Antevisão — Liège-Bastogne-Liège Femmes
A corrida que põe o "arde" em Ardenas.

Introdução
Na Bond - James - Bond das clássicas, há sempre mistério no que acontece. Desde 2017 que se corre este monumento, uma das provas mais icónicas do calendário da Primavera e que parece ter sido feita à medida de ciclistas que adoram odiar as pernas.
A vencedora do ano passado – Grace Brown – não está presente nesta edição, por motivos de reforma e Segurança Social, portanto vamos ter nova campeã. Pode é ser alguém que já tenha ganho. Mas já lá vamos.
A cidade de Liège é, segundo um belga aleatório na net, a capital mundial da waffle. E esta clássica não é muito diferente. O pelotão vai ser prensado até tostar. O resultado? Uma corrida bem apetitosa.
(Nota: Ainda não tratas o ciclismo feminino por tu e não sabes distinguir uma Demi Vollerine de uma Bodine Vollering ou de uma Elden Ring? Estamos cá.
O nosso expert Rogério Almeida escreveu este autêntico manual sobre as principais ciclistas da época.)

O percurso
O marketing tem destas coisas. Faz-nos acreditar que esta corrida começa e acaba no mesmo sítio, que as máquinas de abdominais resultam ou que o abacate vai bem com tudo e vale sete euros numa tosta. Mas os falsoplanistas sabem melhor que isso.
Esta clássica mantém o nome da prova masculina mas corta-lhe 100 km. O resultado é uma partida de Bastogne e chegada em Liège, ao longo de 152.9km. Também é mesmo só para serem chatos, não podiam pôr mais 100 metros?
Percurso igual à edição anterior: um paredão de Saint-Roch a abrir (1 km a 10.7%). Pelo meio, a subida ao Côte de Stockeu (1 km a 12%) já pode fazer estragos de longe; é a mais inclinada e não é à toa que tem uma estátua do Merckx. Já no último terço da prova, serão os Côte de la Redoute (1.5 km a 9.2%) e la Roche-aux-Faucons (1.2 km a 11%) a decidir como – e quem – chega com pernas ao final.
Ou seja, é um sobe e desce constante em que o único terreno plano está na meta. Pode dar sprint reduzido, perseguição até ao fim ou uma ciclista sem mãos no guiador durante 50 metros. Seja como for, vai ser giro.

O que esperar
Para algumas das favoritas – como Longo Borghini ou Vollering – a estratégia é simples: atacar forte nos paredões e rolar sozinha até à meta. O problema? Não correm sozinhas. As equipas mais fortes em prova – SD Worx, FDJ, UAE ou Lidl Trek – tentarão manter o máximo número de ciclistas na frente, para desgastar com ataques sucessivos ou responder entre si.
Olhar para o historial da prova ajuda até certo ponto. Já começa a ser um cliché destas antevisões, mas faz diferença: em 2024, as equipas eram muito diferentes.
Por exemplo, no ano passado, a SD-Worx trouxe a esta corrida três das favoritas: Demi Vollering, Lotte Kopecky e Niamh Fisher-Black. Entretanto, as Destiny's Child do ciclismo seguiram as suas carreiras a solo: Demi é líder na FDJ, Niamh é "líder" na Lidl e Kopecky (a Beyoncé do grupo) está a ganhar onde sempre esteve.
Com as equipas a terem uma redistribuição mais equitativa de riqueza nos plantéis – como o mundo devia ser – esta corrida fica bem mais rica em sonhos. Vai ser um mimo, mês riquinhes.
Favoritos
Demi Vollering — A patroa da FDJ está consistente nas subidas. Há quem ache pouco porque, na época de clássicas, "só" ganhou a Strade Bianche. Ya, digam isso a 99% do pelotão. Aqui está em casa. Afinal, foi vencedora em 2021 e 2023. Em 2025? Se acreditarem em padrões do universo, a resposta é fácil.
Elisa Longo Borghini — Sempre a dama de honor, nunca a dama que casa. Foi segunda em 2023 e 2024, derrotada no sprint até à meta. Está picada do flop na Amstel, quando os cortes no pelotão – e depois um trabalho de gestão arriscado, mas impecável da SD Worx – a afastaram de discutir a corrida. Só que desta vez não é damas, é xadrez.
Lotte Kopecky — Atenção: os resultados recentes enganam. Em San Remo e Roubaix, foi trabalho de equipa. Na Amstel, ficou no tal corte de grupo bizarro que arrumou com as favoritas. Na Flèche, não estava a sentir o paredão. Com um percurso mais propício a ataques de longe, tem de ser sempre favorita.
E vamos ser sinceros: quando olham para Kopecky na lista de saída, ainda pensam em números?
A não perder de vista
Puck Pieterse — A Flèche Wallonne foi só o início. O novo prodígio das clássicas está a andar muito e mostra que já não é só uma promessa sem resultados. Ainda não falhou um top-10 este ano. Spoiler: não vai ser agora.
Katarzyna Niewiadoma — A líder da Canyon continua a afinar baterias para as Grandes Voltas. Numa chegada em grupo pequeno, é quase certo que ela vai lá estar. Depois, é só perceber como é que ela vai chegar em 4.º.
Liane Lippert — A minha escolha fora da caixa está na Movistar. Tem uma leitura de corrida fantástica: bem posicionada, gere bem o esforço e mete-se sempre na roda dos ataques certeiros. Foi assim que fez pódio na Ronde e top-5 na Flèche. Se isto fosse um daqueles artigos de fantasy, dizia para a levarem.
Anna van der Breggen — Vencedora em 2017 e 2018. Depois de um bom arranque de época, tomem lá DNF e DNS nas últimas duas provas, por doença. A equipa falso plano deseja as rápidas melhoras.
Apostas falso plano
André Dias — Elisa Longo Borghini. Água mole em ardena dura, tanto bate até que fura (por favor, não fures a meio).
Fábio Babau — Woo woo, Puck a terra, Puck a terra.
Henrique Augusto — Doyenne Demi.
O Primož do Roglič — Sra. Elisa.
Miguel Branco — Lotte Kopecky. Tem de ser, né?
Miguel Pratas — Koninginnedag Demi.
Nuno Gomes — Puck o sonho comanda a vida.
Rogério Almeida — Longo - Borghini - Longo.