Antevisão Etapa 16 — Giro d'Italia

O Monte Bondone, finalmente.

Antevisão Etapa 16 — Giro d'Italia
Giro d'Italia

Rescaldo da Etapa 15

Mais um dia para a fuga, a 8ª (!) desta edição contra 0 (zero!) dias de discussão entre os homens da geral. A fuga formou-se logo na fase inicial da etapa com cerca de quinze elementos, a que se juntaram Rubio e Marcellusi, sendo que o trepador colombiano era o nome mais bem colocado na geral, a cerca de 11:04 da rosa. A FDJ lá teve que trabalhar para segurar a liderança de Armirail e nunca deixaram a fuga ganhar muito mais do que seis minutos.

As primeiras três contagens de montanha foram disputadas por Ben Healy e Einer Rubio. A primeira contagem (Valico di Valcava: 1ª cat) foi conquistada pelo irlandês após uma "carga de ombro" bem sucedida: 40-18. Na segunda contagem (Selvino: 2ª cat) Ben Healy voltou a passar primeiro: 18-8. Na terceira (Miragolo San Salvatore: 2ª cat) foi a vez de Einer Rubio passar à frente: 8-18, no photo-finish. Na última contagem (Roncola Alta: 2ª cat) o ciclista da EF chegou primeiro e o colombiano da Movistar foi apenas o 4º a atingir o topo: 18-4. Contas do dia: 84-48, favorável ao irlandês. A luta pela azzurra está ao rubro.

Contas da maglia azzurra após a 15ª etapa.

O primeiro a atacar foi Bonifazio, antes do segundo sprint intermédio, e chegou a ter mais de um minuto de vantagem que foi anulado rapidamente assim que começou a subir a Roncola Alta. Depois lá começaram os ataques: Frigo foi o primeiro a abrir as hostilidades e pouco tempo depois teve a companhia de Big Mac e finalmente Ben Healy. Rubio esteve perto mas nunca conseguiu colar.

McBacon atacou, Healy respondeu e contra-atacou, sem resposta do americano, que seguiu ao seu ritmo. Na descida McNugget voltou a juntar-se e seguiram sem se conseguirem livrar um do outro até cerca de 500 metros da meta, quando Frigo — chegou a estar a mais de 30 segundos — passou por eles em grande velocidade. Num sprint a três o mais forte foi o americano da UAE que carimba assim a segunda vitória da equipa.

Vitória de McNulty em Bergamo. Healy e Frigo disputaram a etapa até ao fim. (foto: Luca Zennaro | EPA),

No grupo dos favoritos João Almeida esteve ao ataque na parte final e chegou junto a Thomas, Caruso, Roglič, Dunbar e Leknessund, que ganharam dois segundos a Pinot, Kämna, Carthy e Arensman.

A terceira semana, finalmente

Chegámos à terceira semana e vamos ver aqui quem tem estaleca para chegar à final table. Depois do fold de Remco Evenepoel temos assistido a mãos sem emoção, em que os melhores jogadores se limitam a dar call. O dealer também não tem ajudado, chegou a apresentar um baralho de 75km para jogar à bisca.

Só Caruso meteu fichas na mesa. Hugh Carthy já deu raise mas a aposta foi tão insignificante que ninguém pagou para ver. A banca do britânico está perto da bancarrota e tem de dar um all-in rapidamente. O nível do field é tal que o chip leader é o Armirail, e o Leknessund e o Dunbar nem pensam em dar cash out. Aqui não há rebuys, e talvez seja por isso que os três da frente não queiram deitar tudo a perder antes de estarem in the money. Estou convencido que ninguém tem realmente uma boa mão mas se calhar estão os três a fazer bluff. Está na hora de mostrar as cartas e ver quem faz tilt primeiro.

A minha carta favorita deste Giro é Derek Gee.

PS: Que saudades do Tadej Pogačar, mas enfim esse tem sempre um par de Ases na mão.

A etapa do Monte Bondone, finalmente

Os primeiros 60 quilómetros são para desemperrar as pernas do dia descanso. Perdão, da semana de descanso.

Depois disso começa a etapa a sério. São 140 quilómetros com perto de 5000 metros de acumulado.

Sabbio Chiese - Monte Bondone (203km)

A primeira dificuldade do dia é o Passo Santa Barbara. Prevejo uma luta acérrima pelos candidatos à maglia azzurra enquanto os corredores do top-10 sobem em ritmo de cicloturismo.

Passo Santa Barbara (1ª cat): 12.8km @ 8.3%

As três subidas seguintes, uma 3ª categoria e duas 2ª categorias devem dar tempo para "passar pelas brasas" depois de almoço. Aqui a dúvida é se Michael Matthews volta passar todas as contagens montanhosas sem descolar do grupo de favoritos.

Finalmente chega o interminável Monte Bondone. Mikel Landa venceu aqui em 2014, na última etapa do Giro del Trentino, num dia em que o Tiago Machado chegou na 9ª posição, junto a Fabio Aru. Não é uma subida especialmente dura mas é muito extensa e permitirá fazer diferencias relevantes para aqueles que partirem a corrente.

Monte Bondone (1ª cat): 22.7km @ 6.4%

A primeira batalha na alta montanha, finalmente

Já disse que não via mais nenhuma etapa deste Giro pasmacento mas uma etapa destas depois de um dia de descanso? Não consigo resistir. Desta vez vai mesmo haver combate a sério e não falo dos empurrões do Healy com o Rubio ou do bate-boca entre o Vaughters e o Pinot.

Antes de chegarmos à subida final a etapa vai ser disputada pelos candidatos à azzurra. Bais e Healy não terão entraves para entrar na fuga, já o mesmo não se pode dizer de Rubio e especialmente Pinot, que não estão assim tão longe na geral.

Na chegada à fase decisiva as principais equipas têm de assumir um ritmo sério ao contrário do que tem acontecido. Vá lá INEOS, Jumbo e UAE, o Girofondo já terminou. Mas aposto na Bahrain para ser a primeira equipa a endurecer a corrida na chegada à fase decisiva, com Haig e Buitrago a prepararem o terreno para Caruso atacar. Depois, ou os três da frente têm pernas e vontade de não se restringirem à marcação entre eles e mostrarem algum respeito pelos fãs correndo ofensivamente, ou correm o risco de ver Kämnas e Carthys beneficiarem dessa marcação excessiva e arrancarem rumo ao top-5 ou quem sabe algo mais.

Favoritos

Primož Roglič — O melhor voltista e a sua equipa parecem em crescendo de forma.

João Almeida — Chegar à terceira semana a apenas 20 segundos dos dois principais rivais é um sonho para o português. A última etapa confirmou a boa forma do Duro das Caldas — ao ataque, finalmente — e da sua equipa — 2ª vitória nesta segunda semana.

A não perder de vista

Damiano Caruso — Se há equipa que vai mexer é a Bahrain. O italiano está cheio de vontade.

Geraint Thomas — Sem Ganna e Geoghegan Hart e com Sivakov ainda em recuperação as coisas ficam mais difíceis para o veterano. Ainda não foi testado mas se estiver na forma do último Tour ninguém o vai conseguir descolar.

Hugh Carthy — Se quer sonhar com o top-5 tem de arriscar já nesta etapa. Na etapa 13 já atacou mas só deu para recuperar uns míseros 6 segundos.

Thymen Arensman — Não tem dados as melhores indicações até agora, é certo. No ano passado brilhou nas duas terceiras semanas e se o G não estiver capaz, segurem este menino que ele vai para o pódio.

Lorenzo Fortunato — O meu bitaite em caso de fuga. Só porque tenho um hot take para acertar.

Jefferson Cepeda — O melhor trepador do mundo no mês de Abril nos últimos três anos tem de ganhar uma etapa no Giro para se livrar do rótulo de eterno flop no Velogames. Mas não estou a ver a FDJ de Pinot deixá-lo sair.

Apostas falso plano

Fábio Babau — João Almeida. Vai fazer a melhor terceira semana de sempre.

Henrique Augusto — Avisei logo na antevisão do Giro que o Almeida limpava. Que se bote o lume.

Lourenço Graça — Primož Almeida. A parelha ideal.

Miguel Branco — Lorenzo Fortunato. O seu Giro vai começar agora.

Miguel Pratas — Quero ver o Lennard Kämna versão caça-etapas a disparar no Monte Bondone.

Ricardo Pereira — João Almeida. Fácil.

Sondagem falso plano