta. Pode dar sprint reduzido, perseguição até ao fim ou uma ciclista sem mãos no guiador durante 50 metros. Seja como for, vai ser giro.

Bastogne - Liège (152.9km). Vão-se os quilómetros, ficam-se os nomes.

O que esperar

Para algumas das favoritas – como Longo Borghini ou Vollering – a estratégia é simples: atacar forte nos paredões e rolar sozinha até à meta. O problema? Não correm sozinhas. As equipas mais fortes em prova – SD Worx, FDJ, UAE ou Lidl Trek – tentarão manter o máximo número de ciclistas na frente, para desgastar com ataques sucessivos ou responder entre si.

Olhar para o historial da prova ajuda até certo ponto. Já começa a ser um cliché destas antevisões, mas faz diferença: em 2024, as equipas eram muito diferentes.

Por exemplo, no ano passado, a SD-Worx trouxe a esta corrida três das favoritas: Demi Vollering, Lotte Kopecky e Niamh Fisher-Black. Entretanto, as Destiny's Child do ciclismo seguiram as suas carreiras a solo: Demi é líder na FDJ, Niamh é "líder" na Lidl e Kopecky (a Beyoncé do grupo) está a ganhar onde sempre esteve.

Com as equipas a terem uma redistribuição mais equitativa de riqueza nos plantéis – como o mundo devia ser – esta corrida fica bem mais rica em sonhos. Vai ser um mimo, mês riquinhes.

Favoritos

Demi Vollering — A patroa da FDJ está consistente nas subidas. Há quem ache pouco porque, na época de clássicas, "só" ganhou a Strade Bianche. Ya, digam isso a 99% do pelotão. Aqui está em casa. Afinal, foi vencedora em 2021 e 2023. Em 2025? Se acreditarem em padrões do universo, a resposta é fácil.

Elisa Longo Borghini — Sempre a dama de honor, nunca a dama que casa. Foi segunda em 2023 e 2024, derrotada no sprint até à meta. Está picada do flop na Amstel, quando os cortes no pelotão – e depois um trabalho de gestão arriscado, mas impecável da SD Worx – a afastaram de discutir a corrida. Só que desta vez não é damas, é xadrez.

Lotte Kopecky — Atenção: os resultados recentes enganam. Em San Remo e Roubaix, foi trabalho de equipa. Na Amstel, ficou no tal corte de grupo bizarro que arrumou com as favoritas. Na Flèche, não estava a sentir o paredão. Com um percurso mais propício a ataques de longe, tem de ser sempre favorita.
E vamos ser sinceros: quando olham para Kopecky na lista de saída, ainda pensam em números?

A não perder de vista

Puck Pieterse — A Flèche Wallonne foi só o início. O novo prodígio das clássicas está a andar muito e mostra que já não é só uma promessa sem resultados. Ainda não falhou um top-10 este ano. Spoiler: não vai ser agora.

Katarzyna Niewiadoma — A líder da Canyon continua a afinar baterias para as Grandes Voltas. Numa chegada em grupo pequeno, é quase certo que ela vai lá estar. Depois, é só perceber como é que ela vai chegar em 4.º.

Liane Lippert — A minha escolha fora da caixa está na Movistar. Tem uma leitura de corrida fantástica: bem posicionada, gere bem o esforço e mete-se sempre na roda dos ataques certeiros. Foi assim que fez pódio na Ronde e top-5 na Flèche. Se isto fosse um daqueles artigos de fantasy, dizia para a levarem.

Anna van der Breggen — Vencedora em 2017 e 2018. Depois de um bom arranque de época, tomem lá DNF e DNS nas últimas duas provas, por doença. A equipa falso plano deseja as rápidas melhoras.

Apostas falso plano

André Dias — Elisa Longo Borghini. Água mole em ardena dura, tanto bate até que fura (por favor, não fures a meio).

Fábio Babau — Woo woo, Puck a terra, Puck a terra.

Henrique Augusto — Doyenne Demi.

O Primož do Roglič — Sra. Elisa.

Miguel Branco — Lotte Kopecky. Tem de ser, né?

Miguel Pratas — Koninginnedag Demi.

Nuno Gomes — Puck o sonho comanda a vida.

Rogério Almeida — Longo - Borghini - Longo.