Antevisão Etapa 10 — Giro d'Italia

"Goodbye my lover / Goodbye my friend / You have been the one / You have been the one for me."

Antevisão Etapa 10 — Giro d'Italia
Giro d'Italia

Rescaldo da Etapa 9 ou uma carta de despedida

Não fiques assim, Remco. 

Atentem na letra:

Did I disappoint you or let you down?
Should I be feeling guilty or let the judges frown?
'Cause I saw the end, before we'd begun
Yes, I saw you were blind and I knew I had won

(...)

Goodbye my lover
Goodbye my friend
You have been the one
You have been the one for me

Há momentos que remetem para uma canção, para uma memória, para uma imagem do horizonte com um emoji de coração partido. James Blunt, essa figura incontornável da pop romântica que tanto transfigurou a forma como nos relacionamos a partir de metade da primeira década do novo século, é por isso chamado ao Giro d'Italia. Remco Evenepoel abandonou. E isso é uma rosa que murchou, pétalas a saltar pela janela, é, quer gostemos mais ou menos do corredor belga, um primeiro fim. É impossível não imaginar Remco, de cabeça encostada ao vidro, no banco de trás, de nariz entupido, auscultadores nos ouvidos, e lágrima a escorrer-lhe pelo rosto, enquanto escuta "Goodbye my lover".

Por isso, campeão, se estás a ler, já sabes, é tempo de pausa, muito chá, muitas horas de Grey's Anatomy e de chocolate negro 90% cacau.

Este é o rescaldo possível, de um contrarrelógio vencido por Remco Evenepoel mesmo com Covid-19, que deixou Geraint Thomas e Tao Geoghegan Hart (que prestação, minha nossa) muito bem posicionados na geral, bem como Primož Roglič e João Almeida. A partir de agora, a festa far-se-á a quatro.

Remco Evenepoel foi desta para melhor (Getty Sport via Twitter da Soudal - QuickStep).

Percurso

Ora, como sabemos, a vida continua. E depois de um dia de descanso de que todos precisávamos, eis uma etapa relativamente plana. Isto é: até tem um início relativamente atribulado. Com uma segunda categoria — Passo delle Radici com quase 34 quilómetros a 2.5% (e últimos 4.2 quilómetros a 6.4%) — que tem muitas zonas de pendentes baixas, ainda que o terreno seja de constantes altos e baixos.

Não parece um crocodilo? Se a cabeça estiver do lado esquerdo? Eu acho. 

Não sendo nada de especial, tem a sua dificuldade, até pelos mais de 1400 metros de altitude. E tem a sua dificuldade sobretudo na óptica de quem quer controlar. a etapa. Aquela quarta categoria que se lhe segue só cimenta este nevoeiro de dúvida.

Tive para meter uma fotografia do Gaviria a descolar, mas depois fiquei com pena. 

Ou seja: temos a segunda categoria (com a parte mais dura no final), uma descida pronunciada e longa de mais de 30 quilómetros e logo a seguir uma quarta categria com este perfil bem durinho. É possível que homens como Gaviria, Cavendish, etc, já tenham ficado para trás pelo início atribulado de etapa, mas se assim não for, esta será esta a sua morada final, até porque nesta altura já tem de ser a Trek e a Alpecin a controlar. Dê por onde der.

O que esperar

Acho que vai dar sprint. As previsões dão um tempo terrível e isso pode prejudicar estas chances, uma vez que se o perfil inicial da etapa já estabelece uma dificuldade na perseguição — e, eventualmente, uma fuga numerosa e com gente com capacidade de rolar bem nos últimos 80 quilómetros —, a chuva, sabemos, nunca ajuda nesse efeito. Ao mesmo tempo, as equipas dos sprinters sabem que as oportunidades escasseiam e a segunda metade desta tirada não tem dificuldades, é uma aproximação à meta tranquila. Assim sendo, sinto que vão dar tudo para que os seus homens disputem o final, ainda que o sprint não seja um sprint massivo.

Um bom objectivo para Trek e Alpecin podia ser tentar eliminar Jonathan Milan da luta pela vitória, mas o italiano tem estado a subir bem e estas equipas terão de se preocupar mais com a fuga do com quem vem consigo. Ainda assim, o big man pode ficar pelo caminho devido às dificuldades iniciais.

O final é relativamente tranquilo, com quase quatro quilómetros sem grandes curvas, pelo que os comboios, se ainda existirem, vão poder trabalhar à vontade.

Uma última nota para eventuais desastres na geral. A chuva é tramada e há várias descidas no percurso — uma delas com mais de 30 quilómetros. Protejam-se, rapazes.  

Favoritos

Mads Pedersen — Tem sido menos dominador do que aquilo que se esperava. E isso é mau para quem o tem na fantasy. Brincadeiras à parte: acho que vai mostrar porque é o grande favorito à ciclamino.

Kaden Groves — O australiano tem estado doente e um dia com tanta chuva, não parece a melhor combinação. Ainda assim: é a melhor opção para bater Pedersen se isto der sprint.

A não perder de vista

Michael Matthews — Acho difícil que Bling vença tendo em conta a chegada plana. E ele bem precisa dos pontos para a ciclamino. Será que isso fará com a Jayco não persiga e tente colocar alguém na fuga? Vejamos o que sai daqui.

Jonathan Milan — Acho difícil que chegue, muito sinceramente. Mas se a corrida for feita com muita calma, é, naturalmente, um dos sérios candidatos.

Pascal Ackermann — Tem estado a subir muito bem. Sem grandes alaridos, sorrateiramente, pode chegar infiltrado no pelotão e tentar surpreender. Espero que não, mas já não digo nada.

Vincenzo Albanese — Se ficar no pelotão, é dos poucos que podemos garantir que passa estas montanhas. Se sair na fuga, a sua ponta final é fortíssima. É desta?

Apostas falso plano

Henrique Augusto — Davide Ballerini. Todo contente que agora faz o que quer da vida.

Lourenço Graça — Mads Pedersen. Sem Remco, preciso de ti na fantasy.

Miguel Branco — Kaden Groves. As gripes curam-se com vitórias.

Miguel Pratas — Agora é que é. Lorenzo Rota.

Ricardo Pereira — Mads. 2/4.

Sondagem falso plano