Antevisão Etapa 16 — Tour de France
Hot take: Nesta etapa Pogačar não ataca.
![Antevisão Etapa 16 — Tour de France](/content/images/size/w1200/2024/07/Untitled-design---16.png)
Rescaldo da Etapa 15
A etapa começou logo com a subida para Peyressourde, onde as tentativas de fuga (falhadas) fizeram com que o ritmo fosse desde logo alto, criando as bases para aquela que viria a ser uma das mais duras etapas de que me lembro.
No vale que se seguiu lá se formou uma fuga, que contava com muita qualidade para disputar a vitória como Jai Hindley, Lenny Martinez (porque raio o mandaram ao Tour nesta forma?), Oscar Onley, Laurens de Plus, Simon Yates, Ben Healy, Tobias Johannessen, Enric Mas e Richard Carapaz. Neste grupo conseguiu infiltrar-se também Biniam Girmay, que foi marcar mais pontos para a sua verde cada vez mais consolidada (ainda perdeu alguns por sprintar aos S's, como mandam as regras). "Poderiam" mas não foi isso que aconteceu. A Visma meteu-se ao trabalho logo na segunda subida, intensificou o ritmo no pelotão, tentando provocar uma quebra no camisola amarela num dia duro e de muito calor. Por isso a fuga chegou à subida final com apenas dois minutos e meio e muita desorganização. Pelo caminho lutaram por uns pontos na montanha e Carapaz fez uns meme attacks, mas vamos focar-nos no GC group porque por lá houve ação suficiente para 3 rescaldos.
Depois de queimar todos os seus gregários (especial destaque para Kelderman que fez um etapón), chegámos a Plateau de Beille e a Visma viu-se obrigada a colocar logo Jorgenson ao serviço. E que serviço, reduziu o grupo a 5/6 unidades, fazendo inclusive descolar nomes como Carlos Rodriguez e João Almeida. O norte-americano não aguentou muito tempo e a mais de 10 quilómetros da meta o dinamarquês arrancou, desde logo confirmando-se duas coisas das quais já suspeitávamos — 1) mais ninguém sequer tenta seguir com eles e 2) Pogačar não estava em dia de Granon ou de Col de la Loze. O camisola amarela seguiu coladinho no dinamarquês, a quem não restava outra opção senão manter o ritmo alto e esperar que, em algum momento, olhasse para trás e visse Pogačar em dificuldades.
Esse momento não aconteceu e após uma aceleração de Vingegaard a pouco mais de 5 quilómetros da meta, Pogačar percebeu que estava claramente mais forte e arrancou a solo para uma confortável e autoritária vitória sem sequer haver um esboço de reação por parte do seu maior rival.
Chegou à meta com mais de 1 minutos de avanço, ficou com quase 3 na geral, pulverizou recordes por margens absurdas (mais de 3 minutos para Pantani, antigo detentor do recorde das subida) e só não vencerá este Tour se tiver uma grande quebra algures. Enfim, é o melhor do mundo a ser o melhor do mundo. Apesar disso, esperemos que Vingegaard ainda tenha capacidade, mental e física, para o colocar em dificuldades e termos assim uma entusiasmante última semana.
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A um Vingegaard nos limites seguiu-se um Remco Evenepoel a consolidar o seu bom Tour, até ver sem quebras, e a sua posição no pódio. O colega Mikel Landa entrou no top-5 depois de um 4.º lugar na etapa, bem ao jeito do Landismo.
Sem imagens dele desde que tinha descolado, sabíamos que o João havia de andar perdido na montanha, a alcançar um por um aqueles que tinham aguentado mais tempo do que ele no grupo principal. As informações não eram seguras mas nós já cá andamos há uns tempos, pelo que foi com grande entusiasmo mas sem grande surpresa que vimos João Almeida ser o corredor seguinte a chegar à zona das câmaras fixas, fazendo 5.º na etapa e ganhando vantagem a Carlos Rodriguez (que desiludiu um pouquito em dia de festa espanhola), o seu mais direto rival à entrada para a etapa. Foi mais uma Almeidada, e das boas, no terreno e na prova dos melhores do mundo. Grande João.
Fica, desta etapa, a certeza que estamos perante talentos de um nível geracional dos quais assistimos a mais uma etapa histórica, e que temos de desfrutar deste duelo que tanto nos tem dado. Umas vezes ganha Vingegaard, outras Pogačar, mas nós, adeptos, ganhamos sempre.
![Tour de France standings, results after Stage 15](https://www.usatoday.com/gcdn/authoring/authoring-images/2024/07/14/USAT/74400912007-2161395643.jpg?width=660&height=441&fit=crop&format=pjpg&auto=webp)
O percurso
Esta malta também merece descanso. 190 quilómetros tranquilos, umas lombas para disfarçar mas não chegam a assustar ninguém agora que o Jakobsen já foi embora. Não se espera muito vento, apenas muito calor, e o final não é particularmente técnico.
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O que esperar
Tenho curiosidade sobre o início da etapa, o que pode ser um enorme erro. Há a possibilidade de, dada a fragilidade da Alpecin e o desinteresse da Intermarché, se formar uma fuga forte, tradicional de última semana, que possa ir até ao final. Seriam precisos grandes motores na frente, alguma indecisão atrás e muita intrasigência das restantes equipas (Israel, Movistar, Lotto e sobretudo Jayco) em não querer ajudar a equipa de Philipsen. Caso estes fatores se conjuguem, poderemos ter uma etapa gira, mas não se iludam, o mais provável é termos mais um dia calmo, quase sem fuga, com fake attacks do Pogačar e uma bela sesta no sofá.
Vi que havia algum mas não muito vento, pelo que não espero o perigo de abanicos. E confesso que não sei se as estradas são ou não expostas e essas coisas que os experts falam. Não costumo passar férias em Nîmes como eles.
Por isso o mais provável é esperarmos pelos últimos 10 quilómetros para ver os comboios a todo o vapor e termos mais um capitulo na batalha entre os mais rápidos sprinters aqui presentes.
Favoritos
Jasper Philipsen — A mesma conversa de sempre. É o mais rápido, se estiver na posição certa será difícil de bater.
Arnaud de Lie — Há-de chegar o dia. Ou não, mas eu continuo a acreditar no Touro e gostava de o ver vencer.
A não perder de vista
Wout van Aert — Nos últimos sprints tem estado perto e nas etapas de montanha poupou-se. Ou esteve só muito mal. Deixo isso para as abelhas discutirem entre elas.
Biniam Girmay — Parece-me sempre improvável que vença sem dificuldades a preceder a chegada, mas já aconteceu neste Tour e é, neste momento, impossível descartá-lo.
Dylan Groenewegen — No sitio certo à hora certa o Batman pode vencer, como todos sabemos.
Pascal Ackermann — A subida de forma vai continuar? E, se sim, chega para a vitória? Venceu em 3 das 4 grandes voltas que participou na carreira.
Søren Wærenskjold — Um pouco de wishful thinking mas caso uma fuga de roladores se forme devido à ausência de controlo por parte do pelotão, pode ser uma oportunidade para o tanque norueguês com mais de 90 quilos tentar impor a sua força, num grupo restrito ou a solo.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Jasper, the last disaster.
Henrique Augusto — Como vencer três etapas e mesmo assim ser chamado flop, by Jasper Philipsen.
Lourenço Graça — Wout van Aert, a Visma virou o foco.
Miguel Branco — Cavendish. Assim talvez Pogi não o apanhe.
Miguel Pratas — A primeira colheita de Arnaud de Lie.
Ricardo Pereira — Ainda não acabou?