Antevisão — Figueira Champions Classic
Atrás do Rui chega quem?
Introdução
Após sucessivos anos de sucesso da Volta ao Algarve como uma das principais provas de inicio de época para os melhores ciclistas mundiais — quando digo os melhores, digo mesmo os melhores pois nos últimos seis anos ganharam no Algarve nomes com jeito para o ciclismo como Tadej Pogačar, Remco Evenepoel, Primož Roglič e Geraint Thomas —, oportunamente aparece esta segunda prova para quem quiser vir mais cedo e passar uma semaninha no agradável clima nacional. Parece à primeira vista ter tudo para correr bem, com um percurso interessante, uma inteligente colocação no calendário e esperemos um ótimo ambiente proporcionado pelos portugueses - o falso plano fará a sua parte e irá em visita de estudo à Figueira. E alia a isto uma startlist que faz inveja a muitas prova de escalão superior. Temos vencedores de Paris-Roubaix, Flandres, Milano-Sanremo, campeonato do mundo, um total de 35 vitórias em etapas de grandes voltas e, inclusivamente, vencedores da Grandíssima. Se isto não é tudo o que é preciso para termos um belo dia de ciclismo na estreia da prova este Domingo, não sei que mais se poderia pedir para uma primeira edição.
O percurso
Cem quilómetros iniciais sem dificuldades servirão para apreciar as vistas e aquecer as pernas para a montanha russa que se segue. A entrada no duro circuito final, que será ultrapassado por três vezes, marcará o inicio da corrida a sério e será a oitenta quilómetros da meta que pela primeira vez os ciclistas terão pela frente a subida à Rua Parque Florestal (ótimo nome de subida). 2.1km a 8.6% já impressionam, o último quilómetro ser a mais de 10% promete muito sofrimento para os ciclistas. E muito espetáculo para nós.
A segunda subida do circuito é também uma pequena parede, que se fará em pouquíssimo tempo mas representará a derradeira oportunidade para se fazerem diferenças. A última passagem por Enforca Cães (sem comentários) dá-se a menos de sete quilómetros da meta e a ela apenas se segue uma descida e uma rápida aproximação à meta.
O que esperar
A fácil fase inicial será aproveitada sobretudo pelas equipas portuguesas, que terão a sua oportunidade de irem para a fuga, ter visibilidade e esperar por um adormecimento do pelotão. Além disso, há ainda o aliciante desta clássica contar com classificações secundárias.
O ciclismo hoje em dia é louco, há aqui muita gente de perfil atacante e sem favoritos óbvios, temos tudo para ter uma corrida aberta e espetacular.
Posto isto não acredito que alguma equipa vá assumir a corrida, até porque apesar de estarem presentes homens rápidos - como Jakobsen, Aberasturi e Degenkolb - não penso que venham com ideias de vencer e muito menos de colocar as suas equipas na ingrata posição de trabalhar para mais cedo ou mais tarde os verem descolar. Por isso a questão é onde começarão os ataques. Eu acredito que na segunda passagem já teremos ação e ataques dos principais candidatos. Disto pode resultar o isolamento de um pequeno grupo com alguma facilidade, dado que há poucas equipas com capacidade para perseguir neste terreno e as que há estarão certamente representadas no corte. A partir dai será a lei do mais forte, ou do mais inteligente, a ditar quem ficará na história como o primeiro vencedor da Figueira Champions Classic.
Favoritos
Rui Costa — Provavelmente o ciclista em melhor forma no momento, vem de uma vitória incrível a fazer lembrar outros tempos e a demonstrar todas as suas qualidades. Desde a versatilidade, à ponta final e à inteligência. Será o favorito do público e isso também pode dar uma ajuda extra.
Quinten Hermans — Em estreia pela nova equipa, quererá desde já começar a marcar lugar e a justificar a sua contratação. Um segundo lugar na Liége do ano passado é cartão de visita suficiente para perceber que se bate muito bem neste tipo de terreno.
Magnus Cort Nielsen — O dinamarquês quererá aproveitar a sua última época com o estatuto do melhor bigode do pelotão e começar desde já a vencer. Dispensa apresentações, num dia bom passa as subidas sem dificuldades e apesar de ser rápido, gosta de atacar e chegar sozinho.
A não perder de vista
Oscar Onley — Dada a triste decisão de não trazer Welsford a esta prova, as esperanças recaem sobre o jovem britânico que no final da época passada mostrou ter aptidão para este tipo de percurso. A equipa está a andar bem e eu adorava ser o primeiro a acertar num hot take.
Kobe Goossens — De Maiorca à Figueira vão 9 horas de distância. Não é assim tanto, por isso, de uma maneira estranha e com aquela camisola milagrosa, pode voltar a ganhar.
Kasper Asgreen — Inicio de época é sempre sinónimo de imprevisibilidade. Asgreen assenta muito bem neste perfil e conta com um bloco que apesar de não ter um líder óbvio, é dos mais fortes em prova. E, já se sabe, se se apanha sozinho já só o veem no Algarve.
Apostas falso plano
Lourenço Graça — Rui Costa. O homem está como o vinho do Porto.
Miguel Branco — Luís Gomes. Mas muita fácil.
Miguel Pratas — Fui ao casino da Figueira e fiz all-in na fuga. Rune Herregodts.
Ricardo Pereira — Fred Figueiredo. O melhor ciclista português da atualidade.
Henrique Augusto — Eu não queria repetir, mas acho mesmo que vai ganhar o Rui.