Antevisão — Itzulia Basque Country

Quer Vingegaard quer Gaudu devem ficar muito giros com a boina basca. Por isso isto vai acabar bem.

Antevisão — Itzulia Basque Country
Itzulia Basque Country

Introdução

No momento em que vos escrevo, estou ainda em pele de galinha com o que Pogačar acabou de fazer na Flandres. Vocês devem ter visto, imagino, e se não viram vão ver que é muito mais interessante que este post. E mesmo que tenham visto, um replayzinho também nunca fez mal a ninguém.

Foquemo-nos agora no assunto que nos traz aqui, a 62º edição da Volta ao País Basco, uma das corridas por etapas mais imprevisíveis do calendário. Por habitualmente não ter uma chegada em alto super selectiva nem contrarrelógio, a prova decide-se habitualmente por segundos e tem os condimentos necessários para nos trazer algumas surpresas. Basta lembra que nesta prova já vimos Pogačar trabalhar para McNulty. Apesar disso, nos últimos dez anos tivemos aqui vitórias de trepadores de topo como Roglič, Quintana, Contador, Valverde e Purito Rodríguez, deixando claro que é preciso estar bem quando o terreno endurece.

Este ano não temos nenhuma chegada em alto, nem nenhuma etapa para os sprinters. É quase como se fossem seis dias seguidos de clássicas espanholas. Vão ser as bonificações, as jogadas táticas, a ousadia e, claro, as pernas, a decidir quem levará para casa a bonita boina basca. Candidatos não faltam. Estão os ingredientes reunidos para termos uma bela semana de corridas enquanto esperamos por Roubaix.

Daniel Martínez venceu a última edição da Volta ao País Basco. Ion Izagirre e Aleksandr Vlasov completaram o pódio. (foto: Spring Cycling Agency)

O percurso

Etapa 1 — A haver sprint em algum dia seria logo ao primeiro, apesar de um dia acidentado e com final num pequeno topo. No entanto, tenho ideia que para haver sprint tem que haver sprinters. E não há um na startlist. Desculpa Aberasturi, tu não contas. Pode um ataque tardio resultar, os homens da geral discutirem os segundinhos de bonificação entre si ou Hayter fazer aquilo para que é pago e ganhar isto.

Vitoria - Gasteiz›Labastida (165.4km)

Etapa 2 — A última subida é o belo de um falso plano. Por isso ou se decidem a atacar de longe e partir a corrida antes ou o mais provável é uma fuga com homens que perderam tempo na véspera ter o seu sucesso. Mais um dia em que, entre os candidatos, não devem existir grandes diferenças. E onde a ousadia pode dar a vitória a quem a tiver.

Viana - Leitza (193.8km)

Etapa 3 — Começa a festa mais a sério. Nos últimos quinze quilómetros são quatro topos a rondar o quilómetro de distância mas todos a picarem os 10% de inclinação. A derradeira subida, um pouco mais longa, tem o seu quilómetro final a 9.4%, mas passa por uma parede a 26%. Pernas para que vos quero. Não vão ser grandes as diferenças, mas vai dar para avaliar o momento de forma dos ciclistas e, aqui do sofá, vai ser divertido.

Errenteria - Amasa-Villabona (153.9km)

Etapa 4 — Embora o fim da subida final ainda se encontre a quinze quilómetros da meta, o facto de estes serem feitos a descer pode ajudar às ideias de quem se sentir bem neste dia. A descrição original da subida engana pois na sua parte final endurece, e muito. O suficiente para, agora sim, se começarem a fazer diferenças a sério.

Santurtzi - Santurtzi (175.7km)

Etapa 5 — Mais uma etapa rompe pernas. Então mas não há metros planos por aqui? Se há, a organização preferiu deixá-los de fora. E nós agradecemos por isso. Mais uma sequência de pequenos topos surgem nos dez quilómetros finais, mas aqui endurecidos previamente por um percurso bem mais durinho antes. Depois de quatro dias, acredito eu, corridos na red line, as pernas aqui já vão doer e acredito ser o terreno ideal para jogadas táticas por parte das equipas com mais do que uma carta para a vitória final.

Amorebieta - Amorebieta (165.9km)

Etapa 6 — Na curta última etapa desta prova costumam dar-se as decisões. O menu é apelativo. Três 1ªs categorias, uma 2ª e mais três 3ªs concentram-se em menos de 140 quilómetros para nos dar um dia de espetáculo. O perfil tem tudo para causar grandes diferenças, para permitir uma bela remontada de última hora e para premiar com a vitória final aquele que, nesta selva, se mostrar o rei.

Eibar - Eibar (137.8km)

O que esperar

Este percurso já tinha tudo para eu só poder esperar uma anarquia total durante esta semana no País Basco. A ausência de um bloco dominador e a presença de tantos homens com capacidade para lutar pela vitória só aumenta a minha expectativa em relação a esta prova que, se for devidamente atacada, pode dar espetáculo todos os dias. Apesar disso, é na última etapa que se irá decidir o vencedor, servindo os dias anteriores para deixar cair a fruta podre e para ver que atitude terá de ter cada ciclista nessa brutal jornada. Acredito que, até lá, possa haver um ou dois momentos em que equipas com mais do que um líder (destaque aqui para a Bahrain com Bilbao e Landa) possam tentar algo diferente e ter algum sucesso, até porque o que não falta são homens que, sendo segundas opções nas equipas ou sabendo que se levarem tudo para o último dia não terão hipóteses, têm todo o interesse em que o caos se instaure o quanto antes. Nestas categorias penso que se encaixam nomes como Esteban Chaves, Rui Costa, Ruben Guerreiro, Luke Plapp, Mauro Schmid, Mattias Skjelmose e claro, o sempre irreverente e adorado, Marc Soler.

Tenho ainda um leque de ciclistas que seguirei com curiosidade, como: Ethan Hayter, que depois de sucessivos flops tem aqui uma prova sem concorrência de homens rápidos e onde tem mais que a obrigação de picar o ponto; Egan Bernal, que vem aqui dar mais um passo rumo a algo que, esperamos nós, seja semelhante ao que vimos em outros tempos; e Richard Carapaz que depois de ter ido aquecer as pernas à Catalunha pode chegar aqui já com a capacidade de, pelo menos, lutar por uma etapa.

Favoritos

Jonas Vingegaard — Vingegaard prefere subidas mais longas do que as desta prova. Mas é um super ciclista, tem mostrado melhorias nos esforços mais explosivos e epá, enquanto único dos extraterrestres presentes, tem de ser o principal favorito. Mas eu acho que não vai ganhar.

David Gaudu — Por um lado adoro-o e gostava de o ver voar. Por outro tenho algum medo de depois acabar a discutir as hipóteses de ele ganhar o Tour. Já levantou os braços aqui, na etapa final de 2021, aparenta estar na melhor forma da carreira e ainda tem a seu favor uma ligeira superioridade face à maioria dos adversários, que é a sua ponta final. Se não cair, vai limpar isto.

Pello Bilbao — Um dos mais consistentes em provas por etapas continua a nunca ter alcançado a vitória final numa prova WT. O percurso é ótimo para ele, anda sempre bem e pode aproveitar alguma sobremarcação entre os principais favoritos, acima citados.

A não perder de vista

Ion Izagirre — Nas últimas sete edições da prova basca, o homem da casa fechou no pódio cinco vezes, incluindo uma vitória. Não conheço ninguém que leve o fator casa tão a sério como ele e, ainda para mais, vem de uma vitória. Vai andar entre os primeiros na certa e, empurrado pelo fervoroso público, pode até fazer uma surpresa.

Daniel Martínez — O campeão em titulo é uma montanha russa. Nunca sabemos bem o que esperar deste colombiano. Mas será líder na equipa, tem o trono a defender e, como ficou provado na edição passada, adora este tipo de etapas acidentadas.

Enric Mas — O rapaz não pára de nos surpreender, por isso não descarto a hipótese de vencer mesmo sem a presença do seu terreno predileto. Terá que endurecer bastante a corrida, mas tem equipa para isso. E companhia, pois há mais na mesma posição.

Simon Yates — Está a ter um belo ínicio de época, com o 4º no Paris-Nice e o 2º no Tour Down Under. Cada vez mais tem mostrado dar-se bem com percursos acidentados e, assim saiba escolher os cortes certos, pode ser uma das principais ameaças aos favoritos.

Sergio Higuita — Costuma fazer um ou dois brilharetes por ano em provas de uma semana. O ano passado foi na Catalunha, este ano pode perfeitamente ser no País Basco. As subidas curtas e íngremes assentam-lhe bem e é outro que pode beneficiar da sua ponta final. Ficaria muito surpreendido se não ganhasse pelo menos uma etapa.

Apostas falso plano

Fábio Babau — Enric Mas. Se depois do Itzulia começar a ser apelidado de monstro número 4, leram aqui primeiro.

Henrique Augusto — Oh lala que o Gaudu vai dropar o Poga e o Ving em Julho.

Lourenço Graça — Gaudu. Isto ainda não é o Tour.

Miguel Branco — Skjelmose. Se eu falar sempre do meu amor por ele, pode ser que um dia ele leia.

Miguel Pratas — Mais um triunfo de Rui Costa à frente de dois espanhóis. Desta vez serão Bilbao e Izagirre no pódio.

Ricardo Pereira — A minha aposta é Guernalec. Não quero ter a responsabilidade de escolher entre Gaudu, Mas e Vingegaard. Gosto demasiado de todos.

Sondagem falso plano