Antevisão Etapa 15 — Giro d'Italia
Se ninguém quiser a rosa podem sempre dar ao João Almeida. Boa? Boa. E já sabem: não deixem sair o Derek Gee.
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Rescaldo da Etapa 14
O que dizer não é verdade? Até na INEOS, os homens com frescura começam a ser curtos. É essa a única explicação para oferecerem a liderança a Bruno Armirail. Percebo a opção de não arriscar e não desgastar pernas, não me parece é que não perder a camisola fosse assim tão exigente — chegar a 19 minutos era assim tão complexo? Mais: a INEOS, pelo facto de ter, em teoria, a melhor equipa em prova, vai ter de continuar a trabalhar e a controlar — se não amanhã, pelo menos na terça. Mas pronto, eles é que sabem.
Ah, o Nico Denz ganhou novamente. E isso diz bastante sobre este Giro. Nota: o Derek Gee é um héroi e estabeleceu uma nova forma de lutar pela classificação dos pontos. É sair todos os dias, sobretudo em dias que os sprinters não consigam chegar. Perfeito.
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Percurso
Well, well, 197 quilómetros de muita dureza. É claro que não estamos perante uma chegada em alto, mas há muita estrada inclinada e relativa altitude. Se além do mais tivermos em conta que estamos no final da terceira semana e as forças já parecem escassear… cuidado. Uma primeira categoria — Valico di Valcava — duríssima, com uma descida bem pronunciada. Depois, duas segundas categorias que por estarem tão juntas formam uma primeira, tranquilamente. E depois a última parede, cujo topo está instalado a cerca de 30 quilómetros da meta.
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Não podiam ter metido esta ascensão no final? Isso é que era, diz o espectador confortavelmente sentado no sofá. O mesmo que depois se queixa porque por vezes, mesmo quando há montanha, não ataques. Mas pronto, neste Valico di Valcava quem não tiver pernas é para esquecer, fica já aqui, e estando a meta tão longe chegar dentro do limite pode vir a ser uma questão. Isso ou a mera pachorra para ainda fazer tantos quilómetros até ao fim, "o Giro está quase a acabar, vamos mas é para casa". São quase 12 quilómetros, a quase 8%. Sigura, gente.
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Sucedem-se as tais duas segundas categorias e depois temos a Roncola Alta, que apesar de ter um início e um final suaves, tem seis quilómetros bem exigentes, quase sempre acima dos 7% de pendente média. Se houver molho nos homens da geral julgo que vai ser aqui. É lógico que depender das pernas, da distância para a fuga no momento, vai depender de muita coisa. Acharia estranho as principais equipas voltarem a desperdiçar a hipótese de testar adversários aqui, mas a ausência de Evenepoel, o peso das tácticas e a proximidade do dia de descanso pode falar mais alto. Instituir-se um cessar-fogo (cessar como quem diz, ainda não houve propriamente fogo-de-artifício) também é uma paisagem possível.
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Mas não é tudo. Depois de Roncola Alta, há a aproximação a Bergamo. Terreno amardilhado, sobretudo a subida para o Largo Colle Aperto (1.3kms a 7.3%). Um muro citadino, com 200 metros de paralelo e pendentes iniciais a rondar os 10% e 12%. Teremos sempre os ataques tardios. Se aqui já não existir fuga, pode ser o derradeiro momento de ataques. Se a fuga ainda for viva é aqui que se decide a corrida. Olé. Como nós gostamos de chegadas em típicas cidades italianas. Imagens pitorescas, pernas bambas e muito público.
O que esperar
A ameaça da chuva e do frio volta a estar presente. E com tanta subida, descida e altitude… toda a cautela é pouca. A fuga vai nascer cedo e vai ter bons trepadores que seguramente têm nesta etapa um X bem assinalado. Não vai chegar saber subir, é preciso saber descer. 2oo quilómetros, no final da segunda semana, com mau tempo, mau humor e estradas perigosas, podem bem significar mexidas na geral. Até porque sejamos sinceros, os homens mais longe na geral que ainda sonham com o assalto à camisola rosa — nomeadamente Caruso; mas ao qual se juntam outros que apesar de dificilmente conseguirem sonhar com a vitória em Roma podem ambicionar o pódio: Kämna, Carthy, Pinot, Buitrago — não se podem dar ao luxo de deixar passar todos os navios.
A luta pela montanha vai estar acesa e o final da etapa na chegada a Bergamo vai ser, seguramente, espectacular. Mais uma vez: é preciso descer bem. E mais uma vez: vitória para a fuga.
Favoritos
Ben Healy — Se o Nico Denz tem duas vitórias, o Ben Healy vai ter de ter três. E amanhã esta espécie de clássica parece bem ao jeito dele. Assim o deixem entrar na fuga.
Ilan Van Wilder — Ele vai ganhar uma etapa. É uma questão de tempo. E de timing na saída para a vitória.
Santiago Buitrago/Jack Haig — De quem precisa mais Caruso? Se a Bahrain montar uma táctica de ritmo no Roncola Alta esta minha teoria vai por água abaixo. Mas eu tendo a achar que vão tentar infiltrar algum destes dois na fuga e se for preciso eles esperam pelo seu líder.
A não perder de vista
Primož Roglič — O Giro tem sido um festival de fugas e um deserto de classificação geral. Um dia destes eles podem dar-nos a volta. Se assim for, o canibal é o mais explosivo e provavelmente o mais forte.
Thibaut Pinot — E agora? Montanha, geral ou ambas? Seja qual for a sua decisão, o francês tem sido muito agressivo e deve continuar a fazê-lo — mantém, apesar de já estar no top-10, alguma liberdade para os quilómetros finais, parece-me. Resta saber se Cepeda está na frente também.
Lennard Kämna — Se os favoritos chegarem na frente, o alemão é obviamente um dos favoritos. À imagem de Pinot terá alguma liberdade (não excessiva) para tentar a vitória na etapa.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Dunbar. Como isto está, já nada me surpreende.
Henrique Augusto — Ben Healy. E nem percebo a questão.
Lourenço Graça — João. És a minha última esperança.
Miguel Branco — Ben Healy. Ainda bebe uma Guinness pelo caminho.
Miguel Pratas — Van Wilder. Com jeitinho ainda entra no top-10.
Ricardo Pereira — Dombrowski. Tão certo como a alcunha do Denz ser "El Washington".