Antevisão Etapa 5 — Giro d'Italia
Consonni is the new Van Poppel ou a história de mais um sprint caótico.
Rescaldo da Etapa 4
Tontura. No final do sprint tive uma tontura — tal foi a velocidade e força bruta que Jonathan Milan utilizou para sair vencedor da quarta etapa do Giro 2024. O sprinter italiano já nos habituou: quando vence é sempre em grande estilo. Milan aproveitou o embalo da descida do Capo Mele (clássica ascensão da Milano-Sanremo) e o excelente trabalho da sua Lidl-Trek na perseguição a um Ganna que tentou uma travessura para imprimir uma velocidade surreal. Bateu Kaden Groves e Phil Bauhaus, com Olav Kooij e Tim Merlier imediatamente atrás.
Antes destes quilómetros finais, a etapa decorreu com relativa normalidade. Uma fuga com Lilian Calmejane, Stefan De Bod e Francisco Muñoz — e que a certa altura chegou a ter Ganna que depois foi mandado recuar, numa clara demonstração de profunda desorientação da INEOS Grenadiers e das suas tácticas.
Pelo caminho alguma chuva, nevoeiro, uns quantos sprints intermédios e uma desistência triste: Biniam Girmay caiu por duas vezes e deixou o leque de candidatos à ciclamino mais pobre — o Giro e eritreu ficam com ainda mais contas por ajustar.
O percurso
Etapas 100% planas? Isso é que era bom. Se querem sprintar vão passar mal primeiro. Na ligação entre Génova e Lucca, na qual distam 178 quilómetros, a tarefa volta a não ser facilitada para os homens mais rápidos. Sobretudo, os primeiros 80 quilómetros, que são de um sobe-e-desce constante e que vão afastar alguns dos sprinters mais pesados (sim, amanhã ainda não é dia de Jakobsen). O ponto alto dessa primeira fase da etapa é o Passo del Bracco, uma terceira categoria de mais de 15 quilómetros a 4%. Claro que as pendentes não são muito exigentes (tirando um ou outro quilómetro acima de 7 e 8%), mas 15 quilómetros já vão tirar o fôlego a muita gente, sobretudo se considerarmos que o início da tirada deve ser feita a uma velocidade louca na tentativa de encontrar a fuga do dia.
Depois disso, acalmia. Descida e mais uns 70 quilómetros a rolar — que pode servir para muitos reentrarem no pelotão. Uma quarta categoria que não apresenta grandes dificuldades (3 kms @ 4.3%) e uma chegada a Lucca que é tudo menos fácil. É que os últimos três quilómetros são feitos bem no centro história da cidade, com ruas bem apertadas, paralelos no solo e viragens constantes. Segurem-se bem, meus amores.
O que esperar
Apesar de tudo isto, eu espero uma etapa discutida ao sprint, um sprint caótico, claro está. A primeira metade da etapa vai ser bem animada — há muito e boa gente que vai querer estar na fuga, porque o terreno algo sinuoso nesta fase atrapalha a perseguição. Além disso, acho que as equipas de sprinters mais versáteis — falo da Alpecin de Groves, da Lidl-Trek de Milan, da Groupama-FDJ de Pithie e quem sabe da Visma | Lease a Bike de Kooij (consoante as sensações do neerlandês) — vão tentar aumentar o ritmo para fazer descolar os sprinters mais puros como Merlier, Dainese, Bauhaus, etc.
Se não o fizerem por considerarem que pode ser em vão tendo em conta o enorme plano que se segue após o Passo del Bracco será, a meu ver, uma oportunidade perdida. Até porque não considero que a quarta categoria já dentro dos últimos 20 quilómetros tem de ser a um ritmo alucinante para criar sérios problemas a homens como Merlier — a não ser que o cansaço de uma etapa extenuante os possa trair.
A chegada a Lucca vai ser um autêntico caos porque há sempre quem queira tirar partido de estradas apertadas e de empedrados. O posicionamento, mais uma vez, vai ser vital.
Favoritos
Jonathan Milan — Favorito número um. Para já porque hoje deu o show que deu. Depois porque aguenta melhor as dificuldades do dia que Merlier.
Tim Merlier — Se lá chegar, já se sabe, é dos mais rápidos.
A não perder de vista
Olav Kooij — Em teoria, o sprint técnico é ideal para o neerlandês. Mas o rapaz não tem estado inspirado, perdendo sempre o momento do lançamento. Pode ser que amanhã seja o dia de virar a página.
Kaden Groves — É o grande interessado em fazer descolar os homens mais rápidos. Hoje, num dia em que todos chegaram com as pernas cansadas, viu-se que pode lutar pela vitória. Amanhã é outro desses dias.
Tobias Lund Andresen — Final mesmo ao seu jeito — se lá estiver acredito que vá lançar o sprint cedo (alguém tem de fazer de Gaviria). Já merece uma vitória a este nível.
Laurance Pithie — Chegou a este Giro como menino bonito e uma das surpresas da temporada. Só que até agora, niente. Amanhã tem de ser, já teve quatro dias para se ambientar aos grandes palcos.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Ganha o italiano da Lidl - Trek: Simone Consonni.
Henrique Augusto — Stefano Oldani, a partir da fuga.
Lourenço Graça — Kooij, faltas tu.
Miguel Branco — Mais uma para Milan; Consonni is the new Van Poppel.
Miguel Pratas — Já ouviram falar de Madis Mikhels?
Ricardo Pereira — Bis do Milan amanhã.