Antevisão — Critérium du Dauphiné
Muitaaa montanha na luta para ver quem parte na pole position rumo ao terceiro lugar do Tour
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Introdução
Ai Dauphiné Dauphiné, sempre gostei de ti. É que sabes, já cheiras a Tour. Com o sol já a bater nas tuas paisagens francesas onde a maior parte dos ciclistas que em julho lutarão pela mais desejada maillot jaune do ciclismo mundial fazem um primeiro teste a sério entre si, a ver quem está em melhor forma, a marcar posição entre os rivais. No fundo é isso, já cheiras a Tour.
Este ano temos o aliciante, ou pelo menos a particularidade, de não termos presentes os dois principais favoritos à vitória final na Grand Boucle, já que tanto Vingegaard como Pogačar, por razões diferentes e de conhecimento geral, não estarão presentes. Isso abre-nos muitas opções, pois a segunda linha de GC do mundo está cá quase toda e se há muito há quem se queixe do domínio dos dois acima citados, esta semana não existirá esse problema.
Um percurso bom, uma startlist melhor. Está montado o palco para uma boa luta nas montanhas e uma grande semana de ciclismo.
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O percurso
Etapa 1 — Uma etapa para os poucos sprinters em prova disputarem entre si a primeira camisola amarela da prova. Será uma de, no máximo, duas oportunidades, mesmo para os homens rápidos mais versáteis.
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Etapa 2 — Começam-se a aquecer os motores, embora com subidas que não assustam. Os últimos 30 quilómetros são quase sempre a subir, embora divididos em 3 subidas diferentes. Não deve ser suficiente para fazer diferenças na geral, mas se alguém não estiver bem pode logo aqui encostar à box. Prevejo a vitória de uma fuga ou um sprint entre os homens da GC.
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Etapa 3 — Outra etapa no mesmo registo que pode dar fuga ou sprint dos candidatos à geral. Não há dureza suficiente para se fazerem diferenças substanciais a não ser que existam táticas ousadas ou quebras inesperadas.
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Etapa 4 (ITT) — 34 quilómetros é muita fruta e serão feitas grandes diferenças neste dia onde os trepadores mais puros ficarão a saber quanto terão de recuperar na montanha para homens como Ayuso, mas sobretudo Remco e Roglič. Primeira vitória WT de Joshua Tarling.
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Etapa 5 — Será esta a 2.ª oportunidade para os homens rápidos? Como podem ver pelo ondulado perfil, a organização não lhes facilitou a vida, mas penso que ciclistas como Pedersen têm a moral para colocar a sua equipa a controlar e as pernas para vencer no final.
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Etapa 6 — Começa a festa que o povo gosta, começam as montanhas. Uma subida ao Col du Granier servirá de aquecimento para a duríssima chegada a Le Collet d Allevard.
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É uma subida a sério e os trepadores terão de impor a sua lei.
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Etapa 7 — Depois da montanha vem...mais montanha. 4300 metros de desnível acumulado positivo em pouco mais de 150 quilómetros não é coisa pouca. 3 subidas de primeira categoria antecedem a subida a Samoëns 1600, acumulando muita fadiga nas pernas dos corredores.
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E depois, assim só para rematar, género sobremesa, tomem lá.
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Etapa 8 — Depois do que foi ultrapassado nos últimos dois dias esta etapa até parece meio soft. Ainda assim há dificuldades mais que suficientes para se fazerem os últimos ajustes na GC e para ver quem paga mais cara a fatura de três dias consecutivos de alta montanha.
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O que esperar
Espero uns 3 primeiros dias divertidos, mas sem grandes consequências para o resultado final da prova. Divertidos, porque existirá a possibilidade da vitória de fugas e até de late attacks que nos podem trazer vencedores inesperados, algo que é sempre bem-vindo. Depois começa a corrida "a sério" com o ITT a definir a grelha de partida para os três decisivos dias montanhosos que fecham esta edição. Em principio, será Remco Evenepoel ou Primož Roglič a sair na pole position após o esforço individual e a partir dai poderão usar os seus fortes blocos para tentar controlar a corrida. Mas há incógnitas a pairar sobre os dois ciclistas, que correm aqui pela primeira vez desde as suas quedas no País Basco e que não se sabe ainda como irão reagir, sobretudo na alta montanha. Este fator pode ser aproveitado pela jovem perigosa dupla espanhola composta por Juan Ayuso e Carlos Rodríguez, que aproveitarão qualquer fragilidade demonstrada por algum dos dois favoritos para tentarem dar continuidade à grande época que têm vindo a fazer. As segundas opções das equipas "favoritas" também poderão ter uma palavra a dizer nas montanhas, quer através da tática, quer através da execução do belo Landismo, deixando sentados os seus líderes. Falo aqui especificamente do fundado Mikel Landa e ainda da possibilidade de Alexandr Vlasov ou até Jai Hindley se apresentarem melhores que Roglič nesta prova. O último bloco que merece menção é o da Visma, que com Sepp Kuss e Matteo Jorgenson merece ser mencionado. Acho que é montanha a mais para o mais jovem dos norte americanos, mas já surpreendeu múltiplas vezes este ano. Outros nomes que apontarão a uma boa classificação final mas para os quais o pódio me parece difícil serão ciclistas como Tao Geoghegan Hart (será que está de volta?) e Giulio Ciccone da Lidl-Trek, Antonio Tiberi e Santiago Buitrago da Bahrain-Victorious e David Gaudu da Groupama-FDJ.
No que aos sprinters diz respeito, Mads Pedersen parte com favoritismo, devido à ausência de concorrência de peso compreensível dada a natureza do percurso, mas tenho curiosidade para ver se Sam Bennett consegue agora em corridas a sério dar continuidade ao bom momento.
Outros nomes a ter debaixo de olho são Joshua Tarling (ITT), Romain Grégoire, Neilson Powless, Andreas Kron (etapas 2 e 3) e Chris Harper, Warren Barguil e Davide Formolo (fugas de montanha).
Favoritos
Primož Roglič — A vida não tem sido fácil para o esloveno, vencedor desta prova em 2022, desde que chegou à Bora, mas isso também pouco interessa dado que o objetivo que levou à sua contratação ainda está por chegar. O importante é andar bem em França e este será já um teste importante, até para se afirmar como líder inequívoco de um bloco muito forte.
Remco Evenepoel — Essa ladainha do "ai, não venho para a GC" irrita-me um bocado, sobretudo porque tenho de escrever antevisões e fazer equipas na fantasy. Eu acho que irá estar de amarelo depois do ITT e a partir daí aguentará enquanto lhe for possível. No entanto, com tanta montanha até a um Remco a 100% torceria o nariz, quanto mais a um a vir de lesão.
Carlos Rodríguez — Está a fazer uma grande época, mais consistente que os seus rivais, e esta é até ao momento a prova que mais se adequa às suas características com longos dias de montanha. Se se mantiver em cima da bicicleta pode muito bem ganhar isto e levar todo um exagerado (?) hype para o Tour.
A não perder de vista
Juan Ayuso — À semelhança de Carlitos está a fazer uma grande época, embora as últimas indicações deixadas na Romandia não tivessem sido as melhores. Teoricamente, até será mais forte que o seu compatriota no contrarrelógio, mas confio menos nele para se bater com os melhores em dias sucessivos na alta montanha. Ainda assim, tudo o que não seja um sólido top-5 é uma desilusão para mim.
Mikel Landa — Landismo vive com as mãos em baixo subida acima. Remco who?
Matteo Jorgenson/Sepp Kuss — O patrão não está cá por isso terão liberdade para procurarem a sua própria glória. Acredito mais em Kuss, porque apesar de ir perder mais no contrarrelógio, é mais fiável nas montanhas. E se GC Kuss quer viver, tem de mostrar qualquer coisinha este ano antes do Tour.
Alexandr Vlasov/Jai Hindley— O russo tem vindo a andar melhor mas costuma ser alérgico a montanhas tão duras. O australiano tem estado mais discreto, mas costuma apontar bem aos seus picos de forma e adora dias longos e difíceis. Juntos podem fazer um comboio incrível para Roglič ou uma dupla temível para atacar os rivais do esloveno. E no meio disto, um sair vencedor, quem sabe.
Apostas falso plano
Fábio Babau — Matteo Jorgenson. Líder no Tour.
Henrique Augusto — Carlitos Rodriguez ao poder.
Lourenço Graça — Roglič a sprintar para o Tour.
Miguel Branco — Carlitos Rodriguez. Que também podia ser o nome de um super-herói espanhol. Ou de um farmacêutico. Ou de um professor de semiologia.
Miguel Pratas — Juan Ayuso.
Ricardo Pereira — A segunda de uma semana para o lemur de Almuñécar.