Antevisão — Figueira Champions Classic
Este é o primeiro monumento do ano. E esta vai ser a terceira vitória portuguesa de 2025. Ok, agora se calhar já não vai porque eu escrevi isto, mas pronto, vocês percebem a ideia.
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Introdução
Saia da frente, estimado leitor, o primeiro monumento do ano está ao virar da esquina. Depois disto, a Milão-Sanremo é para meninos. Nos dois anos transactos, duas vitórias da Soudal (Casper Pedersen em 2023 e Remco Evenepoel em 2024). Agora, a Figueira Champions Classic aterra na sua terceira edição, já bastante consolidada no calendário internacional.
Antes de rumar ao Algarve, a estrangeirada vem à Figueira da Foz beber um fino e espetar a fortuna na roleta sem qualquer pudor. Ou então vem ver os portugueses brilhar na Serra da Boa Viagem. E não são poucos: António Morgado, João Almeida, Nélson Oliveira, Ruben Guerreiro, Rui Costa e todos os outros presentes nas equipas nacionais. E todos sabemos que o clã luso chega à Figueira de peito cheio devido às conquistas recentes e a um início de temporada inesquecível. Ainda assim, convém dizer que a startlist (ainda provisória) é bastante interessante e que a vitória pode estar em muitas equipas. Seja como for, a mentalidade só pode ser uma: PRACIMADELES.
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O percurso
Depois de na edição de 2024 a organização da prova ter ambicionado colocar mais uma volta ao já exigente percurso final dentro da cidade, a mesma acabaria por não se cumprir em virtude das adversas condições meteorológicas que se fizeram sentido nos dias que antecederam a prova. Para 2025 a ideia é voltar ao desenho inicial, que foi, afinal, aquele que se cumpriu nas duas edições da Figueira Champions Classic.
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A receita é a mesma: 191 quilómetros, com algumas ténues dificuldades até à entrada no circuito final, que se faz a cerca de 90 quilómetros da meta. Segue-se então a habitual tripla passagem pela Rua Parque Florestal (2.3kms @ 7.1kms) e por Enforca Cães (800m @ 7.3%; que ostenta também o título de mini-subida com melhor vista do mundo — prémio turístico sobejamente conhecido que apesar de ainda não ter sido atribuído à Figueira Champions Classic, não deve tardar). A última passagem por Enforca Cães vai deixar os corredores a cerca de seis quilómetros da meta instalada bem no coração da Figueira da Foz, na Avenida 25 de Abril.
O que esperar
O facto de Remco Evenepoel não estar presente é determinante. Quem diz Remco Evenepoel, diz alguém que seja claramente superior ao resto da startlist — e sim, não há assim tantos nomes por esse pelotão internacional fora que possam surtir tal efeito numa prova. Dito isto, a corrida vai ser seguramente muito mais aberta.
São homens ao estilo trepador/puncheur que partem como principais favoritos, uma vez que têm na Rua Parque Florestal, nomeadamente na zona superior da subida — onde Evenepoel atacou o ano passado —, o pedaço de estrada mais duro de todo o traçado. Quem quer destacar-se tem de sair aí. Em teoria, acho que os tubarões (penso em Morgado, Christen, Alaphilippe, Powless, Vacek, Bardet, Guerreiro, Teuns, Wilder, Hermans) se vão guardar para a última volta, mas não excluo ver alguém tentar sair na penúltima, para surpreender.
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Resta saber como vai ser feita a corrida, a que velocidade, quão selectiva, qual a táctica da UAE. Isto porque se, numa eventualidade, João Almeida decidir trabalhar para Morgado e partir o pelotão na Rua Parque Florestal, bye-bye homens rápidos — Magnier, Girmay, Mikhels, Watson, entre outros. O que quero dizer é que me parece que vai ser difícil este perfil de corredores disputarem a vitória perante um lote tão grande de homens ofensivos como acima mencionei.
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Se assim for, parece-me que não só a força no final da subida da Rua Parque Florestal será decisiva, mas sobretudo que a zona de transição entre as duas ascensões — técnica, rápida, sobe-e-desce, onde é difícil perseguir — vai ser determinante. Se o grupo que sair na frente do Parque Florestal tiver vantagem suficiente para chegar ao início de Enforca Cães na frente, isto na última passagem, suponho, então a vitória já não fugirá a esses homens. Se assim não for, o grupo será bastante maior e temos de esperar para perceber quem será o mais rápido no sprint final.
Favoritos
Neilson Powless — É EF e sim, pode dar-se o caso de Rui Costa ser o protegido na equipa, mas na EF não há protegidos e Powless, olhando para o percurso, é daqueles nomes que mais dá garantias.
António Morgado — Já demonstrou a forma em que está. E se há coisa que este homem tem é força. Além disso, é um rolador bastante competente para não ser alcançado na zona entre as duas subidas. Bónus: tem sprint.
Jan Christen — Outro que está a voar. E que me parece que, juntamente com Morgado, pode ter um papel táctico muito importante na corrida. Morgado rebenta com eles e Christen foge. Claro que idealmente queremos o oposto.
A não perder de vista
Mathias Vacek — Se lhe derem uma camisola de líder no início da corrida, daquelas que como vimos na Valenciana o faz subir lindamente, então pode revelar-se um enorme candidato.
Paul Magnier & Biniam Girmay — É como escrevi acima, se os deixam chegar, beijinhos.
Ilan Van Wilder — A Soudal ganha sempre na Figueira. E o traçado tem a cara de Wilder, embora precise de chegar sozinho se quiser erguer os braços. Dá-se ainda o caso de esta ser a sua primeira prova de 2025, portanto a forma é uma incógnita.
Julian Alaphilippe — E esta? A lenda Loulou faz a sua estreia na Tudor bem diante dos nossos olhos. Em teoria, tem tudo para estar no top-5, vejamos como estão as pernas.
Henrique Augusto — Dentro do lote de portugueses está também Henrique Augusto, estimado moderador do falso plano, que vai seguramente protagonizar um brilharete na Rua do Parque Florestal. Além de subir muito bem, o Henrique tem uma capacidade de resistência ao nível de poucos. Bombom no topo da cereja: não é ele que está a conduzir.
Apostas falso plano
André Dias — Tão fácil que até prevejo o Top 10. Morgado, Almeida, Ruben, Rui Costa, Nelson e 5 ciclistas de Loulé.
Fábio Babau — Neilson Powless, depois de um grande trabalho de Rui Costa.
Henrique Augusto — Não há ouro como ele e só ele pode sair vencedor. Anda Morgadããããão.
O Primož do Roglič — Sem Pogačar, a UAE lança o dado… Calha Morgado.
Miguel Branco — Romain Bardet, que devia ter percebido que acabar a carreira na Figueira Champions Classic teria muito mais cenário do que no Dauphiné.
Miguel Pratas — Meto todas fichas no dorsal #XX. (Dorsal do morgado quando se souber).
Nuno Gomes — O Nuno está cheio de trabalho, mas pediu-me para dizer Vacek.
Rogério Almeida — Pedra, papel ou Jan Christen.