Antevisão Etapa 16 — Giro d'Italia
Alguém se enganou a desenhar esta etapa. Ainda assim, ganha a fuga.
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Rescaldo da Etapa 15
Apetece escrever: toda a gente viu o que se passou. Não há nada que eu possa escrever que faça jus à surreal prestação de Tadej Pogačar na etapa de ontem. Por isso, fico-me pelos factos. Uma primeira fuga sem trepadores nem reais hipóteses de discutir a tirada à qual se juntou uma fuga enorme e com talento de sobra. Os reais sobreviventes foram Nairo Quintana e Georg Steinhauser — segundo e terceiro na meta.
O resto foi uma jogada de mestre da UAE Emirates, que controlou a fuga de longe, dando mesmo a ideia, a certa altura, com a diferença na casa dos cinco minutos, de que para o pelotão a etapa estava perdida. Mas não só havia uma super equipa a perseguir, a gerir, uma super equipa — ainda que no papel não o fosse, ainda que talvez não o chegue a ser — investida de forma cega no seu líder. E o seu líder não é um líder qualquer, é o melhor corredor do planeta, um dos melhores desportistas deste século, seguramente. Tadej Pogačar atacou na segunda metade do Passo di Foscagno quando estava a coisa de três minutos de Quintana e o colombiano se encontrava a 14 quilómetros da meta. O resto toda a gente viu. Geraint Thomas está em segundo lugar, agora a seis minutos e quarenta e um segundos do esloveno.
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O percurso
A saída é de Livigno, o que significa que a caravana não mexeu muito. Bem junto à Suíça, bem perto do Parco Nazionale dello Stelvio. Esta etapa 16 é aquele tipo de etapa-crime em que se coloca uma subidorra nos primeiros 50 quilómetros do dia e à qual se segue descida e plano até que fiquem a faltar 40 quilómetros para a meta e tudo volte a empinar. Simplesmente: não faz sentido.
Adiante: amigos como dantes, quartel-general em Abrantes — como diz a avó de um grande amigo. Quando bem cedo neste Giro surgiram imagens a circular nas redes sociais das toneladas de neve no Stelvio e logo surgiu o rumor que a subida não ia ser feita, os fãs deste tipo de etapa entristeceram-se. Pois, aguentem-me isso, maltinha da pesada, isto é uma meia-verdade. Faz-se o Stelvio, só não se faz até ao Stelvio porque há riscos de avalanches e isso não seria coisa para dar muito jeito. Fica-se, ainda assim, pelo Passo Umbrail, cerca de 300 metros abaixo — em vez dos 2758 metros de altitude do Stelvio — ao qual se segue uma descida que leva o pelotão a passar brevemente pela Suíça. Mas não me venham com a conversa de que não há dureza, minha gente, como fica bem claro pela imagem seguinte.
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Agora a sério, RCS, da próxima vez, metam isto no fim, pelo amor de deus. Pronto, já me calei. A viagem segue, serena e tranquila até às dificuldades instaladas no final. Primeiro, o Passo Pinei que arranca a quase 40 quilómetros da meta — uma primeira categoria com 23.4kms @ 4.8%; com uns sete primeiros quilómetros bem durinhos e os últimos cinco também complicados.
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Depois uma descida e o final de etapa no Monte Pana que se faz em seis quilómetros e meio a pouco mais de 6%, mas o que importa mesmo é o último quilómetro e meio que nos oferece pendentes médias acima dos 11,5% e que termina já depois dos 1600 metros de altitude.
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No fundo, 207 quilómetros onde a dureza está dividida em dois pontos.
O que esperar
Esta etapa não faz sentido. Já tinha dito? Sobretudo não faz sentido fazerem isto ao Stelvio ou ao Umbrail, neste caso. Nada contra endurecerem a corrida no início, mas se depois há mais de 100 quilómetros de plano… não vai ser animado para o espectador, isso é certo. Mais: se ainda assim acham boa ideia, não o façam com uma subida linda e inigualável como é o Stelvio, não é justo, ele não se vai esquecer disto.
O que esperar? Espero que o Stelvio, naturalmente, coloque em cheque a maioria dos corredores presentes e isso possa significar que algum dos membros do top-10 possa ter uma fraqueza, sobretudo depois de um dia de descanso — e olhem que uma fraqueza no Stelvio não é pêra doce. E espero, obviamente um ataque de Pogačar. Não espero nada, ‘tou a gozar — mas era incrível eheh. Bom, o que acho que vai acontecer é que o Stelvio vai ser feito a um ritmo ainda mais baixo do que o normal, então se depois ainda faltam quase 150 quilómetros para irem descansar, os homens vão fazer o quê?
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É claro que dito isto é lógico que vai haver uma fuga, provavelmente até criada durante as duas subidas não categorizadas que iniciam a etapa, mas perante uma subida destas qualquer fuga pode acabar e outras podem fundar-se e o mundo pode acordar diferente e tudo pode mudar. No fundo: quem chegar lá acima na frente tem muitas hipóteses de lutar pela vitória na etapa. A Emirates não vai perseguir na terça e eu acredito numa vitória da fuga. No entanto, um pouco à imagem do que se viu hoje, duvido que sejam os primeiros homens a sair do pelotão aqueles que no final irão discutir quem é o mais forte. Acho que as movimentações dentro do top-10 vão ficar novamente para os metros finais da contenda. Mas atenção a nomes como Pozzovivo, Storer, Fortunato e Piganzoli, não é tarefa fácil, mas se nunca tentarem nunca vão saber se conseguem fazer uma Guillaume Martin em direcção em top-10.
Em suma: 206 quilómetros e mais de 4 mil metros de acumulado. Não é brincadeira.
Não há favoritos, há gente com vontade
Nairo Quintana — Depois da exibição na chegada a Livigno, qualquer etapa de montanha é dia de uma possível Quintanada. E amanhã vamos estar novamente em altitudes ao seu jeito.
Valentin Paret-Peintre — Acho que é perceptível que é um dos melhores trepadores em prova. Se tiver liberdade é um sério candidato a vencer.
Damino Caruso — O mais velho também quer picar o ponto e já se percebeu que Tiberi dificilmente vai subir na classificação. Terça é um lógico candidato.
Georg Steinhauser — O jovem alemão está a andar que se farta e é uma das boas notícias deste Giro 2024. Até sábado, vai continuar a tentar.
Romain Bardet — O top-10 é porreiro, mas o francês quer é ganhar etapas. E nesta última semana a UAE Emirates vai deixar.
Domenico Pozzovivo — O top-10 está mesmo difícil. Mas o pequeno grande trepador não pode sair do seu último Giro de mãos a abanar. Anda Pozzo.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Storer. Tudor nada.
Henrique Augusto — Rafał Majka. Começou o bar aberto na Emirates.
Lourenço Graça — Attila Valter, a minha última esperança da Visma.
Miguel Branco — Damiano Caruso. A idade é um posto.
Miguel Pratas — Giulio Pellizzari.
Ricardo Pereira — Rubio.