6 razões para Pogačar vencer a Milano-Sanremo
Na última edição, a UAE e o esloveno falharam por culpa própria.

O primeiro Monumento do ano está quase aí e o cartaz deste ano é Tadej Pogačar. Toda a gente vai estar de olhos postos na UAE Emirates e no campeão do mundo. 5.º em 2022, 4.º em 2023, 3.º em 2024. Aproxima-se cada vez mais do 1.º mas, por outro lado, a cada oportunidade perdida a conquista do Monumento mais imprevisível complica-se. É o chamado Paradoxo de Sanremo.
Os catorze vencedores distintos nas últimas catorze edições — o último cromo repetido foi Oscar Freire, tri-campeao, que venceu em 2004, 2007 e 2010 — comprovam a imprevisibilidade desta corrida. São quase 300 quilómetros onde tudo o que interessa acontece nos últimos 30, percorridos a full gas. Nessa fase decisiva tudo pode acontecer e tudo muda muito depressa. Dinamite no Poggio? Late attack na descida? Bluff para sprint? O desfecho da corrida só se sabe quando o primeiro ciclista corta a linha de meta.

Na última edição, a UAE e o esloveno falharam por culpa própria — mas também devido a um Mathieu van der Poel superlativo que conseguiu secar Pogačar e guiar Jasper Philipsen à vitória num sprint emocionante. Culpa própria porque não levaram a melhor equipa possível, muito pelo contrário. Hirschi não acrescentou valor; Ulissi e Covi já não estavam à altura destes desafios. A corrida tinha de ter sido muito mais endurecida na Cipressa e o ritmo de um tal neo pro chamado Isaac del Toro na sua primeira corrida acima dos 230 quilómetros não foi suficiente para descolar os sprinters. Claramente, por excesso de confiança, na sequência do triunfo lendário na Strade Bianche com o ataque a 81 quilómetros da meta, mas enfim, a UAE Emirates aprendeu com esse erro crasso e não voltou a dar abébias — Pogi venceu tudo a partir daí, excepto o GP de Québec.
𝙀𝙫𝙚𝙧 𝙛𝙖𝙨𝙩𝙚𝙧, 𝙚𝙫𝙚𝙧 𝙘𝙡𝙤𝙨𝙚𝙧⚡️🔥
— Milano Sanremo (@Milano_Sanremo) February 28, 2025
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Vegard Stake Laengen
O guarda-costas norueguês de Tadej Pogačar é um dos corredores mais altos do pelotão (195cm) mas é discreto, não levanta ondas, é simpático. Não acrescenta, mas também não compromete, e uma equipa campeã precisa sempre de um elemento destes, sem ego e com um bidon cheio sempre pronto a ser providenciado.
Jhonatan Narváez
O campeão equatoriano teve um super 2024 e a UAE Emirates abriu os cordões à bolsa para recrutar este talento com características que faltavam à equipa. Conta ainda, no meu ver, com alguma margem de progressão. Tornou-se num corredor menos azarado e mais ganhador, e isso implica mais ego, mais ratice.
Se a equipa souber equilibrar o seu calendário e os seus objetivos pessoais, será um reforço topo de gama. Aqui o foco é o seu chefe de fila. Vai ser fundamental na fase decisiva da corrida.

Domen Novak
O campeão esloveno — com 7:33 de vantagem para Pogačar! — é outro corredor low profile que dá tudo o que pode em prol do seu líder. É ele que vai dar o peito ao vento juntamente com Laengen.
Nils Politt
Imprescindível em clássicas deste nível. Seja como líder ou gregário, a UAE Emirates não se pode dar ao luxo de abdicar da Girafa alemã. É um dos ciclistas mais relevantes do pelotão nesta altura do ano — no ano passado foi só 4.º na Ronde e 3.º em Roubaix — mas na semana de Sanremo andou a rolar nos granfondos de Denain e Bredene. Essa ausência fez zero sentido — já tinha mostrado boa forma com o 2.º na Omloop, e em 2023, ainda na BORA, tinha feito uma MSR muito positiva.
Isaac del Toro
El torito é um jovem mexicano que já está debaixo dos radares do falso plano desde 2023, quando nos impressionou no Tour de l'Avenir. Em 2024, entrou a todo o gás no WT com uma surpreendente vitória na segunda etapa do Tour Down Under, num arrojado ataque tardio em Lobethal. Na Figueira, teve a audácia de perseguir Remco Evenepoel, acabando por rebentar nos últimos quilómetros. E foi um pouco disto ao longo da temporada, exibições anormais para um neopro intercaladas com quebras naturais da idade e de uma fase em que ainda está a conhecer os seus limites.
Foi lançado às feras nesta corrida de praticamente 300 quilómetros quando nunca tinha feito nenhuma acima dos 230, fez o que pôde e não foi por ele que o plano da UAE saiu furado. Veremos se o Pogi terá pernas para seguir na roda dele na Cipressa.
Tim Wellens
É um ciclista old school que se farta de ganhar. Adaptou-se lindamente à UAE Emirates depois de mais de 10 anos na Lotto, onde era uma das figuras da estrutura belga. Agora tem um calendário dividido entre o papel de gregário (de luxo) e a liberdade para ir à procura de vitórias, mas uma coisa é transversal aos dois momentos: dá sempre tudo e raramente não apresenta resultados. O Pogačar adora-o e nós também.

De acordo com o Ciro Scognamiglio (La Gazzetta dello Sport) é este o sexteto que vai acompanhar o maestro esloveno até ao seu solo. Desta vez a Cipressa não pode ser feita em allegro moderato senão não conseguirão baixar dos 9 minutos.
A orquestra volta a não ser a melhor possível: as ausências de Juan Ayuso, em grande forma — venceu 3 das 4 corridas em que participou —, e Brandon McNulty, que volta a adoecer antes desta corrida — está de backup, é certo, mas parece cada vez mais distante de Pogačar —, fazem pouco sentido e eram dois nomes fortes para fazer a diferença na Cipressa. Adicionalmente, eu colocaria Florian Vermeersch e Rui Oliveira nos lugares de Domen Novak e Vegard Stake Laengen, mas não é por aí que não vão ter sucesso.
Ainda assim, apresentam-se em Pavia com um bloco confiável e que vai dar ao esloveno condições para vencer este Monumento. É por isto, e não só, porque é o melhor ciclista do mundo, que Pogačar vai conquistar Sanremo pela primeira vez.