Antevisão — Eschborn-Frankfurt
A crónica de um adepto que acha que isto podia e devia ser mais que um sprint.
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Introdução
Desde 2012, quando Moreno Moser venceu isolado a partir de um grupo de quatro fugitivos, incluindo Tony Martin e o seu colega Dominik Nerz (fechou em segundo e garantiu a dobradinha para a saudosa Liquigas-Cannondale), que a vitória desta clássica alemã vai para quem, dentro do pelotão, conseguiu ser o mais rápido. E é justo, diga-se, que por entre tantas colinas e tanto empedrado, se dê uma oportunidade aos velocistas, também têm direito. E um pouco de descanso a nós, que isto de ter que ver os últimos cem quilómetros das clássicas todas, traz problemas ao nível familiar, laboral e sobretudo cardíaco.
Enquanto caminhamos para a primeira grande volta do ano, para a qual também nós fãs estamos a finalizar a preparação, temos por terras germânicas um bombom para quem gosta de uma boa luta pela colocação entre comboios, de um lançamento perfeito e de um vencedor raro em provas de um dia WT. E de um pódio de Kristoff.
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O percurso
Apesar da aparente previsibilidade, esta não é uma corrida 100% plana nem isenta de oportunidades para alguém tentar enganar os homens rápidos, ou pelo menos tentar afastar os que mais dificuldades passam quando o terreno inclina. É estranho imaginar Sam Bennett vencer uma prova com 2654 metros de acumulado, mas foi o que aconteceu na edição passada. Isso é, em parte, certamente explicado pela extensa quilometragem que distancia as principais dificuldades da linha de meta, mas homens como o irlandês só vencem se ninguém decidir deixá-los fora da corrida.
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Isto porque as duas voltas realizadas contam com duas subidas ainda bem duras, uma pela sua extensão e outra pela sua inclinação. Ambas as vertentes do Feldberg são complicadas e o terreno que se encontra entre as duas passagens é sempre ondulado. Após a última passagem pelo topo, restam menos de 90 quilómetros para a meta e os ciclistas ainda terão pela frente a terceira passagem pela subida de Mammolshain, cujo perfil abaixo é suficiente para deixar claro que se a corrida só tiver história nos últimos 30 quilómetros (os únicos planos, no fundo) é porque ninguém teve a vontade e ousadia de querer reduzir/atacar o pelotão.
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O que esperar?
Eu olho para o perfil da prova e penso que isto tem tudo para ser animado. Mas depois olho para a startlist (e para a história) e perco um pouco dessa esperança. Não há assim tantos sprinters puros que representem um risco grande na meta que possam ser descartados nas dificuldades que a antecedem. Valerá mesmo a pena trabalhar a 100km da meta (ou a 40, dependendo de onde fosse feito o endurecimento) para deixar fora de combate Bennett, Ackermann e os Bouhanni´s desta vida? Temo que não. Se por aqui estivessem homens como Merlier/Jakobsen e Groenewegen a história poderia ser diferente.
Somando a isto o facto de todas as principais equipas terem aqui peças apontadas ao sprint final, espero no fundo pouco mais do que uma procissão que terá o seu maior ponto de interesse nuns dez quilómetros finais cheios de luta por colocação, nervosismo no pelotão e buscas pela roda certa.
Há dois cenários em que isto pode não acontecer. O primeiro deles é Matthews colocar mesmo a carne toda no assador, talvez com a ajuda da Lotto de Arnaud De Lie, e tentar que o grupo encurte muito para aumentar as suas possibilidades no sprint, mesmo sabendo que será difícil descartar Philipsen e ainda mais dificil mantê-lo depois atrás, evitando a recolagem nos trinta quilómetros finais. O outro é um grupo forte conseguir fazer diferenças em Mammolshain e depois colaborar bem, aproveitar algumas birras num pelotão desorganizado pelas subidas e, debaixo das barbas do pelotão, roubar-lhe a vitória. Para este cenário deposito as minhas (poucas) esperanças em homens como Nils Politt, Marc Hirschi, Dries van Gestel, Lorenzo Rota e Corbin Strong. Tudo malta que tendo sprinters nas equipas, estes não dão garantias suficientes para "prender" o resto da equipa.
Favoritos
Jasper Philipsen — Um bom bloco alia-se à versatilidade de Philipsen e ao facto do belga ter a melhor ponta final do pelotão presente, para o tornar o super favorito nesta prova.
Arnaud De Lie — O touro tem estado um pouco áquem das expetativas esta época, não vencendo desde 2 de Fevereiro e encontrando-se ainda à procura da sua primeira vitória de nível WT na sua carreira. Este percurso assenta bem nas suas capacidades enquanto trepador e este pode ser o dia. Anda míudo, dá uma alegria aqui à tua claque portuguesa, que é, como todos sabem, encabeçada pelo falso plano.
A não perder de vista
Michael Matthews — Quantas vezes já vimos o Bling colocar a sua equipa a trabalhar para endurecer a corrida e deixar os sprinters mais puros que o australiano para trás? Inúmeras. Na maior parte delas o desfecho foi o pódio para Matthews, batido nos metros finais por alguém mais rápido. Parece sempre haver alguém mais rápido e não penso que amanhã vá ser diferente.
Alexander Kristoff — Entre 2014 e 2018 a história dos vencedores desta prova conta-se de forma simples. Kristoff, Kristoff, Kristoff, Kristoff. Depois dessa sequência baixou o nível, fechando "apenas" pódio nas três edições seguintes (as últimas). Sete (7!) pódios seguidos aqui para o Viking são mais que suficientes para não o perder de vsita.
Phil Bauhaus — Umas duas vezes por ano, aparece do meio do caos tradicional das chegadas ao sprint, um alemão muito grande, que vindo não se percebe bem de onde, cruza a meta de braços levantados. Aqui, a correr em casa, terá ainda mais motivação para o fazer e eu não descarto a hipótese de que possa surpreender.
Sam Bennett — Eu acho que se a corrida for feita a sério, o irlandês não chegará ao fim em condições de disputar a vitória. Mas quem é campeão em título e tem Danny van Poppel consigo, nunca pode ser descartado da luta.
Matteo Trentin — A haver um Moreno Moser versão 2023, o italiano é a minha aposta. Capaz de passar dificuldades e com uma ainda boa ponta final, a liberdade que lhe será dada fruto do facto do "sprinter" da equipa ser Ackermann pode fazer de Trentin o vencedor dentro do eventual grupo que engane o pelotão.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Jasper Philipsen. Boring.
Henrique Augusto — Este foi o último artigo em que pude escrever que De Lie ainda procura a sua primeira vitória WT.
Lourenço Graça — Arnaud manda os De Lie para fora.
Miguel Branco — Jasper Philipsen. E atira Degenkolb ao chão a 50 metros da meta.
Miguel Pratas — Jasper Philipsen, à frente de Arnaud De Lie e de Alexander Kristoff, que faz aqui o 8º pódio consecutivo.
Ricardo Pereira — Philipsen.