Antevisão — Il Lombardia
Pogačar corre atrás da história e os outros que corram atrás dele.
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Introdução
O último grande momento do ciclismo em 2024. Desculpa, Tour of Guangxi. É uma corrida de sentimentos mistos. Se por um lado há sempre o entusiasmo de ver um monumento desenrolar-se, por outro sabemos que é a last dance do ano e que daqui uns meses estaremos a desesperar para que comece o Tour Down Under. Nas belas paisagens do norte italiano iremos presenciar uma de duas coisas: uma surpresa tremenda ou história a desenrolar-se na frente dos nossos olhos. Por isso, não há como correr mal.
São 118 edições desta corrida porém apenas por uma vez a mesma foi vencida quatro vezes consecutivas pelo mesmo ciclista. Um senhor chamado Fausto Coppi, não sei se conhecem, que entre 1946 e 1949 não deixou nada para ninguém. Curiosamente, nesse remoto ano de 1949, o italiano chegava aqui à Lombardia à procura do 4.º sucesso consecutivo vindo de uma época em que tinha vencido o Giro, o Tour e um monumento (a Milano-Sanremo, a tal que Pogačar teme que o leve para a campa). Só tinha falhado os mundias, onde foi 3.º.
Pogačar corre atrás da história e os outros que corram atrás dele.
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O percurso
Tinham falado de um percurso mais soft este ano, mas não parece ser o caso. A corrida conta com a habitual elevada extensão de um monumento, mais de 250 quilómetros, onde se concentram 4800 metros desnível acumulado positivo. Plano aqui, fora raras exceções, nem vê-lo, nem verdadeiro nem falso. Depois de uns 180 quilómetros iniciais que deverão servir para cansar as pernas da malta (acho eu, sei lá. O Tadej pode atacar antes just for fun ou os seus adversários em desespero de causa), chegamos às duas dificuldades decisivas.
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A primeira desta combinação é a mais longa e tem zonas bem durinhas, acima dos 8%.
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O seu cume deixará o pelotão, ou o que restar dele, a menos de 40 quilómetros da meta, que serão percorridos maioritariamente a descer, com um intervalo para a última dificuldade do dia, a San Fermo della Battaglia. A aproximação à meta será, como tem sido habitual, muito veloz e só no último quilómetro o terreno se torna plano.
Nota final para o tempo que parece ter dado tréguas por Itália para que o último monumento do ano não sofra constrangimentos.
O que esperar
UAE a controlar e a endurecer a corrida com a sua habitual equipaça (Yates, Hirshi, Sivakov, Majka, Fisher-Black, Christen) até ao início da subida a Sormano, onde o UAE em melhor forma fará o leadout para o inevitável e fatal ataque de Tadej Pogačar. Os restantes favoritos entreolham-se e ao fim de dois quilómetros começam oficialmente a correr pelo 2.º lugar. Nessa dinâmica de lutar pelos lugares mais baixos do pódio, podemos esperar muitos ataques oportunistas até se juntar o grupo com os interesses corretos e depois entre si, decidir quem é o mais forte enquanto o campeão do mundo passeia a sua bela camisola rumo à melhor época de sempre da história do ciclismo.
A única coisa que pode abanar um pouco o que está acima é tentarem antecipar Pogačar, mas com a equipa que a UAE traz aqui penso ser quase impossível. Talvez Remco tente algo louco, afinal, o que tem a perder?
Outra coisa que podemos esperar é, depois do final da corrida, uma enxurrada de tweets e notícias sobre os feitos de Pogačar. 4.º monumento consecutivo, 7.º da carreira, 2 monumentos + 2 grandes voltas + mundiais no mesmo ano, etc. São todas bem-vindas, convém termos a noção do fenómeno que estamos a presenciar, mesmo que, aqui e ali, eu não negue que pode tirar um pouquinho interesse da corrida.
Favorito
Tadej Pogačar — Só não ganha se cair e se aleijar. Se cair, furar e tiver que fazer um Dumoulin mas não se aleijar, deve ganhar na mesma.
Candidatos aos restantes lugares do pódio
Remco Evenepoel — Não é da sua personalidade correr para 2.º, sobretudo neste que é o seu terreno predileto e numa corrida onde nunca conseguiu vingar. Por isso acredito num ataque kamikaze que é capaz de correr mal e lhe tirar a oportunidade de alcançar um lugar honroso. A outra hipótese é tentar a utopia de seguir a roda de Pogačar, mas aí talvez acabe por ficar em terra de ninguém e fazer 2.º. Ou isso ou rebenta.
Marc Hirshi — Depois do trabalhinho feito, o suíço que está de saída para a Tudor tentará fazer um bom resultado e é bem possível que o alcance. Usa a cartada do "não trabalho porque tenho um colega na frente" e depois sprinta no final. Yates poderá fazer algo semelhante mas com um ataque perto do final.
Thomas Pidcock — A prestação no Giro dell'Emilia deu a entender que pode procurar um bom resultado aqui, apesar das subidas mais longas o poderem deixar em maiores dificuldades face a trepadores de qualidade superior. Quando se sobe também se desce e é sabido que, nessa área, Pidcock não perde para ninguém.
Matteo Jorgenson — Na Emilia andou demasiado perto do fogo e queimou-se. Gabe-se-lhe a coragem. É dos mais fortes nestes terrenos mas costuma preferir partir que torcer, pelo que o seu resultado final nem sempre é representativo da sua qualidade.
Enric Mas — Já foi 2.º aqui e a aproximação, sobretudo os mundiais, deixam antever uma bela prestação do espanhol.
Maxim van Gils — Aqui não tem de destruir pelo Remco pelo que poderá aguentar com os melhores. Se assim for, depois tem uma bela ponta final.
Ben Healy — O irlandês é maluco e em corridas loucas isso às vezes dá jeito.
Apostas falso plano (para a competição terrestre)
Fábio Babau — Skujiņš.
Henrique Augusto — Kevin Vermaerke.
O Primož do Roglič — Pidcock, começou agora a época?
Miguel Branco — Lipowitz.
Miguel Pratas — Se o Evenepoel abandonar, o Gaudu faz 2.°.
Ricardo Pereira — Mas.