Antevisão Etapa 8 — La Vuelta ciclista a España

Está tudo sentado? Vamos lá ver quem tem pernas.

Antevisão Etapa 8 — La Vuelta ciclista a España
La Pola Llaviana/Pola de Laviana - Colláu Fancuaya (153.4 km)

Rescaldo da etapa 7

Então e se a gente metesse uma subida de quase 20 quilómetros (a quase 6%) a meio da etapa e o resto fosse tudo plano? A organização tentou. A Trek-Segafredo e a Bike-Exchange Jayco também — a pensar em Mads Pedersen e em Kaden Groves —, mas no final aconteceu o expectável: ganhou a fuga. Com receio de acelerar em demasia na ascensão, a Trek-Segafredo nunca foi capaz de reduzir substancialmente a diferença da fuga, fazendo com que os quase três minutos com que os cinco escapados — Jesús Herrada, Fred Wright, Samuele Battistella, Jimmy Janssens e Harry Sweeny — passaram no alto do Puerto de San Glorio fossem suficientes para discutirem o final entre si. Wright voltou a rematar ao poste, lançando o sprint demasiado cedo. Herrada, talvez em teoria o mais lento dos cinco, foi o mais forte, oferecendo mais uma vitória espanhola em grandes voltas — dedicando-a, naturalmente, ao Miguel Pratas.

A subir: Cofidis. A equipa francesa sacode a pressão com a vitória em etapa relativamente cedo na competição. Podem apontar baterias para a desejada camisola da montanha. #olegadodemoncoutie

A descer: Fred Wright. Uma vez é azar. Duas é falta de sorte. Três é ingenuidade. Um sprint numa fuga não se lança a 350 metros.

Desde a Vuelta de 2019 que a Cofidis não vencia em GT. E foi novamente Herrada a dar motivos para sorrir. (foto: twitter Cofidis)

O percurso

Pernas para que te quero. Finalmente. Embora na quarta-feira já tenhamos tido um primeiro super dia de montanha, agora, nas Astúrias, a parada sobe. São seis contagens de montanha — duas de segunda, três de terceira e uma de primeira — numa etapa de apenas 155 quilómetros. Ou seja: vai dar molho. É melhor corrigir: pode dar molho. O que é certo é que muitos dos ciclistas vão chegar à subida final, ao Colláu de Fancuaya, possivelmente curtos e outros já descolados. Mais uma ascensão nunca antes feita na Volta a Espanha, que leva os ciclistas a quase 1100 metros de altitude durante pouco mais de dez quilómetros e com uma pendente média de 7.9%. Há muitas zonas acima de 15%, sendo o seu ponto mais exigente passado a 19% durante o quinto quilómetro de subida, portanto praticamente a meio da mesma. O final é destruidor: duas zonas de 17% dentro dos últimos três quilómetros, estando a segunda destas já inserida nos últimos 500 metros. Socorro.

A última subida do dia leva-nos a quase 1100 metros. A meta está colocada na localidade de Yernes y Tameza, que tem apenas 128 habitantes. 

O que esperar?

Remco Evenepoel, parece-me, vai tentar que a corrida seja pouco agitada — o que não deixa de ser curioso tendo em conta o perfil do corredor belga. Tendo 1:01 minutos de vantagem para Primož Roglič na classificação geral, o líder da Quick-Step Alpha Vinyl deve estar satisfeito, isto é, esta é uma vantagem que certamente não se importaria de levar para o contrarrelógio da próxima terça-feira. Nesse sentido, a equipa de Lefevere deve controlar a corrida o mais possível, sabendo que a INEOS-Grenadiers — com três homens dentro do top 10 — terá outros interesses. Carlitos Rodríguez, Pavel Sivakov e Tao Geoghegan Hart podem perfeitamente testar Remco com ataques à vez, sucessivos, para perceber como é que o camisola vermelha vai lidar com as pendentes mais duras — que não costumam ser as suas prediletas. E o que fará Carapaz? Ajudará? Vai tentar ganhar a etapa?

O mesmo se pode dizer da Bora-Hansgrohe. Hindley e Kelderman estão já a 1:55 minutos da liderança, Sergio Higuita mais longe ainda: 2:22 minutos. Tendo em conta as deficiências de Hindley e Higuita no contrarrelógio não vejo outra possibilidade que não a de tentarem atacar de longe para fazer Evenepoel hesitar — terá de fazer contas a quem deixa ou não sair, uma vez que talvez não possa responder a todos e falte ainda saber quem da equipa estará com ele e durante quanto tempo. Quanto a Roglič tenho a sensação que vai ser cauteloso. Deve ter na cabeça que ainda ninguém está convicto que Remco dure as três semanas e, nesse sentido, 1:01 não é assim tanto tempo.

Enric Mas devia, em teoria, continua a ganhar tempo tendo em conta o contrarrelógio, mas estando apenas a 28 segundos do líder, talvez volte a preferir ficar na roda. João Almeida não parece em boa forma, portanto deve tentar não perder muito tempo para os melhores — e vejamos que força apresenta Juan Ayuso neste segundo assalto. Ben O’Connor e Miguel Ángel López têm de sair ao quilómetro zero da subida ou reorientam a sua presença na Vuelta para as vitórias em etapas. Simon Yates deve tentar seguir os INEOS, sabendo que no contrarrelógio tem vantagem sobre muitos destes candidatos.

Quanto às hipóteses da fuga tenho algumas dúvidas. Os piores homens da geral não estão assim tão distantes para terem liberdade de sair no início e há demasiados interesses aí. A questão repete-se em relação à sexta etapa: se por lá estiverem bons trepadores, quem sabe. E o facto de a etapa começar logo numa segunda categoria pode constituir um grupo talentoso na frente. Resta saber se os interesses das equipas dos favoritos na etapa são reais ao ponto de perseguirem desde cedo.

Quem vai ganhar?

Remco Evenepoel E se ele decide arrancar outra vez?

Ben O’Connor — Está a 2:09 e é um especialista em ataques dentro da última montanha. Vejamos como está de pernas e ambição.

Miguel Ángel López Está a 2:20 e há muito que não vemos uma imagem positiva do colombiano em grandes voltas. Tem de aparecer. Tem boa equipa. E adora altas pendentes.

Primož Roglič — Se um grupo restrito de favoritos chegar, será sempre favorito devido à sua ponta final.

Juan Ayuso — Se o miúdo volta a ligar o motor, cuidem-se.

Santiago Buitrago Já está a mais de cinco minutos. Pode ter liberdade e sobe que é uma delícia.

Jay Vine — Tem de tentar sair cedo. Mais que não seja para começar a perseguir o objectivo camisola da montanha.

Mark Padun Pareceu dar ares de Dauphiné 2021. E se for assim vai lá estar batido sempre que a estrada inclinar.

Thibaut Pinot — Não vence uma etapa em grandes voltas desde o Tourmalet, na Volta a França de 2019. Algum dia tem de quebrar a maldição.

Esteban Chaves — Não vence uma etapa em grandes voltas desde a Volta a Itália de 2019. Tem boas memórias em terras espanholas. Pode ser desta.

Apostas falso plano

Henrique Augusto: Pinot. A subida inicial permite entrar na fuga e depois será dos mais fortes.

Lourenço Graça: Roglic - teve um dia mau e esperemos que não se tenha ressentido da lesão. Se não for esse o caso, estará lá na frente para vencer

Miguel Branco: Buitrago. Tenho-o na Cycling Fantasy, preciso que ganhe — escrevi o mesmo para o Herrada na etapa 6 e ele ontem venceu.

Miguel Pratas: Ben O'Connor, se não saltar a corrente.

Ricardo Pereira: Padun, com muita pena minha.

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