Antevisão — Eschborn-Frankfurt

Clássica com ADN de sprint, mas em Frankfurt, o guião só se escreve na última curva.

Antevisão — Eschborn-Frankfurt

Introdução

Dia 1 de Maio é feriado, mas não para o pelotão. A clássica alemã Eschborn-Frankfurt volta a marcar presença no calendário WorldTour e continua a ser aquele tipo de corrida que põe sprinters a sonhar… mas só depois de sobreviverem a uma selva de colinas onde habitam duas mãos cheias de classicómanos predadores. Não é a prova mais caótica do ano, mas também não é para meninos. Aqui ganha quem for esperto, rápido e tiver boas pernas depois de cinco horas em cima de um selim.

Kragh Andersen venceu em 2023 (foto:alpecincycling)

O percurso

Longe vão os tempos em que esta visita à Alemanha era um passeio para os sprinters. Apesar do final citadino e plano, os quase 200 km de prova são uma armadilha bem montada. Logo após saírem de Eschborn os ciclistas enfrentam uma subida longa ao Feldberg (11 km a 4,8%), perfeita para esticar o pelotão e pregar o primeiro susto aos sprinters. Mais à frente voltam ao Feldberg, desta vez pela vertente mais madrasta: 7 km a 6%, onde as pernas se vão queixar e muitos dirão o definitivo adeus às suas ambições. Como se não bastasse, ainda há três passagens pelo Mammolshain (2.4 km a 7.5%), uma daquelas rampas curtas mas cruéis, onde se fazem seleções ou se fazem descarrilar comboios. No total, acumulam-se mais de 3000 metros de desnível positivo. Nos últimos 25 quilómetros o terreno volta a suavizar, começando então um thriller de suspense com os sprinters a voltarem a entrar na equação num verdadeiro jogo do gato e do rato.

Eschborn — Frankfurt am Main (198km)

O que esperar

Na memória ficaram sempre os quilómetros finais de 2023, quando dez fugitivos aguentaram uma vantagem curtíssima de poucos segundos nas curvas de 90 graus das ruas de Frankfurt. De facto, esta prova é um daqueles testes de escolha múltipla onde todas as opções parecem ser a resposta certa. Pode acabar ao sprint? Pode. Pode vencer um grupo reduzido? Também. Pode ganhar um Schachmann ou um Schmid vindo de uma fuga? Nada está fora do menu. Equipas como a Lidl-Trek, Jayco, EF Education, Alpecin ou Soudal têm cartas para todos os cenários. Outras procurarão incendiar a corrida para beneficiar de um sprint muito selecionado. UAE é um desses casos mais claros. No papel Thibau Nys é talvez o maior favorito, com o seu estilo ardenner que combina potência no final e capacidade para escalar paredes curtas. A acompanhá-lo terá Bagioli, 6º na LBL, o que revela o grande momento do italiano. Outro nome entusiasmante é Paul Magnier. O miúdo da Soudal já mostrou que não se dá mal com algumas colinas, por isso não será fácil eliminarem-no da discussão. A seu lado terá Schachmann, uma raposa que a jogar em casa pode querer vestir o papel de protagonista… ao estilo Kragh Andersen 2023. A UAE, como sempre, apresenta um bloco sólido e versátil prontinho para montar o caos. Com Wellens, Morgado e Florian Vermeersch, os ataques podem vir de todo o lado. Nota para Rui Oliveira, que terá a sua oportunidade caso haja recolagem e um sprint de maior dimensão. Com um final tão aberto, muitos outros ciclistas de diferentes características sonharão levantar os braços na linha de meta: Michael Matthews, Mauro Schmid, Neilson Powless, Alex Aranburu, Magnus Cort Nielsen, Julian Alaphilippe, Jasper Philipsen, Tobias Lund Andresen e Roger Adrià, estão entre eles (mas podíamos continuar por mais duas linhas).

Favoritos

Thibau Nys — Sabor agridoce porque “vendeu” bem (sobretudo o pai) a ideia de uma vitória na Fléche Wallone… que nem perto esteve. Redimiu-se com um top5 na LBL e assim agarrou o papel de “homem a ser batido” nesta Eschborn-Frankfurt. Esse será (mais) um passo decisivo para deixar de ser o “filho do Sven”.

Paul Magnier — Um dos diamantes mais reluzentes da Soudal, ainda com cheiro a sub-23. É um sprinter? É. Mas já mostrou em variados momentos que não se assusta quando é hora de subir alguns minutos. Tem o potencial para vencer em mais do que um cenário de corrida e não há quem não gostasse de ver isso acontecer.

Michael Matthews — Aquele velho conhecido que está sempre lá. Vamos recuperar algumas clássicas com dureza e finais sprintáveis deste ano? Foi 4º na Milan-Sanremo, 5º na Amstel, 11º na LBL. O australiano encaixa como uma luva no perfil e neste momento de forma é perigosíssimo.

A não perder de vista

Alex Aranburu — Grande época do campeão nacional espanhol. Especialista em ataques furtivos, vamos vê-lo no grupo que discutirá a vitória.

António Morgado — Nos últimos dias esteve na Vuelta às Astúrias a aquecer o motor. Não se destacou, mas todos sabemos que o alvo está na Alemanha. Corrida agressiva e explosão no final? Morgadão está In.

Florian Vermeersch — Classicómano puro. Dono de um motor sobre-humano e um sprint respeitável, vai espalhar o caos para tentar roubar o pão da boca ao Nys.

Mauro Schmid — Sobe bem, rola ainda melhor. Ideal para se colocar em fugas e surpreender. Já o fez este ano.

Marc Hirschi —Tem tido uma primavera algo apagada, mas o 6º lugar no durinho GP Miguel Induraìn colocam o suíço da Tudor como um dos melhores outsiders para amanhã.

Tobias Lund Andersen — Não é (ainda) um nome grande, mas tem mostrado muita qualidade, sobretudo quando o sprint chega depois de um dia duro. E a Picnic bem precisa de começar a pontuar.

Jasper Philipsen — Se o comboio da Alpecin tiver sucesso e levar Jasper Philipsen para a decisão da prova, então é 90% certa a vitória do belga.

Magnus Cort Nielsen — Se fosse há um mês atrás não hesitaríamos em colocá-lo nos lotes de favoritos. Ainda assim, o recente décimo posto nas colinas do Tour du Doubs dão-nos alguma esperança no segundo bigode mais conhecido do pelotão internacional.

Apostas falso plano

André Dias — Alessandro de Marchi vai lançar o vencedor. Agora o resto é convosco.

Fábio Babau — Pascal Ackermann.

Henrique Augusto — Um belo bigode escandinavo. Cort.

O Primož do Roglič — Thibau Nys, se não ganhar é flop.

Miguel Branco — Aranburu. É fechar os olhos e fingir que está no País Basco.

Miguel Pratas — Jasper Philipsen, lançado por Alessandro de Marchi.

Nuno Gomes — Thibau Nys. Filho de Canibal, canibal será.

Rogério Almeida — Matthews ganha o sprint do pelotão.