Análise às Equipas — La Vuelta ciclista a España

Análise falso plano às 23 equipas presentes nesta edição da La Vuelta.

Análise às Equipas — La Vuelta ciclista a España
La Vuelta 2022 (foto: twitter La Vuelta)

Jumbo-Visma (foto: twitter Jumbo-Visma)

A equipa neerlandesa apresenta-se nesta Vuelta com um objetivo muito claro: o póquer de Primoz Roglic. O esloveno pode igualar este ano o recorde de quatro vitórias que pertence a Roberto Heras, embora este não tenha ganhado a prova em quatro anos consecutivos. O foco da equipa será total no vencedor das últimas três edições – duas vitórias ao serviço da Jumbo-Visma (2019 e 2021) e uma pela Movistar (2020). Um dos grandes objetivos da equipa é a vitória no TTT em Utrecht. Resta saber a quem irão entregar a Roja. Esse privilégio poderá ser dado a um ciclista neerlandês, Teunissen é o nome óbvio mas está de saída da equipa.

Muitas interrogações se colocam sobre o estado de saúde/forma de Roglic, mas a verdade é que já vimos situações similares em anos anteriores e o esloveno nunca desiludiu em Espanha. É um dos ciclistas mais resilientes do pelotão e deverá apresentar-se em boa forma.

A equipa selecionada não é a melhor Jumbo mas é a possível: Sepp Kuss é um dos melhores gregários do mundo na terceira semana, tendo sido fundamental nas últimas três vitórias do ex-esquiador na Vuelta; Rohan Dennis tem mostrado boas pernas ultimamente e terá de dar o corpo ao vento a partir da segunda semana para controlar a Roja de Roglic; de Sam Oomen espera-se que esteja sempre perto do seu líder até às partes decisivas das etapas em que são os líderes a assumir. O gregário predileto de Tom Dumoulin, não conseguiu afirmar-se como voltista mas é um dos domestiques mais regulares do pelotão e deverá finalizar dentro do top 20; Chris Harper sobe bem e poderá ser fundamental em algumas etapas mais duras; Mike Teunissen e Edoardo Affini serão fundamentais no TTT e na proteção ao seu líder nas etapas planas; Robert Gesink é um ciclista da confiança de Roglic, colaborou nas 3 vitórias anteriores na Vuelta e será o mordomo da equipa.

Bitaite: 4ª vitória consecutiva na GC e duas etapas para Primoz Roglic. Vitória da equipa no TTT inicial.

BORA - hansgrohe (foto: twitter BORA - hansgrohe)

A BORA parte para a Vuelta com a mesma receita do Giro: três co-líderes e será a estrada a ditar a hierarquia entre eles.

A Hindley e Kelderman, que já fizeram esse papel este ano no Giro vencido pelo australiano, soma-se Higuita, que está a fazer uma época fantástica, tendo ganho pelo menos ou etapa ou geral em todas corridas de uma semana que disputou até ao momento, somando ainda top 5 na Liège-Bastogne-Liège e top 10 na Strade Bianche, isto tudo envergando a camisola de campeão nacional da Colômbia. Este está a ser o ano de afirmação do colombiano, que deixou água na boca na sua Grande Volta de estreia – La Vuelta ciclista a España 2019 – onde ganhou a 18ª etapa em Becerril de la Sierra à frente de nomes como Primoz Roglic, Alejandro Valverde, Rafal Majka e Miguel Ángel López, tendo uma mão cheia de top 10 e finalizando num interessante 14º posto da classificação geral. Os dois anos seguintes foram épocas de alguma estagnação e muitas quedas. Este ano, sem percalços físicos, tem atingido os resultados que o seu potencial antevia.

O co-líder mais forte a par de Sergio Higuita é sem dúvida Jay Hindley. Se vier com as pernas do Giro é um candidato fortíssimo, apesar dos contrarrelógios não o favorecerem.

Wilco Kelderman está um nível abaixo destes dois na hierarquia à partida, mas é um ciclista muito regular com provas dadas em três semanas e que, como tal, não pode ser descartado. Buchmann era para ter sido o 4º co-líder mas teve de ser substituido por Matteo Fabbro na start list devido a uma infeção urinária.

Para as chegadas rápidas trouxeram Sam Bennett e Danny Van Poppel algo que poderá não ser suficiente para conseguirem uma vitória. O irlandês não está a ter uma boa temporada – a única vitória foi em Eschborn-Frankfurt à frente de Fernando Gaviria e Alexander Kristoff, que já não são sprinters de primeira linha. Van Poppel é neste momento um dos melhores lançadores do mundo, e juntamente com Ryan Mullen, conseguirão deixar Sammy B bem colocado nas etapas ao sprint. Veremos como responde o sprinter irlandês.

Uma equipa dividida em dois blocos (geral e sprints) não é boa prática e normalmente é sinónimo de fiasco em termos de classificação geral.

Bitaite: Vitória para Higuita, que confirma a boa temporada. Em termos de classificação geral será um fiasco, sem qualquer elemento no top 10 final. Lançado por Van Poppel, Sam Bennett festejará em Madrid.

Cofidis (foto: twitter Cofidis)

Sem qualquer vitória nas duas grandes voltas já disputadas este ano, a Cofidis leva um bloco interessante e tem como principal objetivo ganhar uma etapa. Além disso, também não conseguiram colocar qualquer ciclista no top 10 da classificação geral nessas duas corridas, pelo que partirão com alguma pressão extra à partida. Os destaques da equipa são Jesús Herrada e Bryan Coquard.

Jesús Herrada e Rémy Rochas são nomes conhecidos no pelotão e podem perfeitamente ganhar uma etapa de média montanha. O espanhol está a fazer uma grande temporada, conta com o suporte do irmão e traz como objetivo a vitória em etapa e eventualmente tentar a camisola da montanha. O francês está a ter uma temporada discreta e deverá ter como objetivo pessoal terminar novamente no top 20.

Bryan Coquard é o homem rápido da equipa. Com o suporte de Cimolai, deverá ser um dos sprinters mais regulares nas chegadas rápidas mas não vai ser fácil sacar a vitória.

Bitaite: Jesús Herrada conquistará a camisola da montanha. Coquard não falhará uma chegada ao sprint mas o seu melhor resultado não será mais do que o lugar mais baixo do pódio.

AG2R Citroën Team (foto: twitter AG2R Citroën Team)

A equipa francesa leva um bloco muito sólido que tem como objetivos (realistas) o pódio de Ben O’Connor e vitória em etapa.

O chefe de fila australiano, que desde 2020 tem tido uma evolução bastante consistente, é ao dia de hoje um dos melhores e mais regulares trepadores e voltistas do pelotão. Em 2020, ainda na NTT Pro Cycling,  explodiu com exibições de gala na alta montanha durante a terceira semana do Giro d'Italia, culminadas com a vitória na 17ª etapa em Madonna di Campiglio. Em 2021 transferiu-se para a AG2R Citroem Team, que acreditou no seu potencial como corredor para corridas de uma e três semanas, e não desiludiu: 6º no Tour de Romandie, 8º no Critérium du Dauphiné, tendo um Tour de sonho com vitória e 4º à geral. Nesta temporada os bons resultados mantiveram-se: 7º na Vuelta a Andalucia Ruta Ciclista Del Sol, 6º na Volta Ciclista a Catalunya, 5º na Romandia e 3º no Dauphiné. No Tour de France a sorte não esteve do seu lado: teve de abandonar prematuramente devido a uma lesão muscular. Nesta Vuelta, além do pódio, tem como objetivo a vitória numa etapa, uma vez que apenas lhe falta ganhar nesta grande volta, à semelhança do colega de equipa Nans Peters.

O ciclista francês, especialista em fugas, já venceu etapas no Giro d’Italia (2019) e no Tour de France (2020) e tem aqui uma oportunidade para entrar nesse grupo restrito de ciclistas (102) que já venceram etapas nas três grandes voltas. É, no entanto, um feito bastante improvável de concretizar nesta edição dado o fraco rendimento nos últimos dois anos.

Dependendo da classificação e forma do seu líder, ciclistas como Bob Jungels e Clément Champoussin terão mais ou menos chances para caçar etapas.

O ciclista luxemburguês tem estado em grande forma, tendo ganho a única etapa da AG2R em grandes voltas esta temporada. Jungels, que representará a BORA-Hansgrohe a partir de 2023, deverá querer despedir-se da melhor forma e terá alguma liberdade para entrar em fugas a partir da segunda semana.

Champoussin sabe o que é vencer na Vuelta e terá as suas oportunidades. Ainda não venceu esta época mas já esteve perto em algumas ocasiões.

O finlandês Jaakko Hanninen esteve muito bem no Tour de l’Ain e deverá ser um gregário importante para O’Connor. Dorian Godon testou positivo ao covid19 e foi substituido pelo jovem Antoine Raugel.

Andrea Vendrame irá intrometer-se nos sprints — cumprirá com alguns top 10 mas sem reais chances de vitória — e deve ter uma ou outra etapa referenciada para entrar na fuga e quem sabe disputar realmente uma etapa.

Bitaite: Ben O’Connor terminará perto do top 5 e com a vitória na mítica etapa da Sierra Nevada.

Lotto Soudal (foto: twitter Lotto Soudal)

Um dos blocos mais fracos das equipas WT, o conjunto é composto maioritariamente por ciclistas especialistas em fugas.

Uma evidência da debilidade da equipa é que apenas um ciclista já ganhou nesta temporada: o rei das fugas Thomas de Gendt. A idade começa a pesar e o motor já não é o mesmo, além de que ninguém no pelotão lhe dará liberdade. Dificilmente conseguirá trazer uma vitória para a equipa belga.

Steff Cras, 20º classificado na edição do ano passado da Volta a Espanha, parte com o objetivo de repetir ou melhorar essa classificação, ajudando dessa forma a equipa a somar importantes pontos UCI.

Ciclistas jovens como Van Gils e Sweeny terão liberdade e muita vontade certamente, mas haverá sempre alguém mais forte.

Cedric Beullens, Jarrad Drizners e Filippo Conca fazem aqui a sua estreia em grand tours. O belga pode fazer um bom resultado já no primeiro fim de semana nos Países Baixos, se o vento ajudar.

A equipa quer garantir a manutenção no principal escalão do ciclismo internacional e sabe que não é aqui que vai buscar os preciosos pontos para o ranking UCI. O método está a resultar e vão continuar a amealhar esses pontos nas clássicas não-WT. Ciclistas como De Lie e Campenaerts são especialistas em corridas de um dia que não param de amealhar pontos UCI para a Lotto Soudal em provas desse tipo e vão terminar o ano 2022 sem participar em qualquer grande volta.

Desta vez não insistiram em levar Caleb Ewan que está a ter uma temporada para esquecer, com apenas uma vitória WT no Tirreno-Adriatico. O eterno futuro vencedor de Milano-Sanremo terminou heroicamente o Tour sem qualquer top 5.

Bitaite: A equipa sairá de Espanha de mãos a abanar, sem qualquer vitória.

Israel - Premier Tech (foto: twitter Israel - Premier Tech)

Liderada por Michael Woods, a equipa israelita vem com o objetivo de fazer uma boa classificação geral com o canadiano. Froome terá liberdade para tentar voltar às vitórias e quem sabe tentar uma gracinha na classificação da montanha se tiver uma crise asmática na segunda semana. O sucesso da equipa no Tour passado, onde conseguiu duas vitórias por Simon Clarke e Hugo Houle, retira pressão à equipa. A vitória numa etapa é um objetivo realista da equipa que tem nomes rápidos como Impey, Bevin e Einhorn.

Woods deverá ficar longe da luta pela geral desde cedo e passará a dedicar-se à caça de etapas.

Chris Froome tem-se mostrado mais ativo neste 2022 e a boa exibição no L'Alpe d'Huez (3º classificado) cria alguma ilusão nos aficionados. Uma vitória a este nível seria um momento marcante para um dos maiores campeões deste desporto, que tem passado anos penosos de recuperação após o grave acidente em 2019.

Daryl Impey ganhou recentemente uma etapa na Volta à Suiça batendo Michael Matthews ao sprint. O veterano já não tem a energia e velocidade de outros tempos mas a experiência acumulada permite gerir melhor o esforço e os timings, pelo que não surpreenderia ninguém ver o sul-africano levantar os braços nesta edição da Vuelta.

Bitaite: Chris Froome andará perto do triunfo mas sairá derrotado por corredores da nova geração.

Intermarché - Wanty - Gobert Matériaux (foto: twitter Intermarché - Wanty - Gobert Matériaux)

A equipa sensação de 2022 chega à terceira grande volta do ano com a confiança em alta. Depois do Giro de sonho com duas vitórias (Girmay e Hirt) e dois corredores no top 10 da geral final (Hirt 6º e Pozzovivo 8º), conseguiram colocar Meintjes (8º) no top 10 do Tour.

O conjunto belga tem novamente o objetivo de colocar um ciclista no top 10 e, claro, tentar pelo menos uma vitória em etapas. Domenico Pozzovivo, Louis Meintjes e Jan Hirt partem como co-líderes e as duras subidas ibéricas farão a seleção e decidirão qual é o mais forte. Qualquer um destes ciclistas tem capacidade para fechar top 10 novamente, sendo que o italiano e o sul-africano são os mais regulares e experientes em termos de GC enquanto o checo tem melhores características para ganhar etapas.

Pozzovivo foi dado como morto mas as notícias da sua morte foram manifestamente exageradas. O veterano italiano de 39 anos foi um dos últimos ciclistas da extinta Team Qhubeka NextHash a conseguir contrato: apenas assinou em Fevereiro e a preparação ainda que não tenha sido certamente a melhor foi suficiente para fazer um Giro d’Italia irrepreensível (é o ciclista mais velho finalizar dentro do top 10 do Giro), só não tendo ficado dentro do top 5 devido a alguns azares: caiu a descer o Mortirolo na 16ª etapa, quando era 5º à geral.

Meintjes, 8º classificado no Tour por três vezes, tem feito uma época muito regular, tendo recuperado a forma de há cinco anos quando ainda estava na Lampre/UAE. Conseguiu resultados muito sólidos como o 3º lugar no Giro di Sicilia - Tour of Sicily, vitória no Giro dell’Appennino, 6º no Critérium du Dauphiné e 8º no Tour de France. Se mantiver esta forma e atitude, o top 10 será uma formalidade tendo em conta que desta vez tem colegas capazes de o proteger na montanha.

Hirt está de partida para a Soudal-Quick Step mas quer fechar o ciclo com boas exibições nas duríssimas montanhas espanholas que são mesmo ao seu jeito. Terá de comprar liberdade para atacar etapas com trabalho árduo para o seu líder.

Rein Taaramäe, que envergou a roja na edição passada após vitória em Picón Blanco na terceira etapa, é um nome respeitado no pelotão e tentará repetir a gracinha. O veterano Jan Bakelants apresenta-se em grande forma após a vitória na última etapa do Ethias-Tour de Wallonie.

Para os sprints, o conjunto belga aposta em Gerben Thijssen que se estreou a vencer no WT na Volta à Polónia no final de Julho e terá como objetivo conseguir a primeira vitória numa grande volta — esteve perto em 2020 quando, ainda na Lotto Soudal, apenas perdeu para Ackermann na 9ª etapa da La Vuelta. O jovem sprinter belga terá o apoio de Boy Van Poppel e Julius Johansen e não surpreenderá ninguém se vencer em Espanha.

Bitaite: Top 10 para Louis Meintjes e vitórias para Hirt e Thijssen.

INEOS Grenadiers (foto: twitter INEOS Grenadiers)

O melhor 8 da prova é claramente o da INEOS. Composto por dois vencedores de grandes voltas (Carapaz e Tao) e o recém-vencedor da Vuelta a Burgos (Sivakov). A estes três juntam-se quatro dos jovens mais entusiasmantes do pelotão internacional (Hayter, Plapp, Rodríguez e Turner), que fazem aqui a estreia em corridas de três semanas. O bloco fecha com um dos melhores roladores do pelotão: o campeão em título de Paris-Roubaix: Dylan Van Baarle.

O equatoriano Richard Carapaz, apesar de estar de saída da INEOS Grenadiers, é indiscutivelmente um dos melhores voltistas do pelotão e na teoria deveria liderar a equipa. Fisicamente não mostrou nada relevante na Volta à Polónia e talvez ainda esteja afetado psicologicamente depois do colapso na penúltima etapa do Giro d’Italia. Veremos como reage o campeão olímpico a este mau momento.

Tao Geoghegan Hart não conseguiu dar sequência à vitória no Giro d’Italia 2020 mas este ano já tem feito algumas exibições interessantes em provas de uma semana. Não parece ser suficiente para almejar a uma boa classificação geral pelo que deverá cingir-se a ter um papel importante no suporte ao(s) seu(s) líder(es) nas duas últimas semanas da prova.

Carlos Rodríguez é uma das coqueluches do ciclismo espanhol, a par de Juan Ayuso. O jovem de apenas 21 anos é o atual campeão nacional de fundo e é um dos jovens mais completos do pelotão. Tem todas as características para se afirmar como um voltista de topo. Não nos surpreenderia se essa confirmação fosse já nesta prova.

Pavel Sivakov, o ciclista russo nascido em Itália que adotou a nacionalidade francesa este ano, está na melhor forma da sua carreira: 2º na Clássica de San Sebastián e vencedor da geral em Burgos. O ainda jovem ciclista teve uma carreira assolada por quedas e lesões que foram estagnando a sua evolução. Tem qualidade e resiliência acima da média, veremos se ainda vai a tempo de se assumir como um dos principais voltistas do pelotão. Tem aqui uma oportunidade.

Com uma evolução sustentada, Ethan Hayter chega a esta volta já como um dos principais nomes do pelotão internacional. O britânico chega com a moral em alta depois da vitória na Volta à Polónia. É um dos favoritos à camisola dos pontos e uma vitória em etapa é apenas uma formalidade. É também um forte candidato a envergar a camisola roja.

Van Baarle e Ben Turner são dois dos mais potentes motores do pelotão internacional. O neo-pro britânico tem mostrado uma capacidade fora do normal e em conjunto com o holandês poderão dizimar o pelotão em algumas etapas. Ambos sabem qual é o foco mas se houver oportunidade terão liberdade para tentar a glória individualmente.

Bitaite: Richard Carapaz ficará às portas do pódio e Carlos Rodríguez terminará dentro do top 10. Vitória de etapa para Ethan Hayter que também levará para casa a camisola dos pontos.

Movistar Team (foto: twitter Movistar Team)

A última bala de Valverde. O acompanhamento da última grande volta do murciano será o destaque da próxima temporada de El día menos pensado, até porque dificilmente este bloco conseguirá algo de relevante nesta competição.

O objetivo principal é claro: amealhar pontos UCI para garantir a manutenção no escalão WT. Pódio para Enric Mas e etapa para Alejandro Valverde são objetivos default da Movistar nesta competição nos últimos anos mas que não se adivinham fáceis de concretizar nesta edição. O objetivo do pódio parece ser uma miragem tendo em conta a má forma do espanhol, bloco um pouco débil a juntar-se ao próprio mau momento da equipa que está a ter uma temporada muito fraca.

Mas foi 2º classificado na última edição mas está a ter um 2022 decepcionante. Até começou bem a temporada com um sólido 4º lugar na Volta a la Comunitat Valenciana mas depois disso tem sido um desastre culminado com o abandono no Tour de France quando já estava fora do top 10. A verdade é que o conservador ciclista espanhol gere o seu pico de forma para as grandes voltas e não costuma desiludir apesar de também não deslumbrar. Talvez o último Tour tenha sido uma excepção à regra após quatro grandes voltas super regulares: 5º Tour 2020, 5º Vuelta 2020, 6º Tour 2021, 2º Vuelta 2021.

Bala, com 42 anos de idade, é o ciclista mais velho em prova e faz aqui a última Vuelta da sua longa carreira que termina no final desta temporada. O veterano leva já 3 vitórias em 2022, todas em terreno espanhol. O objetivo é conseguir mais uma, que seria a 13ª vitória em etapas na Vuelta ciclista a España.

Carlos Verona tem sido um dos poucos ciclistas da equipa a fazer uma temporada positiva. A única vitória WT (!) da Movistar em 2022 foi conquistada por parte do trepador espanhol na etapa 7 do Critérium du Dauphiné. Tem uma vitória em etapa como objetivo e pode mesmo mudar o foco para a camisola da montanha caso o seu líder não esteja na melhor forma. Terminar dentro do top 15 não é descabido e isso daria à equipa pontos vitais para manutenção no World Tour.

Nélson Oliveira, vencedor de etapa na edição de 2015, tem aqui a sua oitava participação na maior prova ibérica. O veterano português é um dos nomes mais respeitados da equipa, sendo presença assídua em provas de três semanas, sem qualquer abandono. O motor já não é o mesmo de outrora pelo que dificilmente terá possibilidades de disputar uma etapa.

Bitaite: A equipa confirma a má forma e termina sem qualquer vitória. Ainda assim, conseguirá amealhar alguns pontos para o ranking com a presença de Mas no top 10 e Verona dentro do top 15.

Quick-Step Alpha Vinyl Team (foto: twitter Quick-Step Alpha Vinyl Team)

O conjunto belga é certamente uma das equipas que desperta mais curiosidade nesta edição da La Vuelta. O principal objetivo é a classificação geral com Remco Evenepoel. Alaphilippe leva a ambição de conquistar uma etapa.

A equipa de Patrick Lefevere começou da melhor forma as duas grandes voltas deste ano: vitória de Mark Cavendish logo na terceira etapa do Giro e vitórias de Lampaert e Jakobsen nas duas primeiras etapas da Grand Boucle mas desiludiu em toda a linha na segunda e terceira semanas.

Nota-se uma clara evolução de Evenepoel em pendentes mais duras, onde se destacam vitórias com exibições de gala em Liège-Bastogne-Liège e mais recentemente na Donostia San Sebastian Klasikoa. Na Volta a Noruega também arrasou a concorrência — mais fraca, ok —  com três vitórias nas seis etapas e onde debitou W/kg fora do comum. O belga de 22 anos, após um Tour de Suisse sem grande brilhantismo, iniciou um estágio em altitude nos alpes italianos. Na primeira corrida após esse período de preparação, a Clássica de San Sebástian, arrasou a concorrência com uma vitória a solo. Os 7,25W/kg debitados na subida de Erlaitz (3,8km, 10,74%) a 40km da meta trucidaram a concorrência, sendo claramente a sua melhor subida da carreira, com valores ao alcance de poucos. Após a conquista na corrida basca, rumou ao sul de Espanha, onde cumpriu um estágio de onze dias em altitude. Durante esse período esteve hospedado no famoso hotel Syncrosfera, gerido pelo ex-ciclista russo Aleksandr Kolobnev, conhecido pelos seus quartos com simulador de altitude. O ciclista belga tem fortes chances de envergar a roja no final do contrarrelógio individual (décima etapa) e a partir daí veremos se tem capacidade para resistir (ou arrasar) ao longo da segunda (e mais dura) metade da corrida.

Julian Alaphilippe tem feito uma temporada discreta, assolada por quedas e problemas físicos. Mas isso não significa que não fará uma Vuelta de alto nível. Normalmente o bi-campeão mundial costuma surpreender os mais cépticos com grandes resultados após momentos de má forma. Apesar do foco ser no suporte ao líder belga, o francês deverá ter algumas etapas referenciadas.

A equipa apresenta um bloco muito sólido com características que se complementam. Rémi Cavagna e Fausto Masnada são nomes importantes que deverão ter papéis fundamentais na primeira semana, bem como na segunda e terceira semanas, respectivamente. Vervaeke é um ciclista discreto mas que sabe andar em três semanas, tendo já um top 20 no currículo: Giro d’Italia 2021.

Pieter Serry e Dries Devenyns trazem experiência e maturidade à equipa contrastando com a juventude e energia de Ilan Van Wilder. O jovem belga apresentou-se em grande forma na Vuelta a Burgos (5º à geral) e poderá ser uma das revelações desta edição da Vuelta ciclista a España.

Bitaite: 2º lugar para Remco Evenepoel a poucos segundos de Roglic. O prodígio belga soma também duas vitórias em etapas. Julian Alaphilippe cumpre e pica o ponto.

UAE Team Emirates (foto: twitter UAE Team Emirates)

A equipa mais portuguesa desta Vuelta arranca para a última grande volta do ano com dois objetivos: classificação geral e vitória ao sprint.

O chefe de fila é João Almeida, o ciclista da equipa com mais pergaminhos em provas de três semanas e que tem como objetivo atingir o pódio. Tem equipa para isso e chega com a motivação em alta. O ciclista natural das Caldas da Rainha mostrou grande forma em Burgos onde ganhou a Miguel Ángel López em Lagunas de Neila e terminou em 2º na geral atrás de Pavel Sivakov. O campeão nacional de fundo tem feito uma época muito regular, cumprindo top 10 em todas as corridas de uma semana: 5º no UAE Tour, 8º no Paris-Nice e 3º na Volta Ciclista a Catalunya. Na etapa 17 do Giro d’Italia cumpriu o distanciamento social e chegou a mais de um minuto de Carapaz e Hindley mas algum desleixo no uso de máscara e partilha de bidons fez com que fosse infectado com covid e por essa razão foi forçado a abandonar antes da partida para a décima oitava etapa quando o pódio estava ao alcance e o 4º lugar à geral seria o pior cenário possível.

Se Brandon McNulty repetir as exibições monstruosas do Tour será uma grande ajuda para o João. Em caso de quebra do português, McNulty poderá assumir a liderança da equipa. O ciclista americano tem resultados de alto nível em provas de uma semana, mas nunca liderou em grandes voltas. Tem perfil para isso e mais tarde ou mais cedo terá a sua oportunidade.

Juan Ayuso é o ciclista espanhol em que nuestros hermanos mais depositam as suas esperanças, a par de Carlitos Rodríguez. Apoio do público é coisa que não lhe deverá faltar. O jovem prodígio espanhol de apenas 19 anos é o ciclista mais jovem em prova e faz aqui a estreia em três semanas. Tem feito uma temporada muito regular e com resultados muito acima da média tendo em conta a sua tenra idade. A sua participação desperta muita curiosidade mas poderá mesmo ter ordens da equipa para perder tempo propositadamente na primeira semana e focar-se no suporte ao seu líder, libertando dessa forma alguma pressão. Se as pernas estiverem bem na segunda e terceira semanas poderá ter liberdade para tentar o sucesso em etapas.

Soler e Polanc, serão os primeiros gregários da equipa a dar a cara ao vento quando a estrada inclinar. O espanhol sabe o que é ganhar na Vuelta e pode ter uma oportunidade se o seu rádio avariar.

Pascal Ackermann esteve bem na Volta à Polónia e vem com o objetivo de garantir uma vitória nas etapas ao sprint. Juan Molano e Ivo Oliveira sabem movimentar-se e têm a responsabilidade de deixar o alemão bem posicionado com hipóteses de disputar a vitória. Nas etapas em que o alemão não consiga passar as dificuldades, o jovem colombiano terá as suas oportunidades.

Bitaite: O ciclista português cimenta o seu estatuto no pelotão internacional com mais um top 5 numa grande volta e estreia-se a vencer em 3 semanas.

Team BikeExchange - Jayco (foto: twitter Team BikeExchange - Jayco)

A BeX tem como objetivos a geral com o seu líder Simon Yates e vitória ao sprint com a jovem promessa Kaden Groves. A equipa Australiana vem de duas grandes voltas bem sucedidas em 2022, somou três vitórias em etapas no Giro d’Italia (2x Yates, Sobrero) e duas no Tour de France (Groenewegen e Matthews) e quer continuar nesse caminho. O bloco não é forte mas tem hipóteses de conquistar pelo menos uma etapa.

Yates parte para uma grande volta em grande forma, mais uma vez, mas isso não tem significado boas exibições e boas classificações em três semanas. É o regresso do ciclista britânico à Vuelta, prova em que não participa desde 2018, ano em que foi vencedor à frente de Enric Mas e Miguel Ángel López. Nas montanhas o apoio é curto, apenas poderá contar com o seu fiel escudeiro Lucas Hamilton. No contrarrelógio por equipas e nas etapas planas deverá estar bem protegido pelos roladores da equipa.

Com este bloco débil na montanha, a única forma de Simon Yates conseguir uma boa classificação geral é usar o mesmo método de 2018: alternar com o irmão Adam a partir da segunda semana.

Kaden Groves terá um comboio bastante interessante que deverá deixá-lo muito bem colocado nas etapas ao sprint. Dylan Groenewegen conseguiu calar os críticos no Tour de France logo à terceira etapa, tendo ainda ficado perto de fechar com chave de ouro nos Campos Elísios onde apenas perdeu para Jasper Philipsen. É isso que se espera do sprinter australiano: ganhar etapas. Já demonstrou que consegue bater-se com os melhores, veremos como se sairá na sua estreia em provas de três semanas.

Bitaite: Fiasco de Simon Yates na geral mas limpará a imagem com uma vitória categórica na Sierra de La Pandera. Groves também conseguirá cumprir e vencerá uma etapa ao sprint.

Groupama - FDJ (foto: twitter Groupama - FDJ)

A equipa francesa traz um conjunto capaz de lutar por etapas em todos os terrenos. A grande figura da equipa é Thibaut Pinot, que regressa à competição após um Tour de France muito combativo mas onde falhou os objetivos: etapa e camisola da montanha. O ciclista francês dará prioridade à vitória e se tiver sucesso poderá tentar a classificação da montanha.

Reichenbach, 6º no Tour de l’Ain, desta vez está livre de responsabilidades e terá liberdade para tentar a primeira vitória em grandes voltas.

Para as etapas de média montanha têm Quentin Pacher que está a fazer uma boa temporada, onde se nota uma clara evolução em corridas de um dia com destaque para os top 20 nos monumentos Milano-Sanremo e Liège-Bastogne-Liège. O bom desempenho recente na Volta a Polónia é sinal de boa forma e tem aqui algumas etapas que encaixam perfeitamente. Rudy Molard (pódio no Tour de l’Ain) é outro nome a ter em conta. Além dos dois bons desempenhos recentemente, estes dois ciclistas têm obtido bons resultados em corridas de um dia em 2022. Ambos têm boa ponta final.

Jake Stewart estagnou a sua evolução após o incidente com Nacer Bouhanni em Cholet-Pays de la Loire em Março de 2021 e o facto do boxeur francês não estar presente nesta edição da La Vuelta deixará o jovem britânico mais à vontade para arriscar nos sprints.

O homem rápido da equipa parece ter ultrapassado o trauma, está a ter resultados positivos nesta temporada, culminados com a vitória na primeira etapa do Tour de l’Ain. Com o suporte de Armirail, Scotson e Lienhard, pode surpreender.

Bruno Armirail é o campeão francês de contrarrelógio, derrotando Rémi Cavagna e Benjamin Thomas, e pode almejar a um bom resultado no ITT da etapa 10.

Bitaite: O bloco francês voltará a França de mãos a abanar.

Astana Qazaqstan Team (foto: twitter Astana Qazaqstan Team)

Época penosa para a equipa cazaque, que ainda não conseguiu qualquer vitória WT. Nibali salvou a honra da equipa no Giro d’Italia com o 4º lugar na GC. Lutsenko conseguiu ficar no top 10 do Tour de France, apesar do bloco que foi a França ser muito fraco.

Miguel Ángel López é o chefe de fila e conta com um bloco muito forte: três dos sete companheiros sabem o que é ganhar na Vuelta. O ciclista colombiano, 3º em Burgos, quer limpar a imagem deixada no Giro com o abandono precoce. É o melhor trepador puro em competição — atrás de Mark Padun, claro — mas as suas limitações nos contrarrelógios fazem com que seja difícil sair vencedor no final.

Vincenzo Nibali faz aqui a última grande volta da carreira. O foco está no suporte a MAL mas se sentir cheiro a sangue, o Tubarão de Messina não hesitará.

Alexey Lutsenko e David de la Cruz são nomes fortes e que conhecem bem estes terrenos, prevendo-se que sejam fundamentais no apoio a Miguel Ángel López.

Battistella tarda em explodir, apesar dos bons resultados nos últimos dois anos. A vitória em etapa numa grande volta é uma questão de tempo e quem sabe se não será já nesta edição da Vuelta.

Bitaite: Pódio na geral e vitória em etapa para Miguel Ángel López.

Team DSM (foto: site Team DSM)

A equipa neerlandesa dificilmente repetirá o sucesso da edição do ano passado, em que conquistou três etapas com Storer (sétima e décima etapa) e Bardet (décima quarta etapa). Este bloco é uma combinação de juventude e experiência e procuram a vitória em etapa bem como uma boa classificação para Thymen Arensman, uma das maiores revelações do ano como voltista.

O jovem de apenas 22 anos chega à Volta a Espanha com a confiança em alta após o 2º lugar na Polónia, onde venceu o ITT. O desempenho na última semana do Giro deixou água na boca e expectativas elevadas para o futuro. Arensman é o protótipo de voltista moderno, ciclista completo que sobe bem e é fortíssimo no contrarrelógio.

Marco Brenner de apenas 19 anos é o segundo ciclista mais jovem em prova e faz aqui a sua estreia em três semanas. Parte sem qualquer pressão e apenas com o objetivo de ganhar experiência.

Mark Donovan e Henri Vandenabeele são jovens trepadores com bastante potencial e tentarão estar junto de Arensman até que haja pernas para isso.

Nikias Arndt sabe o que é ganhar nesta competição e é a melhor carta da equipa para ganhar uma etapa.

John Degenkolb é o segundo ciclista presente nesta edição com mais vitórias em etapas na prova com dez êxitos, apenas atrás de Valverde que soma 12. Já não é o ciclista de outrora mas contribuirá com ensinamentos para os jovens da equipa.

Bitaite: Arensman terminará perto do top 10 e com uma etapa no bolso. Arndt também irá levantar os braços, em mais uma La Vuelta muito bem sucedida por parte da DSM.

Bahrain - Victorious (foto: twitter Bahrain - Victorious)

A Bahrain parte para esta Vuelta com um bloco muito forte, à semelhança do que tem acontecido em todas as grandes voltas dos últimos anos. Mikel Landa lidera o alinhamento com o objetivo de repetir o pódio do Giro.

O ciclista espanhol não deslumbrou no Giro d’Italia  — qual landismo qual carapuça —  mas foi subindo de forma e, aproveitando alguns abandonos da concorrência, terminou no 3º lugar com mais de cinco minutos de vantagem para o 4º classificado, Vincenzo Nibali.

Gino Mader, que está a fazer uma temporada decepcionante com a excepção do 2º lugar na Romandia, parte como co-líder. O suiço fez 5º à geral na última edição, tendo uma terceira semana de grande nível no suporte ao líder Jack Haig, que fechou pódio atrás de Roglic e Mas.

Santiago Buitrago e Fred Wright estão a ter a temporada de afirmação, com prestações de alto nível no Giro e no Tour, respetivamente. O colombiano que soma três vitórias esta época (Saudi Tour, Giro d’Italia e Vuelta a Burgos) tem algumas etapas mesmo ao seu jeito e se estiver na forma do Giro, dificilmente sairá de Espanha sem levantar os braços. Já o britânico procura aqui a sua primeira vitória WT depois de ter estado perto na décima terceira etapa do Tour, onde só perdeu ao sprint para Mads Pedersen.

Wout Poels e Luis León Sánchez são os dois veteranos da equipa. O neerlandês pode ter a camisola da montanha na mira.

Bitaite: Vitória em etapa para Santiago Buitrago e falhanço total da equipa em termos de classificação geral.

Trek - Segafredo (foto: twitter Trek - Segafredo)

O conjunto norte-americano parte para esta Vuelta a Espanha com dois objetivos muito concretos: repetir o top 10 de Juan Pedro López no Giro e a vitória de etapa com Mads Pedersen no Tour.

López é um jovem promissor muito regular que já demonstrou ter capacidade para andar bem em três semanas. O espanhol terá o suporte de Bernard, Cataldo, Elissonde e Tiberi, que estarão focados em proteger o chefe de fila até que haja capacidade, depois no momento da verdade o espanhol terá de mostrar o seu valor para conseguir acompanhar os melhores e limitar as perdas em caso de dificuldades se quiser terminar dentro do top 10.

Antonio Tiberi tem apenas 21 anos, faz a sua estreia em grandes voltas e por isso parte sem pressão. Se souber dosear bem o esforço pode surpreender. O jovem ciclista italiano esteve com os melhores na Settimana Internazionale Coppi e Bartali, terminando no top 5 da geral. Estreou-se a vencer na etapa rainha do Volta a Hungria, tendo ficado à frente de nomes como Eddie Dunbar, Óscar Rodríguez e Samuele Battistella.

Mads Pedersen é um dos homens mais rápidos do pelotão e passa bem as dificuldades, pelo que não deverá ter grandes problemas em estar na luta mesmo não tendo um comboio ao nível das equipas dos outros sprinters. O dinamarquês vai sentir a falta de Stuyven mas isso não deverá impedir uma vitória e um par de pódios.

Bitaites: A equipa cumprirá os objetivos mínimos: JP López dentro do top 15 e Pedersen ganha uma etapa.

EF Education-EasyPost (foto: twitter EF Education-EasyPost)

A equipa de Jonathan Vaughters chega a esta edição com o foco na classificação geral. A liderança tripartida com três corredores que sabem o que é fazer pódio em grandes voltas impõe respeito: Rigoberto Urán (2º no Giro 2013, 2º no Giro 2014 e 2º no Tour 2017), Hugh Carthy (3º na Vuelta 2020) e Esteban Chaves (2º no Giro 2016 e 3º na Vuelta 2016).

A temporada não está a correr de feição à equipa, que conta apenas duas vitórias WT: Stefan Bissegger no ITT do UAE Tour e Magnus Cort na décima etapa do Tour de France.

Urán está a ter uma temporada discreta, mas o ciclista colombiano diz que se sente bem após uma Volta a França em baixa e o recente 9º lugar na Donostia San Sebastian Klasikoa corrobora essas afirmações. Já com 35 anos, esta será uma das últimas oportunidades para Rigo fazer um bom resultado em três semanas. Esta é a única das três grandes voltas em que o colombiano não conseguiu conquistar nenhuma etapa.

Hugh Carthy é outro corredor com uma temporada para esquecer. O britânico não ganha nem disputa verdadeiramente nenhuma etapa desde a vitória em Lagunas de Neila na Vuelta a Burgos do ano passado. O filho bastardo de Steve Buscemi esteve bem na última semana do Giro e se estiver nessa forma lutará pelo top 5 nesta Vuelta.

Chaves está a ter uma boa temporada de estreia na EF. De volta a uma prova que conhece bem e onde foi um dos grandes destaques da última década, terminar no top 10 ou com uma vitória na etapa seria um reviver dos velhos tempos.

Caicedo, Padun e Kudus são ciclistas que sobem bem e formam um belo bloco de suporte na montanha enquanto que Van den Berg e Shaw serão fundamentais na proteção aos seus líderes na primeira semana.

Bitaite: Etapa e montanha para Ruben Guerreiro, se participasse claro. A equipa norte-americana sairá de Espanha de mãos a abanar mas Hugh Carthy cumprirá o objetivo mínimo do top 10 na geral.

Alpecin-Deceuninck (foto: twitter Alpecin-Deceuninck)

A equipa Pro Continental que vai estar no World Tour no próximo ano apresenta-se com uma equipa centrada em Merlier, que vai abandonar a equipa no final desta temporada.

O sprinter belga, que vai sentir a falta de Jonas Rickaert, quer repetir o sucesso do Giro e Tour em 2021 onde conquistou uma etapa em cada corrida. O padrão é óbvio: vitória na primeira etapa ao sprint e abandono pouco depois. Isso não deverá mudar, sendo o sprinter mais forte e com um comboio razoável é o grande favorito à vitória logo nas etapas 2 e 3, disputadas nos Países Baixos. A próxima chance surge já em terreno espanhol, apenas na 11ª etapa. A etapa que termina em Cabo de Gata é o local ideal para o belga ter o abandono do costume e entrar de férias mais cedo.

Jay Vine leva já dois segundos lugares esta temporada em provas de uma semana (Volta a Turquia e Volta a Noruega) e é um dos nomes mais falados para a camisola da Montanha.

Robert Stannard, com a confiança nos píncaros após a vitória na Volta a Valónia, tem aqui algumas etapas do seu agrado e se as pernas permitirem irá arriscar.

Gianni Vermeersch e Xandro Meurisse são dois belgas mais experientes que também podem ter uma ou outra oportunidade.

Bitaite: Vitória para o melhor sprinter em prova seguida de abandono para férias na costa espanhola.

Team Arkéa Samsic (foto: twitter Team Arkéa Samsic)

Centrada em Nairo Quintana, a equipa continental terá como objetivo um bom resultado do colombiano na geral individual, não descurando eventuais oportunidades nas fugas de média montanha.

Nairoman fará a sua 7ª participação numa corrida que lhe traz boas memórias: camisola roja em 2016 e duas etapas ganhas (2016 e 2019). A experiência do bloco francês fica por aqui: todos os seus sete colegas fazem a estreia nesta competição.

O colombiano de 32 anos está a fazer uma temporada de alto nível: começou o ano com vitórias no Tour de la Provence e no Tour des Alpes Maritimes du Var, seguidas de honrosos 5º lugar no Paris - Nice e 4º na Volta Ciclista a Catalunya. Em Abril, uma queda na Presidential Cycling Tour of Türkiye fez com que tivesse de dar um passo atrás na sua preparação para a Grand Boucle mas conseguiu voltar em boa forma com o 7º lugar na La Route d'Occitanie - La Dépêche du Midi. No Tour terminou em 6º, falhando o top 5 por menos de 1 minuto, atrás de Aleksandr Vlasov. O bloco que o acompanha não é o melhor, o que torna mais difícil a missão de conseguir uma boa classificação geral.

*Nairoman foi tramado pelo Tramadol. A União Ciclista Internacional (UCI) informou que desqualificou Nairo Quintana da Volta a França 2021 depois do colombiano ter dado positivo a essa substância proibida. Na sequência desta situação, o corredor da Arkéa Samsic anunciou que não participará na Vuelta para preparar a sua defesa ante o TAS.

Élie Gesbert é o colega mais forte de Quintana e tem conseguido bons resultados nas corridas em terreno espanhol. Tem capacidade para ganhar uma etapa mas nas etapas mais complicadas o seu foco será o suporte ao seu chefe de fila.

McLay é o sprinter da equipa, num dia bom pode fazer pódio.

Bitaite: Nairo Quintana ficará fora do top 10 e o foco na 3ª semana será a conquista de uma etapa, sem sucesso.

Burgos-BH (foto: twitter Burgos-BH)

A equipa terá um teste de fogo logo na primeira etapa (contrarrelógio por equipas) onde terão de dar o que têm e o que não têm para chegar dentro do tempo limite.

Capitaneada pelo veterano Daniel Navarro, é claramente a equipa mais fraca em competição. Tem de fazer valer o seu estatuto wildcard – muito discutível e discutido – e deverão tentar meter gente na fuga sempre que possível. Madrazo*, Bol e o ex-triatleta Okamika deverão ser os mais ativos nesse sentido.

*Ángel Madrazo testou positivo à covid19 e foi substituido por Langellotti.

José Manuel Díaz é o ciclista mais forte da equipa e faz aqui a sua estreia em grandes voltas. O ciclista espanhol – vencedor da Volta à Turquia no ano passado – fez toda a carreira fora de Espanha mas voltou ao país de origem depois da UCI retirar a licença da Gazprom-RusVelo na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia no início do ano. Díaz teve bons desempenhos recentemente no Troféu Joaquim Agostinho e na Vuelta a Burgos pelo que tentará fazer uma boa classificação geral: top 20. O ciclista para as chegadas rápidas será Peñalver*.

Bitaite: Muitos quilómetros na frente em fugas condenadas à partida e Peñalver* com um par de top 10 será o melhor que conseguirão levar desta prova.

*A Burgos BH começará a Vuelta com apenas sete corredores. Peñalver testou positivo num teste PCR.

Equipo Kern Pharma (foto: twitter Equipo Kern Pharma)

A equipa continental espanhola é a equipa mais jovem em prova, com média de idades inferior a 25 anos. Todos os elementos da equipa fazem a sua estreia na principal prova espanhola sendo que sete dos oito ciclistas cumprem os requisitos de idade para disputarem a camisola da juventude.

Héctor Carretero, ex-Movistar, é o ciclista mais experiente da equipa e tem apenas 27 anos. É o único ciclista da farmacêutica que já participou em provas de 3 semanas (Giro d’Italia 2019 e 2020).

Um bloco jovem significa muita energia e vontade mas também muita inexperiência a este nível. O destaque da equipa de Pamplona é Roger Adrià, 5º classificado no campeonato nacional de estrada e vencedor de etapa na La Route d'Occitanie-La Dépêche du Midi, à frente de nomes respeitados como Michael Valgren e Julien Simon.

O surpreendente campeão espanhol de contrarrelógio de apenas 21 anos, Raúl García Pierna, terá o privilégio de envergar a camisola de campeão nacional na prova rainha do seu país.

Bitaite: Pódio em etapa para Roger Adrià e muita experiência acumulada para os jovens ciclistas.

Euskaltel - Euskadi (foto: twitter Euskaltel - Euskadi)

2022 está a ser um ano em alta para a equipa espanhola que conta já com duas vitórias, ambas na melhor prova ibérica: a mítica Volta ao Alentejo. Deste modo as expectativas estão elevadíssimas e a equipa tudo fará para cumprir os objetivos: envergar a camisola laranja enquanto debitam muitos watts em fugas mal sucedidas debaixo de sol abrasador.

Mikel Bizkarra está a ter uma época razoável e poderá tentar repetir o top 20 de 2018.

Todos os restantes elementos da equipa terão o seu foco em entrar nas fugas sempre que possível.

Luis Ángel Maté, natural de Marbella, doará 100 árvores além de mais uma por cada quilómetro percorrido na fuga. Iniciativa que surge na sequência do terrível incêndio na Sierra Bermeja no ano transacto. Esperam-se muitos quilómetros na frente por parte do veterano espanhol.

Xabier Mikel Azparren (2º na Volta ao Alentejo) e Joan Bou (2º no GP Internacional Torres Vedras-Trofeu Joaquim Agostinho) são jovens com potencial e podem surpreender num dia para a fuga.

Bitaite: Um par de prémios de combatividade diários é o melhor que levarão nestas 3 penosas semanas.