Antevisão Etapa 19 — Giro d'Italia

Rescaldo da Etapa 18

Foi um dia triste. Provavelmente: o dia do fim do sonho. Ao início, rosas e ansiedade, assim que Roglič, o ilusionista, começou a ceder na primeira subida — e aplicou o truque por duas vezes, uma delas com a equipa da Jumbo a puxar no pelotão. Entretanto, a fuga formou-se e viria mesmo a discutir a vitória na etapa, onde Pinot sucumbiu mais uma vez e amealhou mais um segundo lugar, feito Sagan. Pippo Zana mostrou que este é o seu ano, o ano de afirmação, o ano em que comprova que os resultados feitos em sub-23 não foram obra do acaso.

Na classificação geral, tudo seria decidido na duríssima segunda categoria de Coi. O ilusionista, que mesmo durante essa subida apresentava um posicionamento estranho, muito descaído, veste a capa de jogador de póquer irritante e ataca à boleia de Sepp Kuss, como se nada se passasse e estivesse na melhor forma de sempre. João Almeida não conseguiu responder. E jamais viria a recolar apesar do enorme trabalho de Jay Vine para o tentar aproximar do bluffer, de Geraint Thomas, de Eddie Dunbar e de Sepp Kuss. No final, João viria a perder 21 segundos. Desceu a terceiro da geral e está a 39 segundos de Thomas e a 10 do ilusionista. Foi bonito enquanto durou.

Percurso

É o dia mais duro deste Giro d'Itália. Ponto final.

Tudo começa no Passo Valparola. 14 quilómetros a quase 6%. As pernas vão dar os primeiros sinais. Descida longa e já a cerca de 40 quilómetros da meta temos o senhor Passo Giau (que também pode ser lido como Passo Joao, se lermos Joao sem til, como fazem os ingleses).

São quase 10 quilómetros a 9.3% de pendente média, sendo que o quilómetro menos inclinado tem 8.5%. Agora pensem. Segue-se o bastante exigente Passo Tre Croci (8kms a 7.2%), sobretudo depois de já terem feito tanta subida. E no final, segurem-se bem, porque o Tre Cime di Lavaredo é um inferno.

É preciso dizer mais alguma coisa sobre os três quilómetros finais? Vai ser a morte do artista.

O que esperar?

Uma tareia de meia noite. Esta etapa é como passar horas consecutivas a levar pontapés do Van Damme. Não há grande coisa a dizer que não seja: vão ganhar os mais fortes. A INEOS julgo que vai ficar quietinha, pelo menos na grande maioria da etapa. Defender também faz parte do jogo. A Jumbo vai meter Roglič a sofrer ao quilómetro zero, provavelmente, para depois aparecer no Passo Joao a rebentar o pelotão todo ou o que do pelotão ainda restar. Resta saber se querem ganhar a etapa ou vão deixar a fuga chegar, mas com tanta dureza, o mais provável é que a etapa não seja a principal preocupação e uma fuga constituída por bons trepadores por ter, à imagem do que aconteceu hoje, algum sucesso.

Quanto ao João Almeida e à UAE-Emirates só vejo duas hipóteses: uma é o João infiltrar-se na fuga, para quando o Roglič deixar de fingir que está a sofrer estar já mais à frente — além disso, um corredor tem de ser versátil, ver o João em fugas é coisa rara e como já deixou de ser hipótese para a rosa terá, com toda a certeza, liberdade por parte das equipas rivais. A outra é: assim que o Roglič deixe de estar na retaguarda do pelotão e se lance ao ataque, o João finge que tem um furo — porque se isto é para ver quem é o melhor fingidor e não o melhor corredor, a gente também sabe. Troca de bicicleta e isso vai logicamente fazer com que a Jumbo pare o ataque porque são uma equipa séria que não vai querer ganhar o Giro assim. Geraint Thomas é um gentleman e por isso espera na roda — de resto como quase sempre tem feito nesta Volta a Itália.  

Favoritos

Primož Roglič — O homem tem um par de ases de mão e diz que tem um dois/oito. É claro que vai ganhar. Mesmo que descole dez vezes.

Van Wilder — O neerlandês tem estado a subir bem e vai tentar entrar na fuga, seguramente. Depois é aguentar-se na frente.

Santiago Buitrago — Eu não acredito assim tanto naquela falência hoje, sobretudo tão cedo. Acho que se estava a poupar para amanhã ganhar a partir da fuga.

A não perder de vista

Geraint Thomas — Rato velho sabe andar de bicicleta. E sabe esperar. Com os trinta segundos que tem é só esperar na roda do ilusionista e manter a vantagem no contrarrelógio de sábado. Chegará sempre imediatamente a seguir ao esloveno.

Hugh Carthy — Outro que está a fazer bluff. Vai entrar na fuga e subir ao top-5. Fazer uma Guillaume Martinada.

Lorenzo Fortunato — Olha, meu menino, eu levei-te na fantasy. Deixa-te de desculpas da queda e não sei quê e ganha, se fazes favor.

Apostas falso plano

Fábio Babau — G. A trepar como um jovem, no final até lhe querem vestir a branca.

Henrique Augusto — Isto hoje foi à tuga, só para dar mais pica. João a botar lume lavaredo acima até se abanam.

Lourenço Graça — Roglič, eu avisei.

Miguel Branco — Por mim, desde que o Roglič não ganhe, está tudo bem. Até para o ano.

Miguel Pratas — Hoje caíram no bluff do Roglič, amanhã caem no bluff do João. Bota lume!

Ricardo Pereira — João até morrer.

Sondagem falso plano