Antevisão Etapa 20 — La Vuelta ciclista a España
Estamos prontos para o espetáculo. Não nos desiludam outra vez.
Rescaldo Etapa 19
Que flop. O que parecia ser uma etapa com potencial para diversão, foi uma autêntica pasmaceira. O peso da atribulada etapa de ontem — agradeçam a João Almeida — fez-se sentir e ninguém da classificação geral se mexeu um centímetro. Em consequência disso, a Trek-Segafredo controlou a seu belo prazer, não permitiu uma fuga numerosa e andou sempre ao ritmo que quis, levando Mads Pedersen à terceira vitória nesta edição da Volta a Espanha, num sprint sem discussão. Pode ser que a organização perceba que a penúltima etapa antes da chegada a Madrid não pode ser marcada por segundas categorias.
A subir: Miguel Ángel López. Depois de se revelar como bom contrarrelogista nesta Vuelta, fecha top 10 numa etapa disputada ao sprint. Superman está todo-o-terreno.
A descer: Brandon McNulty. Entrou na fuga, que chegou a ter quatro minutos de vantagem e não conseguiu arrancar sozinho para a vitória. O McNulty de outros tempos teria ganho fácil.
O percurso
O Puerto de Navacerrada é um clássico na Vuelta, tendo já estado integrado em etapas por 15 vezes ao longo da história. Nomeadamente, retomemos a etapa 20 da Vuelta 2015, ganha por Ruben Plaza, mas onde Fabio Aru e a sua Astana foram os protagonistas, pegando fogo à corrida desde cedo para assaltar a liderança que até então era de um surpreendente Tom Dumoulin. Aru ia ganhando tempo ao holdandês, apanhando colegas vindos da fuga e sentenciando a vitória nessa Vuelta com uma das últimas etapas mais épicas dos últimos anos.
São etapas gémeas. Em 2015, eram quatro montanhas de primeira categoria: Puerto de Navacerrada, dupla passagem ao Puerto de la Morcuera e o Puerto de Cotos como última ascensão, a que se seguiram menos de dez quilómetros planos e a descida íngreme até Cercedilla. Amanhã, o filme é muito semelhante. Passagem no Puerto de Navacerrada (10km a 6,8%), seguida do Puerto de Navafría (10km a 5,5%) e do Puerto de Canencia (7,3km a 4,8%) — duas segundas categorias que não estavam, de facto, em 2015 — antes da primeira categoria do Puerto de la Morcuera (9.2km a 6,8%) e da também primeira categoria Puerto de Cotos (10.5km a 5,6%). A meta está instalada depois de mais sete quilómetros praticamente planos que desaguam no Puerto de Navacerrada.
Não é a etapa mais dura de sempre, mas já existe muito desgaste e há muita gente que não está satisfeita com o seu lugar na geral. E mais importante, não tem medo de o perder. De qualquer maneira, terão de ser os ciclistas a fazer desta uma jornada ao nível do que aconteceu em 2015.
O que esperar?
É agora ou nunca. Ou vai ou racha. Enric Mas pode até, interiormente, ter perdido as esperanças, mas não vai deixar de tentar isolar Remco Evenepoel e levá-lo à exaustão. Sabemos que esse é um cenário difícil de acontecer e que os 2:07 devem ser mais do que suficientes para o belga ser coroado como o grande vencedor da Vuelta, mas o espanhol tem muita margem para trás, pelo que não tem nada a perder. E quiçá possa inspirar-se em Aru, que na altura aproveitou a fraqueza de Dumoulin — que tal como Remco, lutava pela primeira vez por uma vitória numa grande volta — no último dia de montanha para roubar a roja e sorrir em Madrid.
Mas isto não é tudo. Há muitos lugares a disputar no top10, portanto esperem João Almeida ao ataque, talvez cedo, na tentativa de chegar ao quinto lugar do debilitado Carlitos Rodríguez. Outro senhor com quem podem contar é Miguel Ángel López, que a menos de um minuto do terceiro lugar de Juan Ayuso vai ter de arriscar algo de ousado. Astana vs UAE Emirates parece um dos grandes focos da etapa e são as outras duas equipas com mais interesse numa corrida muito movimentada.
As eventuais tentativas madrugadoras dos homens da geral podem invalidar vitórias para a fuga. Depende do momento em que decidem mexer. Mas se querem fazer grandes diferenças, têm que aproveitar logo a primeira contagem de montanha para atacar/endurecer a corrida e isolar os rivais, pelo que acreditamos numa etapa a ser decidida pelos favoritos e não pela fuga. Se for por favoritos na fuga, tanto melhor.
Quem vai ganhar?
Remco Evenepoel — O líder vai controlar, mas se vir, no final, que está melhor do que os rivais…
Enric Mas — Tem de meter tudo o que tem na estrada. A conversa dos pontos não é suficiente para desperdiçar a oportunidade de uma vida.
João Almeida — Agora que sabemos que João Almeida também é capaz de atacar a muitos quilómetros da meta, a esperança é a última a morrer.
Miguel Ángel López — O líder da Astana vai assaltar o pódio e todos sabemos como é capaz de desferir ataques kamikazes.
Ben O’Connor — Ser oitavo ou nono não deverá tirar o sono ao australiano da equipa francesa, que tem de mostrar os dentes de forma mais afirmativa do que aquela que tem sido capaz de fazer e arriscar desde cedo.
Jai Hindley — Tal como O’Connor, tem que se fazer à vida se ainda quer levar algo desta Vuelta.
Louis Meintjes — Sem nada a perder, sendo 11.º classificado na geral, o sul-africano vai sair ao quilómetro zero.
Thibaut Pinot — É desta?
Alejandro Valverde — O prometido é devido, portanto cá está o bala.
Apostas falso plano
Henrique Augusto - Hindley. Entre os que têm liberdade, é o que tem mais pernas.
Lourenço Graça - Mas. Merece uma etapa.
Miguel Branco - Meintjes. Tu mereces, miúdo.
Miguel Pratas - Miguel Ángel López. À conquista do pódio.
Ricardo Pereira - João. A preparar a quarta semana.
Diogo Kolb - Valverde. El imbatido vai evitar Mas uma desilusão nesta Vuelta.