Antevisão — Bretagne Classic - Ouest-France

Nas provas por etapas pica sempre o ponto. Nas clássicas, manter-se-á o domínio de Thibau Nys?

Antevisão — Bretagne Classic - Ouest-France

Introdução

É uma corrida estranha, esta que decorre anualmente no pico do verão no norte francês. Estranha porque permite a um leque muito alargado de ciclistas sonhar com a vitória. Estranha porque coincide com corridas de maior dimensão, o que lhe tira um pouco o foco. Estranha porque parece ardenas mas já passaram uns meses desde as ardenas. Estranha porque até o Viviani já limpou isto.

Apesar disto, é habitual toda esta estranheza desaguar numa corrida bastante interessante de acompanhar, devido à incerteza e ao próprio percurso. Este ano não deverá ser exceção, com muita qualidade à partida, sobretudo jovem.

Amanhã há etapón na Vuelta, há novo episódio do falso plano, mas ainda assim eu confio em vocês para arranjarem um espacinho para espreitar o que se vai passando em França. Praia também é overrated, sinceramente.

Valentin Madouas, Mathieu Burgaudeau e Felix Großschartner. Sim, foi o pódio de uma corrida WT. (foto: Wikipedia)

O percurso

160 quilómetros de aquecimento, de que bem vão precisar, já que ao contrário do que seria de esperar nesta altura do ano, estão previstas temperaturas baixas, ventos fortes e até possibilidade de chuva. Depois entramos nos 100 quilómetros finais (notar que 160+100 são 260, que é uma quilometragem que impõe respeito), sempre sempre sempre em sobe e desce, não parece haver um metro plano na parte final desta corrida. O último bloco de subidas é composto por Marta + Longeo + Rostervel + Le Lezot, todos topos já dentro dos 25 quilómetros finais que deverão ser o palco dos ataques decisivos, se os houver. Destacar ainda a aproximação rapidíssima à meta, já que depois de cruzar o cume de Le Lezot, os 5 quilómetros que o separam da meta são feitos maioritariamente em descida.

Plouay — Plouay (261km)

O que esperar

Por norma esta é uma corrida cujas decisões se concentram nos 50/60 quilómetros finais, onde funciona quase como que por eliminação. O grupo vai encurtando, encurtando, até que a força das equipas já não é forte o suficiente para impedir um ataque oportuno numa das muitas pequenas subidas existentes. A partir daí é uma luta entre o grupo maior, os atacantes e, muitas vezes, os contra atacantes. Nos últimos anos tem sido sempre discutida ao sprint, quer em grupos maiores quer em grupos de 2/3, sendo que o último vencedor a chegar isolado foi Sep Vanmarcke, em 2019.

Com o mau tempo que se antevê, a possibilidade da corrida ser mais aberta e mais espetacular cresce, pelo que acredito numa decisão final composta por um grupo bastante pequeno (8 a 10 ciclistas) com as principais equipas representadas e de entre os quais poderá tanto surgir um ataque vencedor como um sprint final.

Favoritos

Thibau Nys — Nesta forma é o favorito contra quem quer que seja. Preferia que a chegada fosse num dos múltiplos topos que vão ser ultrapassados, mas também não se pode ter tudo.

Cristophe Laporte — Mostrou boas pernas nos jogos olímpicos e sendo assim é um perigo tremendo à vitória nesta prova. Tem uma boa leitura de corrida para não falhar o right move, dificilmente o deixam para trás em subidas tão curtas e a ponta final é o que é, já a conhecemos bem.

Arnaud de Lie — O Touro tem tido um ano desapontante mas vem de uma vitória na GC da Dinamarca e esta clássica é a cara dele. Tem ainda um Maxim van Gils na equipa que pode servir como atacante de mais longe e tem também capacidade para lutar pela vitória. Vem de uma vitória na GC da Dinamarca.

A não perder de vista

Tom Pidcock — Outro que encaixa aqui que nem uma luva. Deverá ter que atacar forte para que os homens com melhor ponta final não cheguem consigo aos metros finais.

Michael Matthews — É especialista neste tipo de clássicas e aqui já picou o ponto em 2020.

Julian Alaphilippe — Loulou está na melhor fase dos últimos anos e deverá querer adicionar esta prova ao seu CV, já que até agora o seu melhor resultado foi um 2.º em 2021.

Iván Garcia Cortina — O eterno futuro vencedor de Roubaix tem estado a andar bem e gosta destes terrenos. Parece que nunca ganha (e não ganha mesmo, 3 vitórias na carreira, a última há mais de 2 anos) mas é um nome a manter debaixo de olho.

Axel Laurance — O seu primeiro grande resultado em elites foi nesta prova, em 2022, onde só perdeu para Van Aert. A época do campeão do mundo de sub-23 está a ser um pouco abaixo do esperado mas este é o tipo de terrenos onde pode dar a volta ao texto.

Uno-X — A startlist não está confirmada ainda para os nórdicos, mas se, como está previsto, trouxerem Magnus Cort, Jonas Abrahamsen e Rasmus Tiller, cuidado com eles. Adoram estas provas longas, frias e desgastantes.

Decathlon AG2R — Benoît Cosnefroy venceu aqui em 2021 e o resto dos nomes que alinharão pela equipa francesa também não são, de todo, de desprezar. Vendrame está a andar que se farta, assim como Lapeira, Godon e Tronchon.

Nota posterior: A UAE não tinha anunciado o seu 7 até à hora desta publicação, mas nomes como Diego Ulissi, Marc Hirschi e Jan Christen têm que ser tido em conta, e muito. Sobretudo o suiço.

Apostas falso plano

Fábio Babau — Jan Christen. Who else?

Henrique Augusto — Nys. Só acredito que ele também perde quando vir.

O Primož do Roglič — De Lie, isto aqui não há brincadeiras com supermercados.

Miguel Branco — Christophe Laporte. A lua de mel perfeita.

Miguel Pratas — Lição do professor Jasper Stuyven.

Ricardo Pereira — Nys.