Antevisão — Critérium du Dauphiné

Há por aí muito boa gente da opinião que as preliminares são a melhor parte.

Antevisão — Critérium du Dauphiné

Introdução

Well, é verdade que o ciclismo a ser disputado apenas entre os mortais é muito divertido, eu subscrevo essa teoria. Mas também é verdade que ciclismo de aliens só é aborrecido quando eles estão sozinhos em prova, o que não é de todo o caso nesta ocasião. Ver os melhores dos melhores gladiarem-se pela vitória será sempre o pináculo de qualquer desporto e é a esse show que teremos direito a assistir na próxima semana. Ainda meio que em jeito de preliminares, que o troféu que importa é outro — esse vai ter início daqui por menos de um mês, pelo que ainda que a forma aqui não seja ainda decisiva convém já ter as perninhas em bom estado.

Pogačar apresenta-se em estreia nesta prova, agora que desistiu de nesta altura do ano ir jogar pedra, papel, tesoura com o Majka na Eslovénia. A decisão acaba por ser natural, os grandes corredores querem vencer as grandes provas e isso são boas noticias para nós, pois dá-nos mais um super confronto e dispensa-nos de ver provas como a que aconteceu em 2023, quando Jonas Vingegaard pura e simplesmente passou toda a gente a ferro nesta prova que é para si de boa memória, já que em 2022 tinha fechado um 2.º lugar com sabor a vitória, quando pela 1.º vez deu claras indicações de ser mais forte que o seu antigo líder Roglão.

Há outras estrelas que se irão passear por este interessante percurso, bem sei, Remco Evenepoel estará à partida, assim como Mathieu van der Poel, e outros. Mas, neste caso, da minha perspectiva, o foco maior é um e só um:

Pogačar vs Vingegaard. Sempre um prazer.

O melhor duelo do mundo está de volta. (foto: Sticky Bottle)

O percurso

Etapa 1 — É sprint? Não sei. Gosto muito deste perfil para uma etapa de abertura, onde os puncheurs e os homens rápidos mais versáteis podem lutar pela primeira amarela. Não devem existir diferenças grandes mas um ataque na última passagem por Buffon pode vingar.

Domérat — Montluçon (195km)

Etapa 2 — Outra etapa acidentada mas aqui acho que não despacham os sprinters, sobretudo Milan. Alguém deverá tentar, mas a Lidl-Trek traz uma equipa forte neste terreno para levar a sua locomotiva a bom porto, e convém que aproveitem esta oportunidade porque não há muitas.

Prémilhat — Issoire (205km)

Etapa 3 — Chegada em falso plano tem sempre a nossa aprovação. Há mais dificuldades na aproximação, sobretudo aquele quilómetro a quase 10%, relativamente perto da meta. Difícil de prever e com ar de bem divertida de assistir.

Brioude — Charantonnay (207km)

Etapa 4 (ITT) — Esforço contra o relógio. 17 quilómetros já chegam para colocar as primeiras diferenças na mesa e importa destacar que ainda há um belo muro a meio (1.8km a 8.5%) pelo que a vitória não deverá mesmo fugir aos nomes da GC.

Charmes-sur-Rhone — Saint-Peray (17km)

Etapa 5 — Provavelmente irá para a fuga. Dificuldades demais para os sprinters e um final plano que dificulta as ideias dos puncheurs.

Saint-Priest — Mâcon (183km)

Etapa 6 — Etapa bastante curta e quase sempre em sobe e desce, pode ser o palco da primeira amostra de duelo entre as big guns. Ou dá fuga ou dá Pogačar.

Valserhône — Combloux (127km)

Etapa 7 — 4800 metros de desnível acumulado positivo em 133 quilómetros é obra. Será sábado que se realizará o verdadeiro teste deste Dauphiné e se perceberá onde estão as pernas de cada um. O meu sonho são ataques no final da penúltima subida e duelo até à meta. É o "dia de sofá" da próxima semana.

Grand-Aigueblanche — Valmeinier 1800 (133km)

Etapa 8 — Se ficarem coisas por decidir, ainda há aqui espaço para ajustes. Quase 10 quilómetros a 7% que culminam bastante perto da meta pode dar para abanar a árvore.

Val-d'Arc — Plateau du Mont-Cenis (134km)

O que esperar

Para abrir o espetáculo esperam-nos três dias muito acidentados e potencialmente divertidos, sem diferenças de GC (a não ser que Pogačar, enfim, vocês sabem) mas com muita luta pelas vitórias e pela amarela. Há aqui pessoal que se dá muito bem neste sobe e desce assim puxadote, como o da etapa 1 e 3. Mathieu van der Poel surge à cabeça, recuperado da sua queda no mountain bike, como favorito para brilhar no primeiro dia, assim não venha cá só "rolar", como por vezes gosta de fazer. Se ele se mandar, já sabemos que poucos podem respondem, mas nomes como Pogačar, Healy e Remco são dos poucos que poderão tentar. Caso contrário, devemos ter pela frente sprints em grupos restritos nesses dois dias ou atacantes tardios a terem a sua sorte. Assim umas vitórias meio esquisitas do Cort, do Pithie ou do Van Gils. Já o 2.º dia, deverá ser mais fácil de prever — se Jonathan Milan não conseguir picar o pontos nos dois dias mais difíceis, neste a vitória muito dificilmente lhe fugirá dado que não há aqui rivais à altura.

Chegamos então ao contrarrelógio onde teremos a oportunidade de ver a primeira luta entre os favoritos, todos eles ótimos contrarrelogistas. Com a dificuldade existente, não excluo a possibilidade de Remco Evenepoel ser surpreendido mas acho que parte como o grande favorito e chegará às montanhas como líder da prova.

Aerobullet. (foto: JoanSeguidor)

Etapas 5 e 6, meio de transição, sobretudo se comparadas com o que vem a seguir. Podem dar sprint entre os favoritos, sobretudo a 6, mas eu cá tenho mais confiança nas fugas. Confiança e sobretudo esperança, têm de dar uma hipótese a Romain Bardet de se despedir em beleza.

Chega então o já habitual fim-de-semana decisivo do Dauphiné. E aí é o "vê se te avias" e o "pernas para que te quero". A estrada coloca sempre cada um no seu lugar e nós só pedimos que seja espetacular e um ótimo appetizer rumo ao Tour.

Favoritos

Tadej Pogačar — Parte sempre, naturalmente, como favorito. Diz que está em ótima forma (que surpresa). A missão para 2025 é provar que a tareia que deu em toda a gente em 2024 não foi um acaso, mas acho que terá vida dura. Aqui e no Tour.

Jonas Vingegaard — Deve ter andado o inverno inteiro a pensar neste momento, neste duelo. Chegou a hora de começar a marcar pontos e provar que, quando a montanha é séria, é longa, é dura, ele pode combater mano a mano com Pogačar.

A não perder de vista (para o pódio)

Remco Evenepoel — O melhor dos outros em 2024 já mencionou que o objetivo para 2025 é o mesmo, de preferência um pouco menos distante. Estes primeiros dias deverão agradar-lhe, poderá até aproveitar a marcação cerrada dos dois favoritos para tentar ganhar alguns segundos num late attack. Além disso, tem um contrarrelógio ao seu jeito onde será o favorito à vitória e a chegar à amarela. Depois? Depois chegam as montanhas, e aí eu não acredito que ele tenha pedalada.

Matteo Jorgenson — Ser bi-campeão do Paris-Nice e vice-campeão desta prova é um ótimo cartão de visita no que às capacidades do americano para provas de uma semana diz respeito. Poderá ter que trabalhar, mas deverá ser protegido dentro da equipa e não me admirava se disputasse o pódio. Mais do que isso, nesta prova, é inalcançável para ele e para todos os terráqueos.

Lenny Martinez — O piqueno trepador francês mostrou-se muito forte nas montanhas da Romandia depois de já ter impressionado ao vencer uma etapa no Paris-Nice, abrindo o apetite para o que poderá alcançar neste verão francês. Gosta das dificuldades no contrarrelógio para poder conter diferenças e tem de aproveitar enquanto não é ultrapassado por Paul Seixas como menino bonito dos gauleses.

Florian Lipowitz — Dentro dos 28 lideres que a Red Bull possui, o alemão tem sido o mais consistente e deve querer solidificar esse estatuto com um bom desempenho nesta prova.

Carlos Rodríguez — É um ótimo trepador e adora dias como a etapa 7, com muito acumulado e altitude. Está a chegar o maior objetivo do ano pelo que, depois de um inicio de temporada atribulado, deve estar finalmente a chegar ao ponto rebuçado.

Apostas falso plano

André Dias — Romain Bardet. São muitos chavalos a correrem atrás dele.

Fábio Babau — Tadej Pogačar. Pelo Ayuso.

Henrique Augusto — Já tinha dito neste espaço que Tadej Pogačar só volta a perder na MSR de 2026.

O Primož do Roglič — Pogačar. Isto não é o Tour.

Miguel Branco — Oh. Tadejinho. Jonas Ving loading.

Miguel Pratas — Pogi.

Nuno Gomes — Poga. O DDT está de volta.

Rogério Almeida — Vingegaard "Pede a Deus que me livre da droga e enemies".